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Críticas

Cineplayers

O juízo dos justiceiros.

7,0
Dois irmãos adolescentes (Remco e Lizzy) durante uma manhã ingênua e imprudente lançam filhotes de cachorros doentes em um rio. Fazem isso com naturalidade impressionante, já que parece lhes ser uma cruel atividade rotineira. A mando do pai, que vende cães ilegalmente, a dupla sai por aí se livrando dos animais condenados. Eles entendem que o feito é reprovável; no entanto, ao fazê-lo, agem com assustadora indiferença. Esses comportamentos são prévios constructos dos personagens, estabelecendo o contexto em que vivem. Em um desses dias, fazem algo cujas conseqüências ultrapassam qualquer limite. 

E limite é uma palavra questionada ao longo de toda a projeção. 

Encontre essa pequena e estúpida vadia e jogue ela no rio é sobre uma família holandesa desajustada, em que pai, filha e filho trabalham juntos, tanto na atividade com os animais, quanto desocupando casas de idosos. Remco é diariamente cobrado pelo pai, que o ofende. Na escola, não está entre os mais populares, sendo ofuscado pelos colegas. Lizzy não está muito longe, e carrega o sonho de participar de um programa de calouros, cantar e ser famosa, reconhecida como as cantoras que ouve. 

Todos querem a luz dos holofotes. Para encontrá-la, as conseqüências nem sempre são mensuradas. No dia em que os irmãos fazem o trabalho sujo, Remco decide registrar a cena com o celular e filma a irmã lançando os filhotes. Horas depois, motivado por um possível sucesso que o vídeo pudesse fazer no Youtube, o hospeda em uma conta e mostra para amigos. “Isso é doentio...”, apontam, duvidando que aquele garoto tenha filmado o crime. O problema é que o vídeo viraliza com centenas de milhares de compartilhamentos, acompanhado de ameaças de morte. O filme torna-se desesperador e a revolta de todo um país chega aos noticiários.

Em tempos em que toda a vida privada é compartilhada em redes sociais à procura de likes, um filme como esse vem questionar um possível limite e até onde alguns são capazes de ir em troca de qualquer visibilidade, por mais tola, passageira e frívola que seja. Remco e Lizzy buscam esse momento. Muita gente busca por esse momento. O roteiro trata do tema com bastante zelo – adaptando uma história real –, apontando as conseqüências da gana por visibilidade e a reação dos justiceiros nas ruas.

O diretor acompanha seus personagens com câmera em punho, como se fizesse parte do mesmo contexto e acompanhasse de perto cada uma de suas ações. Estamos sempre muito próximos dos personagens, entendendo cada drama particular e suas motivações por algo que movimente suas vidas, até o instante em que o medo deixa de ser imaginário.

Sem dúvidas o filme traz uma das sequências de cena que ficarão marcadas como uma das mais desoladoras e cruéis cenas do cinema contemporâneo. E a controversa justificativa para fazer justiça inspira a massa, parece motivada por inclinação ao ódio, a desumanidade, e nada mais. 

Visto na 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

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