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Espiã Vermelha, A

(Red Joan, 2018)
5,7
Média
9 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Mediocridade com grife

4,5

Nascida de pai lituano e mãe inglesa em 1912, Melita Norwood era mais do que secretária da Associação de Pesquisa de Materiais Não-Ferrosos da Inglaterra; de meados da década de quarenta até o início da década de 70, foi uma das espiãs mais longevas da União Soviética dentro das fronteiras britânicas. Foi exposta por Vasili Mithrokin em 1999, seis anos de sua morte, mas nunca foi julgada por seus atos pela Corte de seu país. Afirmava não se arrepender dos seus atos e nunca ter ganho nada com os serviços de espionagem, que segundo fontes, repassou informações mais importantes que o conhecido grupo de agentes soviéticos Cambridge Five.

Agora, sua vida ganha uma versão cinematográfica sob a forma de A Espiã Vermelha, onde através do roteiro escrito por Lindsay Shapero (A Rebelião dos Bárbaros) adaptado do romance de Jennie Rooney, o diretor de teatro Trevor Nunn comanda seu primeiro projeto para cinema desde Noite de Reis (1996), onde narra a história de Joan Stanley, uma idosa que é levada pela inteligência britânica para interrogatório, sob a suspeita de ser uma espiã soviética.

Seu filho, indignado com o tratamento dispensado à mãe, parece não acreditar quando a mesma começa a narrar a história de sua vida e admite ter se envolvido com o Partido Comunista na faculdade através da amiga Sonya e o caso amoroso Leo. Depois, arrumou um emprego na pesquisa de metais que na verdade era uma fachada para pesquisas atômicas. Lá conhece o grande amor de sua vida, Max. Porém, as constantes investidas de Leo e a sede por poder da Grã-Bretanha acabam motivando-a a vazar os programas atômicos para o país rival.

A Espiã Vermelha não é muito bem sucedido ao contar uma história individual da Guerra Fria por quem realmente esteve lá. Pelo contrário, o que o roteiro faz constantemente é tirar a autonomia de sua personagem principal: seus envolvimentos românticos que motivam suas decisões. Ao lado do namorado comunista, seu instinto revolucionário desperta. Ao lado do caso mais maduro, passa a valorizar a ciência acima de tudo.

Além disso, é um filme essencialmente burocrático. A lendária Judi Dench no papel da versão mais velha da protagonista não faz muito além de atuar de maneria completamente reativa, enquanto sua versão mais jovem, feita por Sophie Cookson (Kingsman: Serviço Secreto) fica com a maior parte do trabalho, que infelizmente se dedica boa parte do seu tempo a sofrer de amor em um triângulo amoroso muito genérico entre ela, um “bad boy” manipulador e um cientista “bonzinho” e sincero.

Nem todos os gatilhos convencem - a jovem Joan já havia reconhecido que possuía uma relação tóxica e abusiva com um homem que se aproveitava de sua posição e de seus sentimentos para conseguir informação, mas a morte do mesmo a motiva a voltar a vazar informações para os soviéticos.

Por isso mesmo, fica um tanto  estranho quando o filme argumenta que ela agiu como agiu na verdade por conta da intenção “nobre” de “equilibrar a balança”, fazendo com que tanto o Ocidente quanto atrás da Cortina de Ferro os líderes se beneficiassem dos segredos atômicos. Não faz sentido, pois é uma jornada afetiva e emocional da protagonista alterando seu comportamento sempre que está com um novo caso amoroso. Uma protagonista impotente e que não é senhora de suas escolhas, em um filme que incorre no mesmo erro dramatúrgico de Lou, onde Lou-Andreas Salomé era nada mais que uma mulher que se relacionou com homens famosos como Nietzsche, Rilke e Freud.

A Espiã Vermelha cai na vala das cinebiografias medíocres, limitando o protagonista à encarnação de uma ideia motivacional (superar as dificuldades, fazer o que acredita e afins), não se importando tanto com a construção de uma personalidade complexa. Toda e qualquer área de cinza não só pode como irá ser dissolvida em uma maré de closes, música emocional e inúmeros flashbacks. E por conta disso mesmo que esse tipo de filme pareça tão pobre, pois esquece a humanidade atrás da figura e vê apenas o martírio, infinitamente mais heróico, mas também muito mais fácil e caça-níquel. Muitos filmes padecem pela extrema reverência à fôrma de gênero onde foram moldados e nesse caso não é diferente; tão mediano que é esquecível.

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