Pode parecer estranho se incomodar com uma coisa muito específica de um filme como Esquadrão 6 (6 Underground, 2019), a estreia de Michael Bay na Netflix. Articulado para seu próprio público, que provavelmente já sabe o que esperar e não deve se surpreender, esta não é uma obra que se possa dizer decepcionante. E, na sua sequência de ação inicial, me pareceu até cativante dentro do universo que se propõe a criar. É anacrônico, certamente. É pouco inteligente, talvez (não falo só do texto, mas da forma fílmica). Mas é algo além dessas coisas também, sempre é.
A forma do filme é um ponto de partida interessante para começar a pensar mais sobre ele. É conhecido o movimento crítico que reivindica Michael Bay como um autor. E isso não se dá por acaso. De fato, o que se apresenta é algo de um estilo muito marcado, muito, por assim dizer, autoral. A montagem é o que mais se destaca nesse sentido. Lógico, os cortes de todas as cenas são frenéticos, sejam essas cenas de ação ou não. Mais do que isso, no entanto, o modo como Esquadrão 6 se articula narrativamente indica um fenômeno muito interessante de montagem. O filme se divide em capítulos, mas é pouco claro a que essa divisão se refere; superficialmente, podemos dizer que esses “capítulos” introduzem os personagens, só que esses personagens já foram introduzidos uma vez antes e essa segunda introdução nunca realmente se justifica, em nenhum caso. Há um passeio por entre flashbacks que não se amarram bem com o contexto em que eles ocorrem. E há alguma coisa desconjuntada na própria organização da trama.
Esse problema da forma fílmica encontra ainda uma afirmação política que, se formos generosos, podemos chamar de ingênua, mas que, de fato, está mais próxima do nefasto. Esquadrão 6, afinal, é a história de uma equipe secreta que age para derrubar pessoas “malvadas, realmente malvadas, não só quem o governo decide que é malvado por questões políticas”. A habilidade dos personagens – e do filme, que os celebra – de decidir qual é esse mal verdadeiro é deslumbrante. Como a missão que toma maior parte da duração, esses heróis autônomos decidem que devem dar um golpe de estado no ditador de um país cujo nome é muito parecido com Tajiquistão.
O protagonista, que responde apenas por “Um” (Ryan Reynolds), é um bilionário, como ele mesmo nos diz nas narrações em off expositivas que surgem inesperadamente durante o filme e que parecem não ter início, meio ou fim. Mas, lógico, “Um” não percebe nesse fato sobre ele mesmo uma questão política ou um problema burocrático, mas uma simples e pura oportunidade de fazer o bem que “os governos não podem fazer”. Esquadrão 6 tem um simplismo cínico na maneira como desenvolve esse tipo de posição. Nem o antagonismo entre o “lado bom” e o “lado sombrio” da força", a que nos acostumamos a ver na saga de Star Wars, consegue ser tão maniqueísta – e ele com certeza não é tão soberbamente ignorante.
É realmente curioso, ainda assim, que Bay, que nunca escondeu em sua filmografia sua exaltação ao exército estadunidense – e o que já resultou em filmes razoavelmente bons, como Armageddon (idem, 1998) –, escolha aqui recorrer a uma força além das forças armadas. Lógico, a celebração do indivíduo estadunidense está intimamente ligada, na história política e cultural do país, a um enaltecimento da nação. Mas Esquadrão 6 não consegue elaborar essa distinção bem o bastante para colocá-la em cena, o que faz da missão dos personagens incoerente e delirante.
Enfim, nós voltamos para o que está mais evidente em Esquadrão 6: seu anacronismo e sua sandice. Efetivamente, a sua maior qualidade é quando por ventura ele se assemelha a uma obra de meados dos anos 1990 (ou talvez um videoclipe do início dos anos 2000). Mas isso não é levado adiante, em grande parte porque o filme não é capaz de sustentar uma identidade estética para além do nome de Bay. Esta é uma obra tão genérica, no pior dos sentidos, quanto o tipo de humor que tenta vender com piadas triviais. Que não haja engano: há ótimos filmes feitos no gênero – o fato de que estamos há 20 anos acompanhando uma série fílmica como Velozes e Furiosos já indica isso –, mas inabilidade e obscurantismo formam mesmo uma dupla cruel.
Concordo plenamente. O filme demora praticamente 1 hora pra começar, parece que fica eternamente na introdução. E não venham com essa de “cumpre a sua proposta”, porque as cenas de ação são péssimas e pouquíssimo divertidas.
O filme já seria 10x melhor se eles mostrassem primeiro o Ryan Reynolds recrutando o esquadrão e explicando o motivo de cada um para ter aceitado essa idéia.
Do jeito que foi apresentado é impossível ter empatia com esse esquadrão e o que sobra são várias cenas de ação desconexas onde estamos cagando se algum membro sobrevive ou não.
O pior trabalho de Michael Bay (Imagine a desgraça que isso significa). Assino embaixo do comentário dos colegas.
Filme fraquinho, mas tem cenas de ação bem empolgantes. Só isso que presta a ação.