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Críticas

Cineplayers

Uma coleção de estereótipos, piorado pela falta de talento do elenco teen principal.

6,0

Ela é o Cara é um filme previsível, tolo e cheio de clichês, em que a mocinha termina com o mocinho. Não há boas atuações, nem uma boa história a animá-lo. Raso e superficial, limita-se a contar algumas piadas fracas com adolescentes, algumas delas constrangedoras. No entanto, é bom não subestimar o filme. Afinal, Ela é o Cara foi produzido por Lauren Shuler Donner. Filmes dela costumam marcar época.

Lauren firmou seu nome nos anos 80, quando produziu sucessos como O Feitiço de Áquila e A Garota de Rosa Schoking, sucessos adolescentes. Nos anos 90, trabalhou furiosamente, em mais de 50 filmes, a maioria esquecíveis, mas nunca fracassos de bilheteria. Nesse período fez Free Willy e Mensagem para Você. Agora, nos anos 2000, já produziu Constantine e a série X-Men. Está milionária. É hoje uma das maiores e mais bem sucedidas executivas da indústria do entretenimento do mundo. Apesar de ter produzido também alguns filmes mais maduros, como Um Domingo Qualquer, de Oliver Stone, e O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas, sua fórmula de ganhar dinheiro ainda é criar produtos para o público teen de qualquer idade, física ou mental.

Seus filmes são impecáveis e primam pela eficiência. Um exemplo: o principal personagem masculino é o gostosão Channing Tatum. Canastrão, claro, mas não importa. Iniciou sua carreira como modelo de marcas famosas, como Abercrombie & Fitch e Dolce & Gabbana. Mais tarde, estrelou comerciais para Pepsi e Mountain Dew. Seu primeiro papel cênico foi uma participação especial em CSI: Miami. Enfim, tem os atributos artísticos suficientes para o papel: passar a maior parte das cenas sem camisa.

O roteiro é dos criadores de Legalmente Loira e 10 Coisas Que Eu Odeio em Você, de onde saiu a estrela Amanda Bynes, da série de TV What I Like About You e do filme Tudo Que Uma Garota Quer. Ela também emprestou a sua voz para o papel de Piper no sucesso de animação Robôs – ou seja, uma celebridade teen. Atriz de recursos limitados, está visivelmente constrangida em várias cenas, mas consegue trazer público suficiente para esse tipo de produção.

Como o filme tem como assunto o futebol e como ninguém do, ah, digamos, elenco sabia jogar, os produtores contrataram um coreógrafo de futebol – isso mesmo, a função, se não existia, passou a existir. Chama-se Dan Metcalfe a criatura – faz uma ponta como o goleiro. Ele diz que o trabalho foi fácil, pois foi só deixar todo mundo em cena correr o tempo todo sem parar e ensinar a atriz a correr como um homem. Vejam as dicas: “Nós tivemos de trabalhar com ela para que o seu passo fosse mais pesado, sem que ela colocasse mais pressão nos seus joelhos, e para correr se inclinando um pouco mais para frente do que as garotas normalmente fazem”.

Segundo consta, o futebol já é o terceiro esporte mais praticado nos EUA, apesar da nulidade das equipes deles frente ao restante do mundo. Daí um filme sobre futebol, aproveitando a onda. Conta a história, americana por excelência, de uma adolescente que vê seu time acabar por falta de gente interessada e, para continuar jogando e ser chamada para um time maior (ou ganhar uma bolsa numa faculdade grande), veste-se de homem e passa a treinar no time masculino.

Como ela é gêmea de um irmão e está no ensino médio, onde os meninos ainda são andróginos, em tese fica fácil. O filme versará sobre os qüiproquós derivados dos sufocos que ela passará para esconder a identidade e tentar provar a todas, inclusive os pais, de que é muito boa naquilo que faz. Por coincidência, será companheira de quarto do melhor jogador de futebol da escola, o loiro bombado Duke e, óbvio, se apaixona por ele.

O diretor, Andy Flickman, fez carreira de sucesso no teatro (sua comédia Jewtopia estreou em 2003 e está em cartaz até hoje, tanto em Los Angeles quanto em Nova York). No cinema, foi um dos produtores de Anaconda.

Esqueça Tootsie, não é nada disso. É apenas uma diversão rala, baseada em estereótipos, que, por conta da falta de talento geral, dá uma caída vertiginosa no terço final. Nem a impressionante capacidade de rir de si mesmos dos americanos, que geralmente anima as boas comédias, funciona aqui. Os bons achados do roteiro são incessantemente desperdiçados pela direção superficial e pela canastrice dos atores. Preconceitos disfarçados estão por toda parte. Outros filmes adolescentes, como Mean Girls e Quatro Garotas e um Jeans Viajante, são infinitamente superiores, para ficar na produção recente.

Independente disso, Lauren Shuler Donner continua a trabalhar e a ganhar muito dinheiro. Até a data atual, os seus filmes já arrecadaram aproximadamente US$ 2 bilhões ao redor do mundo. Está terminando a pré-produção de Wolverine, com Hugh Jackman.

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