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Críticas

Cineplayers

O luto e a culpa.

4,0
O pôster com o rosto de Arnold Schwarzenegger sobre destroços em chamas e o genérico título nacional de Em Busca de Vingança (Aftermath, 2017) sugerem a ideia de mais um filme em que o astro da pancadaria sai na caça por revanches, ou é caçado por terroristas em grandes intrigas internacionais. A verdade é que o nome dele já virou uma marca que remete a um tipo bem específico de cinema de porrada e explosão que os americanos tanto amam e vendem aos montes mundo afora todo ano. O curioso é notar que, por trás da maneira equivocada como vem sido divulgado, Em Busca de Vingança é, quase que o tempo todo, um drama ordinário. 

Schwarzenegger se despe do personagem de sempre para encarar um cara comum acometido por uma tragédia devastadora. Na pele de Roman, um prestigiado mestre de obras, ele enfrenta a dor seca e inesperada de perder a esposa e a filha em um acidente de avião. Na outra ponta da história, temos Jacob (Scoot McNairy), o controlador da torre de comando do aeroporto que acabou provocando a colisão entre os aviões após um minuto de descuido. Cada qual lidará com a situação de um modo diferente. Roman não se conforma com a frieza com que a companhia aérea trata sua perda, querendo apenas promover um acordo financeiro que a livre de qualquer compromisso. Jacob, por outro lado, não consegue se perdoar e se deixa engolir por um crescente e cada vez mais sufocante culpa e depressão, o que acaba lhe custando sua família e emprego. 

Em Busca de Vingança pode ser um banho de água fria para quem espera um filme de ação, então é bom conferir ciente de que dessa vez Schwarzenegger estará na maior parte do tempo se lamentando. Mais frustrante ainda é ver o astro mais canastrão do que nunca e tendo toda a cena roubada pelo personagem e núcleo de Scoot McNairy, que defende tanto o seu personagem e lhe confere tanta autenticidade que acaba por ser praticamente o único acerto da produção. Trabalhando aos poucos na construção de uma rota de colisão entre os dois, o roteiro em muitos momentos se perde e jamais diz a que veio, hora parecendo dar atenção para a questão de Roman ser um estrangeiro oriundo do Oriente Médio e logo em seguida descartando a possível relevância dessa informação para a trama. 

Num ritmo devagar, quase parando, o que de fato é trabalhado é a gradual desestabilização emocional de Roman, que de vítima acaba de alguma forma sendo pincelado como potencial vilão vingativo, enquanto Jacob é humanizado o máximo possível, a ponto de promover uma empatia instantânea pela sua dor da culpa. Nesse quesito, a questão de Roman e sua família pertencerem a algum país do Oriente Médio logo ganha um contorno um tanto estranho e, de alguma forma muito velada e indireta, acusatório. Com um roteiro que jamais diz a que veio, fica a impressão de que mesmo em situações em que são vítimas, os estrangeiros ainda podem apresentar um perigo para a sociedade americana, de que ainda se ressentem por tudo o que lhes foi tirado e como foram e são ainda tratados em solo ianque. Na mesma linha de raciocínio, a culpa assumida dos americanos diante de seus erros mortais pode soar muito perdoável e passível de redenção e perdão. 

Para além dessas ideias questionáveis sugeridas pelo filme, temos um roteiro que joga toda a ação e resolução das tramas para os últimos cinco minutos, metralhando uma série infindável de acontecimentos importantes sem nenhum tempo para assimilação, sendo que isso poderia ser muito melhor distribuído e desenvolvido ao longo de sua duração. O final deixa claro que ninguém ali sabia como finalizar essa história, que perdeu todo seu propósito em algum ponto do caminho, assim como as vidas de Jacob e Roman. 

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