Belíssimo filme dinamarquês conta com grandiosa atuação mirim.
Vencedor do Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e indicado ao Oscar na mesma categoria, o dinamarquês Em um Mundo Melhor conta a história de Christian, um garoto que tem sua rotina bruscamente alterada com a morte de sua mãe. Ao mudar-se para a casa do pai, o rapaz mostra ser pacato e introvertido, preferindo ocupar um quarto pequeno e apertado dentre as várias opções mais confortáveis que a nova residência poderia oferecer.
Mas, esse ar reservado de Christian esconde na verdade o rancor que guarda junto de seu silêncio. Ao frequentar sua nova escola, solidariza-se com Elias, um menino franzino que sofre bullying dos colegas. Claramente amargurado com a vida, Christian incorpora, com irresponsabilidade, o espírito justiceiro. Acreditando que a vida foi ingrata com ele ao tirar a vida de sua mãe, e culpando também seu pai por isso, o garoto mostra reações destemperadas na tentativa de impedir que o seu mundo seja pautado por injustiças. Dessa forma, ele flerta cada vez mais com a violência, e as expressões de William Jøhnk Nielsen, geralmente com o rosto franzido e fechado, são de uma competência interpretativa que há tempos um ator mirim não propiciava.
A diretora Susanne Bier constrói uma narrativa que sufoca não por se entregar ao suspense, mas por saber construir personagens profundos, que tem seus motivos para serem como são. Assim, o público alterna os sentimentos de raiva e compaixão por Christian, que se utiliza de meios condenáveis como forma de externalizar os monstros interiores que o atormentam.
Contudo, Bier peca por intercalar a história de Christian com a do pai de Elias, Anton, já que as duas tramas se alternam de forma bem espaçada, o que enfraquece a segunda – e o diálogo entre as duas histórias é frágil. Só que do mesmo modo, Anton é um personagem tão interessante quanto Christian. Maduro e de caráter inabalável – mas nem por isso salvo de erros -, Anton é incapaz de responder com violência até mesmo a pior das agressões, talvez até mesmo pela experiência que enfrenta como médico voluntário em meio a uma guerra civil em um país africano.
Entretanto, o mais importante é como as atitudes de Anton estabelecem um contraste com aquilo que Christian está se tornando ao não saber lidar, por total falta de maturidade e não por maldade, com a fase turbulenta que atravessa em sua vida. Em um Mundo Melhor escancara com força os dramas interiores de seus personagens, retratados com profundidade e que, por serem bem desenvolvidos pelo roteiro, tornam-se figuras interessantes de serem analisadas e entendidas.
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