O filme brasileiro com melhor reconstituição de época já feito.
Desmundo, baseado no romance de Ana Miranda, é o filme brasileiro com a melhor reconstituição de época já feita. A atenção para detalhes arrebata a atenção do espectador em cada cena, resultando em um Brasil Colônia retratado de maneira nunca antes vista nas telas. Pena que a história cheia de altos e baixos compromete o que poderia ser um dos melhores filmes da temporada. Eu ia escrever ‘retomada’ como muita gente gosta de dizer quando se refere à safra recente de filmes nacionais, mas acredito que o termo já está ficando datado.
Assim que a primeira frase é dita na tela se percebe que a coisa está sendo levada a sério: o filme é todo falado em português arcaico, com legendas para ajudar na compreensão. Isso causa um efeito que distrai a atenção no início, mas só esse detalhe da língua já faz uma enorme diferença na tentativa de criar uma aura de autenticidade. Acho que esse era o principal objetivo do diretor Alain Fresnot, e posso dizer que ele foi extremamente bem sucedido, porém resulta num filme um tanto distante, o que acaba por fazer com que o espectador não se importe muito com o que acontece aos personagens, restando apenas o impressionante retrato de época.
No século 16, o Reino enviava órfãs brancas para casarem com os colonizadores, a fim de manter a supremacia da raça numa tentativa de minimizar a miscigenação. O filme é sobre uma dessas órfãs, chamada Oribela, (Simone Spoladore) que se casa com Francisco, um fidalgo rude (Osmar Prado) e juntos desenvolvem uma relação conturbada, agravada pela presença de um outro homem (Caco Ciocler).
É um filme sobre um triângulo amoroso, a previsibilidade da segunda metade acaba fazendo com que se perca o impacto do início, agravada por um final brusco e anti-climático. Pelo menos o trabalho dos atores é excelente, Simone Spoladore e Osmar Prado em especial, dão a seus personagens uma densidade e uma força que dá gosto de ver. Destaque também a Berta Zemei que faz a mãe de Francisco e rouba todas as suas cenas apesar de poucas.
Mas se você espera ir ao cinema só pra se divertir, escolha outro filme, Desmundo é bastante dramático e muitas vezes angustiante, ver os péssimos hábitos de higiene da época também não é uma coisa agradável, mas ainda que a história não prenda a atenção, o filme vale a pena por ser uma viagem muito bem realizada a um período mal retratado da nossa história no cinema, um filme que sem dúvida se tornará uma referência para outras produções de época no Brasil.
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