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Críticas

Cineplayers

Refilmagem hollywoodiana de filme dinamarquês de prestigio pouco acrescenta ao original.

4,0

Pode soar estranho para quem o conhece apenas por esse novo trabalho, contudo Jim Sheridan é um diretor que já gozou de certo prestigio há uns quinze, vinte anos, quando alguns de seus filmes colecionavam indicações e até prêmios, não apenas ao Oscar, mas também em festivais europeus. Teria o cineasta irlandês decaído tanto assim visto a escassa qualidade desse seu Entre Irmãos?

A resposta parece ser mais óbvia do que uma eventual decadência por parte do realizador se levarmos em consideração que a força motriz de filmes como Meu Pé Esquerdo e Em Nome do Pai eram as grandes atuações de um intérprete do calibre de Daniel Day-Lewis, capaz de dar brilho e sustentar o interesse pelas referidas obras (o ator ainda protagonizaria um terceiro filme dirigido por Sheridan, O Lutador, de 1997). Pois sem o amparo dos excepcionais desempenhos de Day-Lewis, o que pode restar em um filme de Jim Sheridan? Entre Irmãos responde bem (e mal) a pergunta.

O irlandês geralmente procura como sustentáculo de suas narrativas utilizar temas sérios e importantes, centrados em lutas individuais ou coletivas de personagens diante de uma força opressiva difícil de contornar. Após alguns trabalhos entorno de disjunções familiares e da resistência de sua Irlanda em combate contra a imposição do governo centralizador inglês, o diretor troca a parte política pelos conflitos com guerrilheiros afegãos, mas os problemas em familia permanecem o centro de sua obra.

Nesse remake hollywoodiano de um filme dinamarquês de sucesso (de 2004), a velha história de dois irmãos que tomam caminhos diferentes é retomada sem grandes novidades. De um lado, o capitão Sam Cahill (Tobey Maguire), integrante da coalização ocidental contra a Al-Qaeda, que sempre trilhou um caminho correto e vitorioso na familia, no esporte e agora ostentando o uniforme militar. De outro, Tommy (Jake Gyllenhaal), o irmão problemático recém-saído da cadeia e que já não recebe o respeito de quase ninguém. O filme opta em não transformar os dois personagens como antagonistas, mas em vitimas das circunstâncias, na marginalização de um, e no flagelo de outro, o soldado que acaba capturado pelos afegãos e é dado como morto, deixando a esposa (Natalie Portman) e as duas filhas sob os cuidados de Tommy, que se revela bastante zeloso com a cunhada e as sobrinhas, cobrindo uma lacuna de afeto deixada pelo fuzileiro perdido no campo de batalha.

É o tipo de argumento naturalmente simples que com grande maestria um James Gray faria miséria (como pode ser percebido em quase toda obra de Gray, especialmente em seus primeiros filmes, que mantém mais similaridades com os temas de Entre Irmãos, entre os quais o da hereditariedade de culpa e irmãos em caminhos opostos), todavia se Gray possui substância o bastante no interior da cena para se dedicar a uma dinâmica de interação entre personagens e espaços que prescinde de subterfúgios melodramáticos, o irlandês drena a força de seu trabalho querendo conferir a todo custo um significado às suas imagens, o que resulta no esvaziamento sistemático de qualquer sentido e na perda da eficácia de sua narrativa.

A mão pesada de Sheridan é evidente ao camuflar seu filme com um sentimentalismo manipulador da pior espécie, além da preocupação mal-ajambrada do diretor com seus personagens e o lugar que ocupam dentro de uma dramaturgia. O diretor também peca por uma visão pueril e pela displicência ao filmar, ilustrando alguma de suas cenas com canções pop que não se encaixam com as imagens e tampouco reproduzem o clima pretendido. O ataque ao helicóptero que carrega o irmão fuzileiro é mostrado de uma maneira tão bagunçada que não possibilita o envolvimento do espectador e se converte em um dos tantos exemplos do péssimo trabalho de decupagem do filme.

Entre Irmãos geralmente está dois ou três tons acima, e o filme se torna pior quando aposta nos seus excessos, na falta de justeza do trabalho de direção, prejudicando ainda o elenco que pouco consegue ajudar. É constrangedor assistir Natalie Portman e Tobey Maguire terem que super-representar em cena, dentro de seqüências exageradamente dramáticas e pobres, algo que naquelas obras mais antigas do diretor o já mencionado Daniel Day-Lewis tirava de letra e convencia plenamente salvando em partes o material da catástrofe absoluta.

O que Jim Sheridan consegue é extrair atuações ruins de atores relativamente jovens que vez ou outra se saem bem sob o comando de outros diretores, mas o que se pode aproveitar de cenas francamente idiotas como no jantar perto do final em que o personagem de Tobey Maguire e uma das crianças debatem sobre o paralelo entre cachorros e elefantes? O diretor consegue apenas mais um baixo nível de uma dramaturgia que nesses anos todos em sua carreira mal evoluiu, precisando ainda tornar-se sólida, para só então abrir-se a novos caminhos, encontrar possibilidades mais concretas para o seu cinema.

Comentários (2)

Patrick Corrêa | domingo, 07 de Julho de 2013 - 16:32

O filme é fraco mesmo.
E os atores principais estão surpreendentemente ruins.

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