Uma homenagem convencional para um artista nem um pouco convencional.
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6,0
Da geração que mudou a forma como se fazia cinema americano nos anos 70, Brian De Palma se destaca como um dos nomes mais relevantes, controversos e radicais. Apostando em técnicas estilísticas pouco convencionais na indústria, escolhendo temas indigestos e continuando o legado da sua influência central, Alfred Hitchcock, de forma mais intensa que todos os outros contemporâneos, seu nome chega aos dias atuais até mesmo subestimado se levarmos em conta a quantidade de filmes marcantes e centrais em um dos auges estéticos da indústria à época.
Noah Baumbach e Jake Paltrow, ao filmarem um documentário que pretende celebrar a carreira de um artista tão relevante, não quiseram saber de inventar muito, o que acaba sendo o grande problema do filme De Palma: o filme cai na armadilha esquemática do “talking head”, ou “cabeça falante”. Ainda que se use créditos que homenageiam o estilo do Príncipe do Suspense, todo o resto do filme consiste no cineasta sentado falando sobre os próprios filmes, suas ideias, realizações e frustrações, alternando com fotos de arquivo e inserts dos filmes quando os mesmos são citados.
Basicamente, é o que temos. De Palma está lá para ser homenageado e não confrontado, o que só reforça a impressão de chapa branca. Registros em vídeo que mostrem seu processo, depoimentos de colaboradores frequentes como atores, atrizes, fotógrafos, roteiristas, compositores… Nada. O diretor fala de seu trabalho, filme a filme, como se o que estivéssemos assistindo fosse na verdade um extra de dvd.
Com o potencial cinematográfico jogado fora, restam as deliciosas curiosidades: atores preguiçosos sabotando filmagens, o jogo de cintura para lidar com produtores, fatos engraçados e/ou bizarros ocorridos durante as filmagens, comentários sobre as influências e influenciados, opiniões sobre como dirigir uma cena e visões já amadurecidas sobre os próprios erros e acertos: mora aí o ouro de De Palma, que passa longe de ser um testemunho tão impactante quanto, digamos, Directed By John Ford de Peter Bogdanovich.
Não há nem a voz do entrevistador, sugerindo que os diretores se colocaram na posição mais passiva o possível e deixaram o objeto de estudo falar, falar e falar. Pode frustrar os que foram com a esperança que o filme traga um novo olhar sobre sua carreira ou desafie o entrevistado para além do convencional. O que é uma pena, já que o artista escolhido para receber a homenagem merecia bem mais que pura rasgação de seda celebratória. No resumo da ópera, vale como curiosidade.
Visto no Festival do Rio 2016
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