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Críticas

Cineplayers

Filme marcado pelas interpretações mais que pelo roteiro. Belíssimo trabalho de Sofia Coppola.

8,0

O respeito que Sofia Coppola não conseguiu como atriz ao ganhar um papel no terceiro episódio da franquia de estimação do papai, O Poderoso Chefão, está recebendo agora como diretora. Depois de um promissor filme de estréia (As Virgens Suicidas) ela confirma seu potencial com um segundo trabalho, o ótimo “Encontros e Desencontros”.

É um filme de ator, a trama em si não ocupa nem uma página: Bob Harris, um ator decadente vivido por Bill Murray (excelente) e Charlotte, jovem esposa de um fotógrafo vivida pela bela Scarlett Johansson (que virou um mulherão desde Ghost World), se encontram durante uma estada temporária no Japão onde desenvolvem um singelo relacionamento. É exatamente nos personagens que o filme se sustenta e felizmente tudo funciona perfeitamente se você se importar com eles.

Acredito que o Bill Murray esteja mais do que à vontade no papel de Harris, eu diria que o personagem é quase autobiográfico do ator que foi redescoberto por diretores indies como Sofia e o Wes Anderson (Os Excêntricos Tennenbaums), Murray assim como Harris também faz comerciais no Japão pra ganhar um trocado e sua carreira no cinema andou meio caída.

Trazendo essa bagagem, ele passeia no filme e é sempre cativante e convincente seja fazendo graça ou em momentos mais intimistas quando revela toda a solidão e tristeza de seu personagem, solidão e tristeza que também acompanham Charlotte, relegada a segundo plano pelo marido e incerta do que o futuro a reserva.

Scarlett Johanssen prefere não lutar contra o ladrão de cenas que é Murray, mas demonstra muita segurança e torna a relação entre Charlotte e Harris bastante verossímil, mesmo com a grande diferença de idade entre os dois. Ambos os personagens são muito bem desenvolvidos mas outro fator que adiciona uma dimensão mais interessante ao filme é o ambiente, todo filmado por locações verdadeiras em Tóquio e Kyoto, o filme é uma deliciosa viagem turística ao Japão e pelas esquisitices dos japoneses, tudo no filme é real desde os bizarros programas de tv aos cenários.

Sofia deve ser fascinada pelo país e transmite isso através de sua câmera, que fotografa imagens belas e por vezes desconcertantes e de seus personagens, cujas reações de choque cultural certamente eram verdadeiras, isso inclusive foi utilizado durante o próprio desenrolar da história com vários momentos de improvisação, inclusive no final, o que torna o filme ainda mais especial visto que a cena é uma das mais tocantes do filme.

Encontros e Desencontros vêm fazendo um relativo sucesso para o circuito indie e rolam rumores de uma possível indicação ao Oscar para Murray. Alguns chegaram a insinuar que o filme é um tanto ofensivo aos japoneses, não acredito nisso, as piadas e reações dos personagens podem ser por vezes politicamente incorretas mas nunca soam pejorativas, o filme aliás desperta um grande fascínio pelo país e sem dúvida já marcou a carreira de Sofia Coppola, de Bill Murray e porquê não Scarlett.

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