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Críticas

Cineplayers

O argumento original se esvai nos velhos clichês de sempre.

5,0

O argumento de Distrito 9 é um dos mais inventivos dos últimos anos: uma enorme nave alienígena emperra na Terra por motivos obscuros; os extraterrenos, então débeis doentes, são conduzidos pelos humanos a um local cercado e isolado, por onde permanecem por vinte anos. Neste período o lugar virou uma grande favela, e os camarões (como passaram a ser conhecidos os E.T.’s - um erro grotesco de tradução, já que o original “prawn” se refere a um tipo de grilo), depois de tanto tempo, estão prestes a serem transferidos para um campo de concentração, por uma empresa privada.

O escolhido para comandar a operação de remoção é Wikus Van Der Merwe, um bobalhão ridicularizado por todos que ganha sua “grande chance” por ser casado com a filha do chefe. Obviamente, a remoção não dá certo, e Wikus é acidentalmente atingido por uma substância desconhecida no rosto. Ele passa então a sofrer uma metamorfose – de alguma forma, sua genética se funde a de um alienígena – e vira o homem mais valioso do momento, com o poder de acionar as armas biotecnológicas dos visitantes, até então inúteis em solo terráqueo.

É um filme de gato-e-rato típico, que emula referências óbvias como A Mosca, no cerne à mutação genética, e O Fugitivo, com o protagonista sozinho e contra todos tentando reaver sua posição na sociedade, aliadas aos filmes de invasão alienígena. Só que em Distrito 9 os antagonistas são os humanos.

O diretor Neill Blomkamp, que trabalhava até então como animador e tinha dirigido alguns curtas-metragens – inclusive o que deu origem a este, Alive in Joburg, de 2005 -, usa algumas ferramentas que já estão se tornando lugar-comum, como a câmera na mão na tentativa de simular uma suposta “realidade” e que dá ao filme um ritmo de imediato, reforçado pela reiteração de “tempo real” que é intrínseco ao projeto.

Se Blomkamp é preciso ao manter o clima de tensão e ao criar uma mise-en-scène realista a baixo custo – Distrito 9 tem um visual bem-acabado, ainda que esteticamente não muito sofisticado –, falha ao não confiar no seu espectador. Assumindo que o gênero da ficção científica é o campo das metáforas, Blomkamp e sua colaboradora Terri Tatchell escreveram um filme que passa longe de qualquer sutileza. O primeiro equívoco é localizar a nave espacial exatamente em cima de Joanesburgo. Tratar de apartheid racial – obviamente o grande tema do filme – no país de Mandela é cair na simplificação ululante, apesar do público estar cansado de catástrofes em Nova York ou Los Angeles. As críticas à desumanização (ou desalienigenação!) das grandes corporações, cujo intuito ao lucro passa por cima de qualquer um, também são descartáveis.

Enquanto o roteiro se enche de soluções interessantes perdidas no óbvio, o protagonista Sharlto Copley toma para si a atenção, criando um personagem interessantemente complexo. As muitas transformações que a personalidade de Copley passa durante o filme são dramatizadas de forma bastante competente e com muito humor negro. Mas nem ele salva a forma como o filme é resolvido, que remete aos piores exemplares a chegar aos cinemas esse ano, como Transformers - A Vingança dos Derrotados e G.I. Joe - A Origem do Cobra.

Distrito 9 tem méritos de produção valiosos e que acabaram sendo importantes elementos de retórica em sua publicidade. Também foge de abordagens comuns a alienígenas que são apresentados no cinema. Tem um alto teor de crítica social. Mas, no final das contas,  Hollywood continua sendo a velha cidade de padeiros onde só se fabricam pães, como dizia o romancista Thomas Mann.

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