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Críticas

Cineplayers

Um bom elenco junto de um bom diretor salvam a obra do total ridículo.

6,0

O suspense sobrenatural sempre foi o meu estilo favorito de filmes, nunca neguei e nem escondi isso de ninguém. O problema é que muita gente confunde filmes de clima, como O Sexto Sentido, Os Outros e O Iluminado, com filmes de mortes baratas ou de sustos superficiais. O Dom da Premonição surgiu em meados de 2001 aqui no Brasil, com muito atraso, já que havia sido lançado no ano anterior nos Estados Unidos, só que não sabe direito o que quer. Aliás, até sabe, tenta criar um clima bem perturbador, só que o enredo e as situações não ajudam muito.

Até que eu gostei do filme, mas ele tem um problema muito grave: nada de originalidade. Tudo o que passa por aqui já foi visto, ou até revisto, em algum outro lugar, deixando aquela sensação de deja vu sobre algumas situações apresentadas. Até dá para explicar o porque, já que o roteiro é fraco e mal estruturado. O que não dá para entender é como um elenco forte se reuniu com outro diretor de nome nesse projeto. E, graças a eles, a qualidade do filme foi salva. Por pouco, mas foi. É um dos poucos casos onde a atuação, locações e demais compostos de um filme salvam um roteiro.

A história foi escrita por Tom Epperson e Billy Bob Thorton, o atual marido da musa Angelina Jolie e que atuou no recente Vida Bandida. Ela conta a história de Annie Wilson (interpretada magistralmente por Cate Blanchett), uma vidente viúva e mãe de 3 filhos que herdou da família um poder sobrenatural, um dom (que dá nome ao filme original) que lhe permite ver o que irá acontecer no futuro. Só que, em uma visita ao colégio por causa de mais uma briga de seu filho Mike, ela se encontra com o bondoso professor (Greg Kinnear) e sua noiva Jéssica (Katie Holmes, a Joey de Dawson´s Creek), e tem uma de suas clarividências ao ser questionada sobre o futuro do relacionamento. Guardando para si a imagem ruim que viu, ela vai embora e toda a trama se desenrola a partir daí.

Paralelamente há uma outra história, a do mecânico Buddy (Giovanni Ribsi) que tenta descobrir porque odeia o próprio pai. Só que essa pequena história está totalmente à parte da principal, elas não se cruzam, é somente uma desculpa para que o personagem possa ser útil em certo momento da trama. Uma pena, porque é um dos melhores personagens do filme, inclusive arrancando algumas risadas com uma cena completamente grossa de seu personagem, onde ele, com um pé de cabra, espanca um carro. Obviamente não foi feita para ser engraçada, mas me divertiu bastante.

Keanu Reeves (de Matrix e Doce Novembro) está como Donnie, o marido mal que bate na mulher Valerie, interpretada por Hilary Swank, em seu primeiro trabalho da época pós Oscar. Particularmente não gosto de Reeves, apesar de ter adorado os dois filmes em que citei, ele é sempre meio distante, não tem boa comunicação, seus personagens são presos e sem carisma (sim, porque bandidos também tem seu charme e carisma). Swank está ótima, mostrando uma mulher completamente e submetida ao marido, apesar das agressões que sofre. Não o deixa por medo de que algo pior lhe aconteça.

Como falei antes, as situações não convencem. A avó de Annie, por exemplo, aparece na história, faz um diálogo com ela e depois some, sem uma explicação lógica para sua aparição a não ser para criar um clima perturbador. E há também uma dica incrível sobre quem é o assassino no filme, mais precisamente no sonho de Annie, que direi mais abaixo, para quem já viu o filme ler e ver se percebeu também. É algo, até certo ponto, absurdo. Uma pessoa atenta ao filme com certeza percebe a dica e já mata tudo o que acontece dali para a frente. Há também uma cena de tribunal totalmente desnecessária, já que nada de realmente importante acontece nela, excetuando o veredicto, que poderia ser contado em algum outro momento do filme.

Sam Raimi é o mesmo diretor que, em 1982, estourou com Evil Dead e, mais recentemente, fez o mega-sucesso baseado nas histórias em quadrinhos Homem-Aranha. Parece que tudo o que ele errou aqui (principalmente por ter escolhido uma história tão fraca) acertou no filme do aracnídeo, mas o mais grave são mesmo os sustos já batidos de jogos de câmera virando para as costas do ator acompanhado de um som alto. Isso só pega os menos atentos, e do que adianta um susto sem sentir realmente medo?

Esses fatores pesam para o lado negativo de O Dom da Premonição. Para quem gosta do gênero (ou até mesmo do diretor e dos atores que, como falei antes, tem excelentes atuações), ou então para as pessoas que curtem um suspense mais leve com uma temática tão interessante quanto o sobrenatural, o filme acaba sendo uma boa pedida, apesar dos furos incríveis na história. As interpretações, os cenários, tudo poderia ter sido muito melhor aproveitado. Para quem acompanha diversos filmes, com certeza ficará com a pulga atrás da orelha, então é melhor passar longe.

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