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Críticas

Cineplayers

Signos e símbolos na apoteose da vagabundagem.

9,0
Na virada dos anos 70 para os 80, a violência avassaladora começa a corroer os EUA, chegando na sociedade americana de maneira indiscriminada até fazer quase parte da cultura. No início do novo século, o dinheiro e a sede de poder ditam as regras e corrompem qualquer tipo de relação, sejam elas sexuais, amorosas ou profissionais. Nos dias de hoje, é a imagem enquanto obsessão um dos principais tópicos de esfacelamento; tudo é imagem, tudo é obsessão, tudo é plástico.

Jesse é uma jovem do interior que chegou no centro do mundo para quem quer vender beleza: Los Angeles, a cidade dos anjos... e dos sonhos. Para Jesse, eles se realizarão quando conseguir explorar a imagem inocente e pura que é intrínseca a ela, e é alvo de inúmeros sentimentos conflitantes e negativos em espiral cada vez mais acelerada. Jesse irá esbarrar em um jovem fotógrafo, um gerente de hotel, duas modelos experientes, uma caça-talentos, um estilista e uma maquiadora, todos sedentos por algo mais, algo novo, algo definitivo; Jesse irá esbarrar neles. E eles, irão esbarrar em algo?

Nos créditos de abertura, algo parecido com uma marca d'agua parece indelével na tela: um conjunto de iniciais, 'NWR'. É uma forma de demarcar terreno como os caronas "do visionário diretor de ...", ou de um pretensioso 'Nicolas Winding Refn's', que tantos autores já usaram. Então isso quer dizer que o tal Nicolas Winding Refn aboliu de vez a pretensão? Não, e tirando por esse diabo iluminado a impressão que se tem é que dificilmente o fará. Mas a pretensão é um substantivo que pode ser usado a favor ou contra de quem o tem; NWR será mais ou menos respeitado tal qual for a compra do espectador para com a sua obra, se for identificado até que ponto essa pretensão inerente a ele é positiva ou negativa.

Não faz qualquer sentido amores ou ódios em relação a opinião de quem quer que seja a respeito da qualidade desse produto em particular, já que a experiência Demônio de Neon é uma das mais subjetivas e pessoais que recentemente presenciei na sala escura. Com infinito potencial feminista, o dinamarquês mais americano da atualidade propõe tantas discussões quanto poderiam caber em 1h e 50 de duração. Na primeira sequência, pra mim, todo mistério já é revelado, mas o filme pode ser apreciado como escapismo B, como alegoria sobre a força e a forma do 'girl power', como um suspense surreal de desdobramento sensorial, ou você pode olhar mais perto...

(ATENÇÃO: descreverei minha compreensão do filme, no que possivelmente não terei intenção de preocupação anti-spoiler; conta e risco)

Ora bolas, tal qual Anton Chiguhr e Eric Packer, Jesse é um instrumento metafórico e desprovido de motivações humanas; eles se movem para comprovar suas teses. Embora os irmãos Coen e David Cronenberg tenham recheado seus libelos de vida, atmosfera e algum senso de cumprimento de ações, as obras de Cormac McCarthy e Tom DeLillo já identifica seus personagens como metáforas. A obra de Nicolas Winding Refn não é adaptada de coisa alguma que não a própria cabeça, e a ele tb interessa essa encenação nas raias do abstrato, aqui em radicalismo ultra. Mas talvez NWR vá mesmo além na proposta narrativa: Jesse não necessariamente existe.

Como colocar essa teoria sem promover um debate incompreensível e eterno? Vejam bem: Jesse é uma busca, é o inatingível, é o sonho, a imagem, a ideia de tranquilidade e perenidade. Sua não-existência é explicitada em algumas passagens, a começar na primeira onde o jovem fotógrafo a clica com afinco; num frame, o vazio do espaço. Em outro momento, o quarto do hotel é invadido por algo desconhecido, e ao confrontar o gerente a um guepardo, fica claro quem estava enfim utilizando o quarto semi intacto do estabelecimento. Outra questão: seus eventuais desaparecimentos não são sentidos e/ou questionados por nenhum outro personagem. Atenção: isso é só uma teoria que não tem qualquer intenção de provar versão, apenas uma forma de observar os simbolismos propostos por NWR sob uma ótica onírica.

É lógico que há uma representação física como nas outras obras citadas. Elle Faning empresta sua singeleza angelical para a personagem, e ela passeia em cena com segurança crescente e atitude gradativa. Mas todos que cercam Jesse buscam um arquétipo pra viver. Segurança afetiva, segurança material, juventude, essência, prestígio, sucesso, e muitas tantas outras coisas que vêm personificadas em Jesse, no qual sua representação gráfica precisa ser delineada; ela é o arquétipo, um ou todos. Por isso temos Elle, da mesma forma que tivemos Javier Bardem e Robert Pattinson.

O mais curioso dessa jornada particular e única é notar que apenas uma visão não é suficiente para dar conta da quantidade de camadas que o conto de NWR pretende caminhar. Ou seja, é particular, é único e paradoxalmente tb é coletivo e necessita de elementos externos para nova observação. Para, numa curva surpreendente, falar de algo tão particular e únicos quanto a imagem de cada um, e como esse conceito pode ser diferente se analisado em conjunto. É o cúmulo da proposital traição da proposta inicial, que como num círculo, volta ao início desse jogo que mistura sofisticação e vagabundagem em todos os quesitos.

Comentários (2)

Lucas Nunes | segunda-feira, 28 de Novembro de 2016 - 22:29

Critica perfeita de um diretor altamente subestimado.

Caio Lucas | terça-feira, 29 de Novembro de 2016 - 20:59

Texto preguiçoso, além de desorganizado e sem profundidade, não me elucidou nem evocou nada mais, impressões sempre rasas, acho com sinceridade o Carbone um dos piores "críticos" que já li.

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