Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Amantes, afinal.

7,0

Há algum tempo, Transamérica (Transamerica, 2005), de Duncan Tucker, foi agraciado e chegou em boa hora, trazendo uma viagem de um travesti junto ao filho. Agora, Elvis & Madona (idem, 2010), que rodou o mundo ganhando prêmios, passou tímido pelos cinemas do Brasil e está nas locadoras. O longa explora um relacionamento inusitado: uma lésbica que se apaixona por um travesti. O diretor Marcelo Laffitte escreveu o roteiro logo após assistir, em um programa da TV Americana, a um transexual pai de família tentando se reconciliar com os filhos. A inspiração levou-o a concluir esse trabalho rodado desde 2008, com histórico de crises financeiras. O resultado é morno, exibe com sutileza um encontro impensável de modo trivial, similar à proposta de Além do Desejo (En Soap, 2006), de Pernille Fischer Christensen, mas aqui referente a um caso de amor súbito.

Elvis, codinome escolhido por Elvira (Simone Spoladore), é uma fotógrafa gay apreciadora de Copacabana, mas que não consegue se manter apenas com esse trabalho. Fã de motos, decide trabalhar como entregadora de pizza, escolha que a leva ao apartamento de Madona (Igor Cotrim), uma cabeleireira travesti frustrada por ter sido extorquida por um antigo caso amoroso. De imediato a relação entre as duas se estreita, com o vislumbre da primeira projetando uma idealização conceitual sobre a outra, o que garantirá uma afeição íntima e de cumplicidade entre ambas.

A ambientação carioca se condensa nas ruas onde Elvis percorre com sua moto ou na orla, local escolhido para fotografar. Neste ofício, um registro acidental colocará energia na trama, um estímulo para testar a relação do casal. O contexto indubitável explana possibilidades de encontros, de paixões – a angústia, tolerância e aceitação –, sonhos – um espetáculo de drag queens, a contratação num jornal local –, a obrigatoriedade de conseguir algum dinheiro exclamado em vários diálogos, e o futuro. Dentro desse olhar que Laffitte sutilmente dá sobre estes típicos elementos da vida, às vezes esquecemos do romance e de sua singularidade a partir do momento que notamos dificuldades iguais a de qualquer um. Uma constatação: todos somos iguais, embora desiguais.

Igor Cotrim doa simpatia e autenticidade ao seu personagem através de meneios bem construídos, ao passo que Simone Spoladore investe em flertes, seduzindo com olhares desejosos, assumindo um papel masculinizado. O desempenho e química da dupla é um dos maiores trunfos do longa, que não satiriza os papéis de seus protagonistas, mas desenvolve com sinceridade a relação que a princípio nos soa estranha, chegando a questionar num determinado ato o que é o normal. No elenco, ainda se destacam Maitê Proença, assumindo uma persona dual e picaresca, e José Wilker, numa ponta impagável, revelando um papel anteriormente omisso, mas presente em toda a trama.

O relacionamento disposto capaz de afugentar alguns espectadores ganha status de comédia romântica pelas situações empregadas, tornando, por vezes, a narrativa problemática, quando a seriedade de algumas conjunções são ignoradas a troco de piadas, como aparente defesa do diretor em não propor uma reflexão ampla sobre o assunto da identidade sexual. Mas tal reflexão existe, e questionamentos são cabíveis nessa dinâmica proposta cujo roteiro não transfere opiniões particulares, mas trata tudo esbanjando bom humor. Fica nisso, com a dupla central roubando todas as cenas e uma jornada em busca de felicidade, para com o mundo e para com o outro, numa atmosfera claramente inspirada por trabalhos de cineastas consagrados como Almodóvar.

Comentários (5)

Mathias Reis | quinta-feira, 09 de Agosto de 2012 - 20:45

Não concordo com o crítico quando ele diz que "o desempenho e a química da dupla [Igor Cotrim e Simone Spoladore] é um dos maiores trunfos do longa..." Pra mim, não houve boa química entre os atores. A relação soou artificial e forçada. Mas opinião é opinião.

Adriano Augusto dos Santos | segunda-feira, 03 de Setembro de 2012 - 09:08

O romance mais original em muito tempo.

Que desfecho ótimo,sem tristeza,sem discusões,sem dramatização inútil.

Renan Fernandes | quinta-feira, 16 de Maio de 2013 - 12:04

Gostei do Filme, mas achei pobre em alguns aspectos, poderiam ter trabalhado mais a fundo os conflitos da sociedade a respeito desse relacionamento, mesmo que com bom humor.
Mas de uma forma geral valeu a tentativa...gostei da história.

Alexandre Marcello de Figueiredo | sexta-feira, 17 de Janeiro de 2014 - 19:15

Gostei do filme. Uma história de amor que foge dos padrões convencionais; a dupla de protagonistas carrega o filme nas costas.

Faça login para comentar.