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Críticas

Cineplayers

As possibilidades de horror em Os Escolhidos.

6,0

Se o horror provindo do cinema hollywoodiano vem desapontando muito no cinema, salvo por uma produção ou outra esquecida em semanas, então pode-se dizer que esse Os Escolhidos (Dark Skies, 2013) é um sopro de fé sobre o gênero, ainda que longe de ser significativo. Semanas seguintes ao seu lançamento, veio Invocação do Mal (The Conjuring, 2013) que ganhou aceitação de boa parte da crítica, diminuindo a atenção sobre ele. Encontrando limitações narrativas e afetado por uma fotografia tradicional que não garante um clima obscuro diferenciado uma vez que soa como extensão de longas semelhantes, o filme se encontra graças a condução de seu diretor que o leva a um patamar superior do suspense de expectativa, abrigado por boas atuações, clímax corajoso e pela montagem que oferece bons momentos de arrepio, embora curtos e certamente triviais.

Scott Stewart é quem escreve o roteiro e dirige a fita. É dele o grotesco Padre (Priest, 2011), o que me fez automaticamente esperar desesperançoso seu novo projeto. E se expectativas em demasia costumam frustrar, o contrário também acontece. Filmes do estilo requerem a crença de seu público para terem algum valor de gênero, o terror em forma e ação. Também dependemos da fé cênica dos atores, e isso é um ponto positivo aqui. Podemos nos permitir fazer parte do universo projetado, compartilhar da ficção e entrar na onda do absurdo, seja com demônios, espíritos, demais figuras folclóricas e extraterrestres. Esse último é o que se apresenta.

A história não traz lá nenhuma grande novidade. Uma tradicional família de um subúrbio vem notando coisas verdadeiramente estranhas acontecer em casa, especialmente com o filho mais novo que anda relatando ter contato com figuras inexistentes. Especula-se Sandman – o João Pestana, para os brasileiros – e seu mito, mas tudo vai além. O cume se dá quando bandos distintos de pássaros se chocam contra a casa onde moram. Um especialista em ufologia aparece – o ótimo veterano J.K. Simmons, numa interpretação bizarra – alertando o quanto esses eventos são comuns com algumas famílias e que o final nunca acaba bem. Registros de desaparecimentos em vários cantos do globo são colecionados pelo excêntrico velho. A família busca reverter o aviso.

Keri Russell e Josh Hamilton se mostram empenhados a não se aterem a vícios de interpretação, cumprem bem o papel de viver os pais preocupados com os dois filhos expostos à magia tenebrosa local. O enlouquecimento retratado é coletivo, acompanhamos a progressão e o quanto isso afeta os nervos conjuntos numa família que convive com dificuldades e incertezas sobre o futuro, algo trabalhado como forma de empatia, aproximando o espectador dos personagens. A lógica da produção se equivale a horrores semelhantes tais como Sobrenatural (Insidious, 2010) e Possessão (The Possession, 2012) por hipóteses explicativas implicadas na descrença, o que permite embates tanto dentro do filme quanto fora dele.

Comparado a outras obras, essa não visa o susto a qualquer custo, fazendo uso exacerbado de trilha sonora potente ou manjados recursos que implicam em previsíveis sobressaltos. O roteiro também não é um dos mais inovadores dentro da proposta, encontrando saídas óbvias para o que cria. A montagem por sua vez favorece as pretensões narrativas, explicitando tudo com competência didática. É uma boa história que abre margens interpretativas, conciliando real e imaginário com a sanidade dos envolvidos posta a prova. Algumas questões propostas pelo roteiro ficam à deriva – o desemprego/emprego do personagem de Hamilton veio para quê mesmo? – e a escuridão com suas abstratas possibilidades presenciais parecem ser mesmo o melhor mecanismo de tensão. E como irrita quando os realizadores demonstram não acreditar na inteligência de seu público e enfiam flashbacks buscando explicar o que por si só fora inteligível ao longo da narração. São escolhas óbvias e importunas que comprometem o resultado da obra que se arrasta pra conseguir ser levada a sério.

Comentários (6)

Alexandre Koball | segunda-feira, 21 de Outubro de 2013 - 13:34

Sai em home video amanhã. Parece uma bela duma... mas só vendo mesmo, claro!

Alexandre Koball | quarta-feira, 23 de Outubro de 2013 - 07:42

Vi ontem, é bem fraquinho realmente.

Alexandre Koball | quarta-feira, 23 de Outubro de 2013 - 07:56

Trata-se de uma sombra fraca de Sinais (obra-prima sobre o tema) e gostei apenas que o roteiro segura sustos (embora faça sim uso de som alto repentino para criar momentos de susto).

Gustavo Hackaq | quinta-feira, 24 de Outubro de 2013 - 06:46

Again: Terror esse ano tá uma lástima.

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