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Críticas

Cineplayers

Divertido e belo, Encantada acaba caindo nos mesmos clichês que tenta satirizar. Ainda assim, um programa razoável.

5,0

A Dreamworks já havia feito trabalho relativamente parecido a este Encantada em 2001, quando Shrek satirizou os contos de fada aguados da Disney. O filme fez sucesso estrondoso e ganhou duas continuações (inferiores, é verdade). Desde lá (mas não só por isso), a Disney vem perdendo terreno e acumulando críticas negativas. Embora ainda seja uma força como produtora e distribuidora de filmes, muitos torcem o nariz pelos seus últimos fracassos no campo da animação.

Encantada surge então como uma tentativa de quebrar um paradigma: a empresa resolveu debochar de si mesma, rindo dos estereótipos e dos clichês que ela mesma vem alimentando há 70 anos. Ao jogar uma princesa inocente e um príncipe tolamente romântico na agitada e cruel Nova York do século XXI, a pureza e a inocência do mundo Disney chocam-se com a indelicadeza e a brutalidade do mundo real. Quem sairá vencedor? O homem moderno aprenderá a alimentar a imaginação com os contos de fada? Ou a princesa cairá "na real" ao enxergar um mundo diferente do verde e florido a que estava acostumada a ver?

A resposta está mais ou menos presente no filme. No final das contas, a sátira não se mostrou aguçada o suficiente e quase todos os grandes estereótipos continuam lá. E a maioria dos clichês também. Ao ambientar um conto de fadas (literalmente falando nesse caso) no mundo contemporâneo, criou-se a possibilidade de se fazer muito humor. Infelizmente, a maior parte das piadas as pessoas já terão visto no trailer e, salvo alguns momentos inspirados que realmente funcionam, Encantada é tão estafante e previsível quanto a maioria dos filmes do gênero lançados pela empresa.

O filme é parte animação (um 2D tecnicamente feio e aborrecido), e cada personagem animado tem um ator correspondente no mundo real. Além destes - princesa, príncipe, bruxa, além, claro, do mascote, um esquilo bem chato - há um pai desacreditado que evita ensinar a magia dos contos de fada à filha porque quer prepará-la para a frieza do mundo real. O cenário está montado para o sentimentalismo típico dos filmes da empresa.

Apesar do maniqueísmo previsível, não há como negar que o filme tem momentos deslumbrantes e fortes. Sobretudo quando entram em jogo as cenas musicais, vibrantes e bastante divertidas. O baile no final também cria momentos belíssimos, até a chegada do confronto final com a rainha malvada, cena que só serviu mesmo para gastar alguns milhões de dólares do cofre da Disney, mas que à narrativa pouco adicionou, tamanha incapacidade em surpreender e levar a história a lugares imprevisíveis.

Encantada tem sim seu encanto: Amy Adams ficou simplesmente adorável no papel da princesa Giselle, além das já citadas cenas envolvendo músicas citadas acima. No final das contas, vai dar um belo filme para as matinês da televisão, dentro de alguns anos. Mas o que tem de belo tem de descartável, e apesar de seus personagens serem divertidos, são a essência do que se pode considerar genérico dentro do cinema. Um programa razoável, apenas não vale considerá-lo "rebelde" ou "inteligente" como o filme da rival Dreamworks em 2001.

Comentários (2)

Fernanda Pertile | quinta-feira, 15 de Dezembro de 2011 - 16:59

Boa crítica, mas acho que o Encantada salvou os estúdios Disney do buraco. Já há tempos que Disney só lançava os clichês de contos de fadas e, analisando Encantada, você não enxerga muitos clichês na minha opinião. Misturar vida real com a animação foi um chute certeiro, deu um ar de conto de fadas com uma realidade mais próxima da que vivemos. A cena da dança do Robert e da Giselle no baile é linda, com certeza minha cena preferida do filme e outra cena interessante é a do beijo de amor verdadeiro, onde o filme leva o espectador a pensar que o beijo do príncipe vai acordá-la e Robert vai perdê-la quando ocorre o oposto. Um bom filme para quem gosta de surpresas e de dar algumas risadas.

César Barzine | domingo, 22 de Outubro de 2017 - 01:08

"vai dar um belo filme para as matinês da televisão, dentro de alguns anos."

Acertou.

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