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De Novo Outra Vez

(De Nuevo Otra Vez, 2019)
5,3
Média
3 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Leves reflexões femininas

5,0

Romina Paula incorre no mesmo dispositivo que Letícia Simões abraça em Casa, tentando documentar sua vida particular às margens da ficção, mordiscando saídas para suas inquietações através da criação. Seu filme nasce dela em descobrir um novo espaço no mundo, independente de ser mãe, ser esposa, ser profissional, ser mulher, e não abnegar-se de nenhum desses lugares e se reinventar. Ou seja, Romina está no mesmo provável lugar que tantas outras mulheres no mundo, do lugar pensante na atual conjuntura em que se encontra. Um universo de possibilidades deveria apagar outros? Quando começar a insatisfação, qual o melhor caminho a tomar? O cinema será um eterno divã de realizadores? Como transformar nossas frustrações em espelhos de diálogo com o resto do mundo?

Romina está em bloqueio emocional e resolve dar passos atrás para investigar as possíveis causas de suas frustrações e talvez a partir daí se sentir menos incompleta. Voltar para casa da mãe é um símbolo de tentativa de compreender o passado para reorganizar o presente, e a diretora investiga os antepassados alemãs, sua árvore genealógica mais direta para compreender se esse legado alemão a recolocaria em contato com o que se perdeu. Ao vasculhar seu passado e as fotos de seus familiares, ao reencontrar o acolhimento da mãe e se integrar ao universo de ser mãe e filha ao mesmo tempo, ela vai abrindo seus horizontes para o novo... de novo. E o que seria o novo para uma mulher de mais de 30 anos, com um filho pequeno, nos dias de hoje? Voltar a ser jovem ou encontrar sentido no que é a sua realidade atual? Romina passeia por desejos e anseios para tornar a encarar o hoje.

Talvez não tenha sido uma boa escolha da curadoria programar De Novo Outra Vez pra mesma sessão competitiva do Olhar em que estava Casa. Se não são filmes idênticos, ao menos partem de elementos afins para mostrar tentativas de observar o mundo, com gatilhos que conversam - embora o documentário seja a força motriz lá e apenas um dado aqui. Mas a conversa entre os dois filmes faz o longa de Romina empalidecer, ganhando ares de comédia romântica por alguns momentos, que poderia ser protagonizado por uma moderna Drew Barrymore. A diretora se vê em dilemas emocionais típicos de uma produção empoderada geração 2019 sem qualquer olhar negativo para tal, mas que estão em consonância com momentos de ficção dos últimos 30 anos. Na programação do festival, foi uma lufada de leveza e comunicação ampla com o público, sem querer nunca diminuir as questões por quais a realizadora coloca na tela, mas essa não é uma trajetória nova, embora particular.

O filme ainda apresenta um entorno a Romina que nos deixa ansioso por mais. Ainda que o filme gire em torno da protagonista, seus coadjuvantes são imensos em carisma e personalidade, cheios de histórias igualmente interessantes para ouvir. Seu aluno de alemão, sua melhor amiga (que solta pérolas preciosas sobre si mesma), a irmã dessa amiga que tem uma situação-chave muito específica, e principalmente a mãe de Romina, um poço de cultura, compreensão, amor e desvelo com a filha e o neto, uma mulher que merecia ter sua história mais debruçada, principalmente pelos laços que Romina tenta criar com o passado. Tão ligada a montar painéis com fotos e depoimentos dos coadjuvantes, Romina esquece de dar voz real a eles, que poderiam render muito mais a seu filme, que fica com uma sensação de gostosa 'sessão da tarde', quando poderia ser mais. 

Filme visto no Olhar de Cinema de Curitiba

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