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Críticas

Cineplayers

O preço da dignidade.

9,0

Para Amianto (Deynne Augusto) existir, muito mais como ícone ou ponto de referência para o discurso de Guto Parente e Uirá dos Reis, é necessário que todos os outros elementos do filme sejam extremos. Portanto, Doce Amianto (2013) -  personagem e filme - existe(m) graças às alegorias. Delas partem as brechas necessárias para Parente e Uirá nortearem suas intenções ao redor de uma história de amor e redenção que se revela como um mosaico de descobertas sem contenções e limites para, com rigor, convidar o espectador a fazer parte de um painel social do qual Amianto não faz parte.

É com tom fabuloso tão explícito e irônico que os diretores apontam à representação do “outro” na sociedade. Com ele, faz-se a declaração que o excesso também pode ser a forma mais cabível para justificar as limitações de um filme, inclusive financeiras. Amianto é contra a lógica, e também o pilar daqueles considerados marginais pela “normalidade”, da prática dramática ao discurso. Também é a maior inimiga daqueles que tentam seguir um caminho comum, que não permitem espaço para os sonhos. Ou até mesmo ser um sonho. Na boate, na sala de espera ou no consultório médico, o desprezo é cruel.  Mas Amianto segue em frente, repleta de cores, corre, ainda que esteja no mesmo lugar.

O refúgio está no afeto mais que providencial através da figura de Blanche (Uirá dos Reis). Amianto e Blanche têm proximidade, pois precisam viver (ou existir), e o encontro do passado com presente confirma que Doce Amianto é muito mais um filme presencial que narrativo, e muito mais panfletário que simples entretenimento, porém sem desejo de apontar ou de gritar mais alto que tudo que está ao seu redor. Trata-se da busca pela imponência, de conseguir um lugar que lhe é de direito e do reforço de identidade - esta que lhe é exigida até mesmo para abafar comparações ou alinhamentos acerca da forma de expressão que esbarram em nomes como Fassbinder e Almodóvar. E há muito que se perceber no filme. Talvez para assistir duas, três vezes – se possível, na tela grande.

Suas ações elásticas, o tempo digressivo, o constante flerte com os limites do que é confortável aos olhos. De um plano simples, Doce Amianto parte para adaptação. Não de sua personagem, mas do entorno, pois já passou do tempo para acontecer. Amianto vive espremida, mas faz-se dona do espaço, por angústia, por necessidade. Ela aos poucos joga a memória munida de desamparo contra a parede. Responde com o corpo e dá a ele o prazer que deseja, mas sabe que haverá limites e riscos. E o mesmo serve ao filme, feito de contrapontos e de coragem louvável.

Comentários (3)

Rodrigo Torres | sábado, 30 de Novembro de 2013 - 04:54

Esse é o Pedrinho que eu conheço! 😁

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