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Críticas

Cineplayers

Monótono e com roteiro atropelado, Eragon é uma fantasia medieval absolutamente dispensável.

3,0

Em minha crítica sobre As Crônicas de Nárnia, comentei que, após o sucesso das franquias Harry Potter e O Senhor dos Anéis, os produtores não perderiam tempo e lançariam para as telas de cinema qualquer coisa do gênero fantasia que: (1) existisse na literatura, (2) pudesse ser licenciada e (3) tivesse o mínimo interesse do público, antes que tal interesse ficasse disperso para outros gêneros e as pessoas voltassem a deixar de gostar tanto de fantasia. Eragon é o primeiro de uma trilogia (!!!) que nem terminou de ser escrita. O autor, Christopher Paolini, era praticamente um adolescente quando publicou o primeiro volume, e suas principais influências são Star Wars, Duna e O Senhor dos Anéis, o que é bem evidente em Eragon, e isso, não necessariamente, é bom.

Apesar de seu autor ter aparente talento precoce, na realidade Eragon, da forma como foi apresentado nesta versão para o cinema, pode ser muitas coisas, menos engenhoso. Seu herói principal, um rapaz camponês que tem que lidar repentinamente com um dragão para salvar os oprimidos de seu mundo é uma figura simpática, mas que não apresenta características nada originais ou excepcionalmente interessantes. O vilão (John Malkovich) possui um número limitadíssimo de cenas e parece que nem existe de fato. Seu exército é simplesmente uma cópia piorada dos orcs de Tolkien. A mitologia do mundo é deveras rasa e em nenhum momento seus povos e as crenças deles são apresentadas com o mínimo de profundidade. Inclusive os elfos e anões citados em determinado momento nem dão as caras.

Com tamanha superficialidade, fica complicado achar aspectos positivos. O elenco parece perdido, pois o filme visivelmente pula trechos inteiros da jornada de Eragon e os objetivos dos personagens nem sempre ficam claros. Culpa da adaptação provavelmente, mas é um erro grave. Eu simplesmente não consegui adquirir simpatia alguma pelo dragão e Eragon, ainda que o filme tenha se esforçado para torná-los um time forte, com o uso de humor (de bom gosto, mas infelizmente sem muita graça). O dragão, aliás, é bastante arrogante com o personagem de Jeremy Irons (meio deslocado em cena, mas sem criar constrangimentos ao menos), o que nunca é bem justificado pela história.

Há vários outros problemas com o roteiro. O filme é curto demais para muitos acontecimentos, mas ainda assim o pouco que nos é mostrado não tem grandes qualidades. A batalha final, por exemplo, não foi bem apresentada nem preparada. Quando percebemos, ela já está para acontecer e o espectador não fica sabendo exatamente o porquê em detalhes. Por que, então, deveríamos nos importar? Quem é exatamente aquele povo dentro da caverna senão um bando de refugiados? Sua história não nos é apresentada decentemente, somente citada superficialmente, de forma quase robótica, como se fosse uma obrigação chata que o roteiro tem que cumprir, sem real emoção. Estes exemplos estendem-se aos outros personagens, como Arya, o primo de Eragon, etc., que nunca se tornam interessantes.

Como em qualquer filme que tenha como ponto de forte apoio os efeitos especiais, o aspecto técnico deve ser comentado. O principal efeito especial – o dragão – é razoavelmente bem produzido, embora em momento algum seja totalmente convincente. A grande batalha final, por outro lado, mesmo que uma bagunça enorme em termos visuais, possui alguns belíssimos momentos, mais especificamente quando envolve uma batalha entre dragões nas alturas. As cenas de vôo são sempre belas, principalmente pelas locações escolhidas serem cheias de verde e montanhas. Não há a impressão de que o mundo seja enorme, mas ele pelo menos é variado o suficiente para não ser tão monótono e desinteressante quanto a jornada de Eragon. No geral, então, pode-se dizer que aspectos técnicos ultrapassam, e muito, aspectos artísticos, o que definitivamente não é uma boa característica.

O filme não foi exatamente um sucesso nas bilheterias, então ainda fica a dúvida se o segundo volume (o filme termina repentinamente) será ou não levado aos cinemas. Sinceramente não faria falta, a não ser que seja muito melhor tratado. O elenco é jovem e aqui não pôde mostrar real talento, pois todos os acontecimentos passaram de forma atropelada. Independentemente de ser uma cópia ou uma homenagem a Tolkien, a mitologia aqui apresentada é insatisfatória e não vai trazer benefícios nenhum a quem assistir ao filme. Nem sequer entretenimento de qualidade, pois a versão cinematográfica de Eragon é simplesmente monótona, de direção absolutamente burocrática e com diálogos banais. Infelizmente, embora isso não seja novidade, é bastante dispensável!

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