Já disponível nas locadoras, onde terá mais chance de conquistar público, Deu a Louca na Chapeuzinho chega, à princípio, como uma tentativa de se apresentar algo diferenciado no ramo da animação computadorizada. Ramo este que, em pouco mais de 10 anos, desde que Toy Story (ou o brasileiro Cassiopéia, como preferirem) foi lançado para inaugurar esse novo tipo de animação nos cinemas, já começa a mostrar sinais de cansaço crônico. Pode-se dizer, no final, que o objetivo de "Chapeuzinho" foi cumprido, mas de uma forma muito limitada. O filme tem sim seus diferenciais, mas ainda faz parte do mesmo time que filmes como Os Sem-Floresta, Selvagem e tantos outros fazem parte: uma animação sobre animais bonitinhos.

O principal ponto do filme, o que dá a ele tal diferencial, é seu roteiro. Ele é interessante ao brincar com as expectativas da platéia, ou seja, não necessariamente o lobo é mau e a vovozinha é santa. Também se destaca a construção do roteiro: contar uma mesma história por vários ângulos diferentes – um para cada personagem principal – não é exatamente algo novo no cinema (bem pelo contrário), mas fazer isso em filmes de animação pelo menos é um diferencial. Mas é bom ressaltar que, sendo assim, a estrutura narrativa é construída para o prazer dos adultos, já que as crianças não gostarão ou não se importarão com esse detalhe.

As piadas são uma mistura de humor visual (o mesmo de sempre, essa parte deve agradar às crianças) com humor irônico, que agradará mais aos adultos. O filme tem cenas um tanto quanto “over-the-top” (exageradas) em muitos momentos, ultrapassando o limite do aceitável e entrando no território do mau gosto (a vovozinha que pratica esportes radicais), mas quase sempre, mesmo nesses momentos, o filme continua sendo, no mínimo, divertido. Para as crianças e para os adultos, o melhor é acompanhar o personagem do esquilinho. Este consegue se destacar entre tantos personagens animais, não só dentro do mundo da chapeuzinho, mas em comparação com tantos outros esquilos ou “similares” de animações recentes. Suas falas rápidas e seu jeito elétrico são simplesmente impagáveis. E o que é melhor: tanto no idioma original quanto dublado em português, o personagem é encantador.

Tecnicamente, a animação é extremamente colorida e bonita em uns momentos e feia e muito simples em outros, o que dá ao filme aparência de desenho animado feito para a televisão. Mas não posso ser injusto: as paisagens são muito belas, mesmo à noite (o que é raro). Finalizando, pode-se dizer que ainda que seja divertido, engraçado, bastante bonito, e tenha um ou outro elemento diferenciado, Deu a Louca na Chapeuzinho pode perfeitamente entrar no pacotão de animações [cada vez mais] dispensáveis que os estúdios estão preenchendo nesses últimos anos. Mesmo dirigido por três diretores diferentes (o que não necessariamente quer dizer três vezes mais talento), a falta de originalidade é assustadora.