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Críticas

Cineplayers

Encantador à moda antiga, prepare-se para uma linda história de amor impossível.

8,0

Um fato é indiscutível sobre Diário de uma Paixão: você com certeza já viu essa história em algum outro lugar. Tenha a certeza disso. É a velha e sacada história da menina rica que se apaixona pelo rapaz pobre com as diferenças sociais que impedem que o amor dos dois se concretize. Então, o que ele tem de tão especial? E, acima de tudo, porque é bastante elogiado? Qual o seu diferencial a tantos outros filmes com a mesma premissa? Sinceramente? Nenhuma, exceto o fato de ser um filme com ótimas escolhas e por ser de uma direção impecável. É uma renovação da velha história contada de forma muito competente pelo ainda novato Nick Cassavetes, o mesmo por trás do bom Um Ato de Coragem.

O filme começa em um asilo, onde um bondoso senhor se propõe a ajudar uma paciente com problemas na memória, contando a ela uma bela história de amor; logicamente a mesma história que acompanharemos pelas próximas duas horas de projeção. Noah Calhoun é um jovem que trabalha na madeirera local, ganha 40 centavos por dia e curte todos os momentos da vida do melhor modo possível. Allie é uma jovem riquinha, que está passando as férias na cidade pequena enquanto não vai para Nova York continuar seus estudos. Como os opostos se atraem nesse tipo de filme, logo eles se conhecem e estão apaixonados, vivendo um grande romance de verão. Dificuldades vão, dificuldades vêm, a história vai se desenvolvendo, mesmo não trazendo absolutamente nada de novo. Tudo é chupado, reciclado ou homenageado (adote a expressão que melhor lhe convir) de outras histórias de amor impossíveis.

Se você conhece alguma outra obra de Nicholas Spark, no qual teve seu livro baseado para o roteiro, sabe que não são nas surpresas que suas histórias se baseiam. Se pegar por exemplo o adolescente Um Amor para Recordar, podemos ver que tanto nele quanto em Diário de uma Paixão, tudo é o mais esteriotipado possível da época em que a história é retratada. Porém, percebemos também que não é nessa criação que sua força está concentrada, e sim na emoção. Desenvolver bem as já conhecidas cenas para tocar, mais uma vez, o sentimento de quem quer que esteja assistindo a obra. É por aí que Diário também percorre sua trilha, um filme onde tudo é bastante previsível, mas o famoso ‘bom previsível’!

A diferença entre as duas adaptações é que em Um Amor para Recordar, o diretor quis pregar uma surpresa em quem estivesse assistindo ao filme, de modo que acabou deixando-o mais apelativo e clichê do que o normal, onde a surpresa era óbvia e agredindo a inteligência de quem estivesse assistindo ao fime. Já em Diário de uma Paixão, essa previsibilidade da história não é ignorada em momento algum, pois a todo momento temos a ligação entre os senhores e os jovens da história sendo revista, repassada, sem nunca tentar nos surpreender com o que é óbvio. Isso foi uma escolha bastante acertada, senão o mesmo erro de Um Amor para Recordar estaria sendo cometido aqui.

Um outro grande fator positivo para a aceitação desse clima criado é o ambiente, sem dúvida. Espere por cenários belíssimos muito bem fotografados, como uma linda cena de beijo na chuva, um passeio inesquecível entre árvores e patos e muito mais. Inclusive a abertura foi magistralmente trabalhada, quase toda contra o Sol, aproveitando bem as silhuetas, em conjunto com o paradisíaco cenário que rodeia os personagens principais (achei esses cenários extremamente parecidos com o de Dawson’s Creek, para fins de curiosidade). Combinados com uma música suave e que controla a sua emoção, poderíamos considerar o filme de mau gosto, pretensioso ou então manipulador. Bom, esse último adjetivo sem dúvida se encaixa, mas em um filme que nunca nega essa intenção e que simplesmente alcança o seu objetivo de emocionar, acaba não sendo uma palavra ruim, concorda?

Mesmo com tudo perfeito as voltas, o filme poderia ser jogado ralo abaixo caso o casal de protagonistas não segurasse o tranco. E, convenhamos, isso quase aconteceu, principalmente na parte em que Ryan Gosling (de Cálculo Mortal) e Rachel McAdams (de Meninas Malvadas) interpretam seus personagens mais jovens, adolescentes, sonhadores e cheios de energia no amor. Mas calma, a interpretação deles não é ruim, tanto que eles conseguem segurar as pontas que o filme exige, porém na aparência eles não convencem. Simplesmente você assiste ao filme sem lembrar de que aquilo aconteceu há muitos anos atrás. Fica a impressão de que estamos assistindo à um romance passado nos dias de hoje, em alguma cidade do interior ou algo do gênero, tirando a parte maravilhosa da arte. Essa impressão é deixada de lado quando os personagens envelhecem um pouco na história, onde Ryan deixa sua barba e Rachel pára de usar vestidos de bolinhas coloridas, e tudo fica bem mais convincente do que antes.

A participação de James Garner (da série 8 Simple Rules e Maverick) e Gena Rowlands (de Roubando Vidas) enriquecem muito o final do filme, tocante e que vai levar às lágrimas muitos apaixonados dentro do cinema. Ainda que emocionante, esse final é um pouco alongado demais, e deveria ter terminado – não leia esse parágrafo caso você ainda não viu o filme, mesmo sendo bastante previsível o que eu irei dizer, passe diretamente para o próximo – justamente quando Noah consegue fazer com que Allie lembre-se do passado e, apenas alguns minutos depois, já volta a ser uma total desconhecida do mundo. Isso deixaria o filme mais sério, sem a apelação da despedida dos dois juntos do mundo e menos cansativo.

Outro ponto totalmente desnecessário é a passagem pela guerra. Ela simplesmente não adicionada em nada na trama, está simplesmente para se ter uma guerra no meio da história, serve mais para ambientar a época em que tudo aconteceu. No cartaz, diz que esta guerra separou os dois personagens, mas ao assistirmos o filme vemos que não tem nada disso. Se ela fosse mostrada na tela ou simplesmente citada, não mudaria em nada em termos de narrativa. A cena é curta, desnecessária e me pergunto como ela não morreu na ilha de edição do filme (vai ver se arrependeram dos dólares gastos com ela e decidiram colocar, nem que seja por uns dois minutos, ela lá). Tudo bem que Noah perde um importante amigo lá, mas essa perda não influencia em absolutamente nada no que acontecerá depois.

Diário de uma Paixão é um filme simples, contado à moda antiga, direto e que desenvolve nada mais do que o clima de amor entre os dois personagens principais. Nesse aspecto, Nick é muito competente, e por isso conseguimos esquecer a falta de profundidade e que já vimos essa história contada diversas outras vezes. O filme é também a prova de que, para agradar ou ser bom não precisa ter uma história complexa e confusa, basta apenas se concentrar em contar bem a história a que estamos sendo apresentados respeitando as pessoas que irão assisti-lo. Uma ótima pedida para os casais. Diferente disso, é quase certeza de desaprovação.

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