A história de Deu a Louca em Hollywood gira em torno de quatro órfãos não muito jovens: uma foi criada por um superintendente do Museu do Louvre (onde está escondido um assassino albino); outro é refugiado da luta "libre" mexicana; a terceira é vítima recente de serpentes a bordo de um avião; e o quarto é um residente da comunidade de mutantes X que, em vez de liberar grandes asas, tem na verdade um acanhado amontoado de penas de frango nas costas, que o faz cacarejar (de medo).

O leitor há de se divertir mais lendo sobre Deu a Louca em Hollywood e vendo partes do filme no Youtube do que o filme em si. Isso porque resumos como o de cima e os trechos na internet são pequenos, têm alguma graça e, como são curtos, até podem divertir. No caso do filme, é mais complicado: as piadas acima não se sustentam ao longo de uma hora e meia. Em DVD, na TV, tudo bem, mas no cinema não funciona. Esqueça Apertem os Cintos... o Piloto Sumiu, obra-prima se comparado a essa nova produção.

Na sala escura, ver Deu a Louca em Hollywood é algo penoso e desnecessário. Nem os mais enfadonhos filmes iranianos são tão difíceis de assistir quanto a essa suposta comédia leve e desprentensiosa. Fazia muito tempo não se via um filme tão ruim distribuído – em época de tamanha concorrência, era de se esperar que não fossem lançados comercialmente no circuito exibidor. Entretanto, contratos com multinacionais americanas forçam esse tipo de produto no mercado brasileiro. É tão ruim que pode ser considerado "abaixo da crítica", como se dizia antigamente.

Apesar de ter sido o filme mais visto no fim de semana da estréia (US$ 13 milhões), Epic movie fracassou estrepitosamente nas semanas seguintes e pode ser considerado um fracasso, uma vez que arrecadou pouco mais de US$ 34 milhões. É um alento para quem gosta de cinema saber disso, ao mesmo tempo que deixa claro que o marketing garante sim monstruosidades como essa na lista dos mais vistos independente de seu conteúdo.

O filme foi roteirizado e dirigido por Jason Friedberg e Aaron Seltzer, da equipe de seis roteiristas de Todo Mundo em Pânico e diretores de Uma Comédia Nada Romântica. A idéia, louvável, era tirar sarro das megaproduções do verão, nas férias americanas, aqueles filmes barulhentos, lotados de efeitos especiais e imbecilóides que garantem bilhões de dólares ao redor do globo em lucros. Tanto que o filme é estruturado em cima do sucesso As Crônicas de Nárnia (só que a terra onde se passa a trama é Gnárnia), um colosso que arrecadou só nos EUA US$ 292 milhões e quase o dobro disso em todo o mundo.

Sem muita inteligência e nenhum jeito para a paródia, os criadores limitam-se a fazer piadas "politicamente incorretas" sobre minorias (na verdade, piadas preconceituosas e grosseiras mesmo): os albinos em O Código da Vinci, os gays em A Fantástica Fábrica de Chocolate, latinos em Super Nacho, negros em Serpentes a Bordo, gordos em X-Men (no momento mais indigesto), além de prostitutas, irlandeses, anões, ingleses, orientais e, claro, os "losers", que a cultura americana tanto rejeita. Tem gente que adora isso, principalmente os fãs de Casseta & Planeta, mas há dúvida se esses espectadores irão gostar do filme.

Isso porque Deu a Louca em Hollywood é um compêndio de piadas sem graça, só que adolescente, ou seja, tudo é feito de maneira imbecilóide para agradar a um público com menos de 16 anos que é, em tese, o principal consumidor deste tipo de produto. Além de bobo, o "humor" é ingênuo. Não há ironias nem sacadas políticas e sociais espertas e por vezes inteligentes. Só bobagem mesmo, pegando carona nas fofocas e superpublicidade que os grandes filmes de Hollywood têm – ou seja, oportunismo cínico.

Enfim, Deu a Louca em Hollywood não é nenhuma aberração, apenas um produto que deu errado. Era para ser uma versão revigorada e expandida de Todo em Mundo em Pânico, que já estava na quarta continuação e tinha a limitação de tratar somente filmes de terror. Outros como ele virão, talvez com mais sucesso. Um filme para ser descartado, nada mais.