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Danças Macabras, Esqueletos e Outras Fantasias

(Danças Macabras, Esqueletos e Outras Fantasias, 2019)
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Críticas

Cineplayers

Da finitude e da perpetuação

8,0

Os cineastas Rita Azevedo Gomes e Pierre Leon se unem ao filósofo e escritor Jean-Louis Schefer e caminham por bosques, museus e contemplam a paisagem e as obras de arte enquanto ouvem o escritor monologar inicialmente sobre as 'danças macabras', movimento cultural que rompeu as bases da arte no século 15, influenciando a literatura, as artes plásticas, a música, e chegando até a Igreja. Consistia nas ideias de que a Morte chega para todos e nos coloca em situação igualitária, tendo suas representações visuais sua chave maior de entendimento. É só pensar no final de O Sétimo Selo ou nas gravuras de Guyot Marchaht para reconhecer o movimento.

Essa é uma das bases desse filme coletivo, pensado e realizado a seis mãos, que tem um desenvolvimento a partir de uma espécie de 'visitas guiadas' à mente de Schefer, o grande orador por trás do projeto. Suas observações sobre o movimento são o princípio de tudo, verdadeiras aulas magnas sobre o tema, que obviamente acabam vislumbrando o sentido de finitude no projeto a seus autores e também no espectador. Ao mergulhar no momento histórico criado há quase 700 anos atrás, e acompanhar sua sobrevivência através de companhia tão acurada no tema, revemos nossos conceitos sobre efemeridade.

Quanto mais o filme se debruça na figura hipnótica de Schefer, no entanto, maior fica. E mais consonância com a própria obra vai ganhando, além da própria reflexão sobre finitude ser amplificada. Aos 80 anos, o filósofo é um homem encantado e obcecado pela imagem captada, seja em cinematógrafo, pintura ou gravura, que ressente a importância dessa linha imagética artificializada pela realidade, diminuída por ele. Esse é um dos mais significativos pensamentos dele, expor sua própria preferência ao artifício do que à vida real que o filme coloca em cena, seus próprios amigos e a infinita natureza que os rodeia.

Seguindo entre viagens à França e à Portugal, o filme parte das figuras representadas no movimento 'danças macabras' para contribuir com ambiguidades a sua realização. Um grupo de amigos cuja juventude já não é mais uma característica dedica-se a analisar uma obra que atravessou séculos e que persiste em relevância é a própria síntese da perpetuação da espécie, principalmente quando há uma elevação do pictórico - ou seja, um reflexo mais do futuro, onde todos nós estaremos imortalizados de alguma forma, que do presente. Em meio aos espaços naturais que os cercam e que também são perpétuos, um estudo sobre a perenidade diante do fim.

- Visto no 13º CineBH 2019

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