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Críticas

Cineplayers

Mesmo sem adicionar nada como uma trilogia, o filme traz Anthony Hopkins perfeito novamente à pele de Hannibal.

7,0

”Para entender a origem do mal, é necessário voltar ao princípio.”

Foi com esse slogan que Dragão Vermelho, o último filme da trilogia Hannibal Lecter, foi lançado. Bom, parando para pensar apenas um pouco fica óbvia a propaganda enganosa. No início do filme, sabemos como o personagem Will Graham, vivido por Edward Norton, conseguiu prender um dos mais perigosos criminosos do mundo, e também um dos maiores vilões de todos os tempos, o doutor canibal Hannibal Lecter, vivido pela terceira vez por Anthony Hopkins. Porém a alma do filme é outra.

Essa prisão, que dá origem ao slogan do filme, não dura mais do que dez minutos da duração total, que é de pouco mais de duas horas. Essa primeira vertente poderia ser ignorada caso o filme focasse a primeira ajuda que Lecter concede a Will. Também não é nesse caso que o filme se foca. Resgatando o suspense psicológico que Silêncio dos Inocentes criou e deixando de lado o terror explícito de Hannibal, Brett Ratner faz um filme excelente, tenso e cheio de mistério, porém deslocado da trilogia principal e sem adicionar nada ao personagem de Hopkins.

O problema, então, é que o filme, que deveria explicar as origens de Lecter, ou então mostrar sua primeira interação com Will, dá lugar a uma cópia menor de Silêncio dos Inocentes. O argumento utilizado para Hannibal ajudar Will é a admiração pelo policial que o prendeu para sempre. Só que esse argumento é jogado no lixo por ser a segunda vez que o doutor ajuda o policial. Todo o clima de suspense que poderia ser criado pela novidade é desperdiçado por não ser a primeira vez. Onde está a origem do mal a partir deste princípio? Na cena de dez minutos no início do filme? A culpa não é nem de Brett, já que o livro é exatamente assim, mas simplesmente Dragão Vermelho está totalmente deslocado dos outros filmes que o precederam.

Mais uma vez eu digo que o filme não é ruim, pelo contrário, ele é ótimo e funciona como um excelente entretenimento. Explora muito bem o vilão principal da história, Francis Dolarhyde, ou Lady Kill, interpretado magistralmente por Ralph Fiennes (O Paciente Inglês, Spider e que está trabalhando com Fernando Meirelles em seu próximo filme, O Jardineiro Fiel). Ralph dá um show de interpretação e concede vida ao dragão que dá nome ao filme. Curioso é que o movimento que ele faz com as costas, e que ficou realmente excelente, partiu de uma brincadeira durante o ócio dos testes de tatuagem que rolaram na pré-produção do filme.

Edward Norton (Clube da Luta, A Outra História Americana) consegue segurar o tranco que seu personagem exigia, já que ele tem uma importante participação na história. Afinal, assim como Jodie Foster interagiu com Hopkins em Silêncio dos Inocentes, Norton precisaria dar a mesma força ou até mais a seu personagem, já que foi ele quem pôs Hannibal em seu mártir. Falando em Hopkins, ele continua maravilhoso no papel que o consagrou na Academia onze anos antes. É o tipo de ator que se encaixou tão bem ao personagem que simplesmente fica inimaginável pensar em outro no seu lugar. Isso explica a estranheza de Julianne Moore no papel de Clarice em Hannibal, no lugar de Jodie, por exemplo. Ficaria impossível pensar em outra pessoa para interpretar o doutor Hannibal Lecter. Ele está tão à vontade no papel que simplesmente somos cativados pela brilhante atuação do ator. Se você parar para perceber, o trabalho do obcecado Hopkins é tão fascinante que ele chega a não piscar nas cenas de intimidação de Hannibal (Hopkins chega a ler 250 vezes o roteiro de um filme antes de rodá-lo, em sua preparação de personagem).

Aqui entra uma observação: se você tem vontade de ver como Hannibal seria interpretado por outro personagem, alugue Manhunter, de 1986, que foi a primeira versão de Dragão Vermelho para o cinema e constantemente passa na TV por assinatura. Esse filme é apenas mais uma versão para o livro, nada tendo em comum com as produções estreladas por Hopkins iniciadas cinco anos depois. Completando o elenco, temos a oscarizada Emily Watson no papel de uma cega que contra-balança as maldades do vilão do filme.

Dragão Vermelho é também um filme de luxo. Não só pelo gordo orçamento provindo do prestígio do jovem e bem humorado diretor Brett Ratner (A Hora do Rush), mas também por tudo o que foi “conseguido” pela produção para o filme. Com um minucioso trabalho da arte, a cela onde Hannibal está preso é idêntica à de Silêncio dos Inocentes (uma pequena diferença na iluminação, resultado de estilos diferentes das equipes). Não só a aparência da cela, mas o elenco da prisão foi mantido, o que gera uma grande fidelidade entre os filmes da trilogia. Até o roteirista é o mesmo de Silêncio dos Inocentes, Ted Tally, o qual teve seu trabalho premiado com um Oscar (por Silêncio, e não Dragão).

A história não é perfeita, mas é bem amarradinha e consegue prender a atenção e o interesse. Um novo serial killer conhecido como Lady Killer começa a dar dor de cabeça à polícia americana. Com medo da ação do serial se propagar, a polícia vai atrás de Will Graham, seu melhor agente para cuidar do caso. O problema é que ele está aposentado desde que conseguiu prender Hannibal Lecter e tem medo de voltar à ativa pelas conseqüências que seu retorno possa causar à sua família. Will se envolve no caso, mas precisará de uma pequena ajuda para ligar as pistas do caso corretamente: Hannibal Lecter. No final ainda há um presente para os fãs de Silêncio dos Inocentes (encaixando a história com a do filme de 1991, visto que a história deste filme se passa antes daquele), mesmo que tenha sido necessário dar uma forçada de barra na cronologia dos acontecimentos para isso acontecer, mas ficou bacana.

Por essa sinopse podemos ver o quão baseado no filme de Jonathan Damme é Dragão Vermelho. Com os problemas já citados, infelizmente o filme falha como uma trilogia, sendo apenas um “mais do mesmo” acima da média. Uma desnecessária continuação, mas pelo menos muito bem acabada e sem desrespeitar os princípios das obras anteriores. Alguns o consideram o irmão do meio da trilogia, por resgatar o terror psicológico do primeiro filme, mas para mim é disparado o pior dos três, simplesmente pela sua passividade dentro de um personagem principal tão grande quanto Hannibal Lecter.

Comentários (2)

Cristian Oliveira Bruno | segunda-feira, 25 de Novembro de 2013 - 17:07

Ralph Fiennes traz um vilão mais interessante que Buffalo Bill, numa grande atuação. Mas não se compara ao filme de Jonathan Demme.

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