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Curtindo a Vida Adoidado

(Ferris Bueller's Day Off, 1986)
8,2
Média
1075 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Ferris Bueller eternizou uma geração e continuará a ser lembrado por muito tempo.

9,0

Curtindo a Vida Adoidado é a representação máxima daquilo convencionou-se chamar “clássico da Sessão da Tarde”. Ao lado de outras obras seminais como Os Goonies, De Volta Para o Futuro e Esqueceram de Mim, apenas para citar algumas, o filme de John Hughes virou sinônimo de diversão escapista, ainda que inteligente, voltada a um público adolescente que passa as tardes em casa assistindo televisão. Uma geração inteira cresceu assistindo a estes filmes e, ainda que Gordo, Sloth, Martin McFly, Doc Brown, Kevin McAllister e os bandidos molhados tenham um lugar garantido no coração destes espectadores, nenhum deles se compara ao ícone que é Ferris Bueller.

E quem é Bueller? Interpretado por Matthew Broderick, Ferris Bueller é um adolescente que decide matar aula para aproveitar o dia. Após fingir-se de doente para os pais, Ferris parte para um dia na cidade ao lado da namorada Sloane e do amigo depressivo Cameron, visitando lugares e se divertindo. Tudo isso enquanto é perseguido pelo incansável diretor da escola, disposto a provar que Bueller está enganando a todos, e ainda lida com a fúria da irmã, ressentida pelo fato dele sempre conseguir se livrar dos problemas.

Como se vê, Curtindo a Vida Adoidado não traz um enredo mirabolante ou personagens profundamente delineados. A premissa da história, na realidade, não poderia ser mais básica: um adolescente que mata aula para se divertir. Simples assim. O que fez (e ainda faz) da obra um acontecimento cultural tão impactante é a maneira irresistível na qual ela é contada pelo diretor e roteirista Hughes, além, é claro, de girar sobre um tema capaz de apelas a qualquer pessoa em qualquer idade.

Responsável por outros clássicos do cinema adolescente como O Clube dos Cinco, John Hughes conseguiu como poucos capturar em celulóide os sentimentos de uma geração. Se no filme citado na frase anterior o cineasta desconstruía de maneira inteligente todos os mitos e estereótipos do gênero, em Curtindo a Vida Adoidado ele cria uma ode à diversão e ao hedonismo, uma lição de carpe diem que faria o professor de Sociedade dos Poetas Mortos sentir-se orgulhoso.

O grande acerto de Hughes foi dar ao seu filme um tom propositadamente exagerado. Se o espectador pensar bem, não há nada de tão fatal em matar aula, mas o cineasta transforma este tema numa questão de vida ou morte. Para Bueller, nada é mais importante do que isto, assim como capturar o garoto é o único objetivo da vida do diretor Ed Rooney. Esta abordagem satírica rende momentos impagáveis e hilariantes, como a corrida final de Bueller para chegar em casa antes dos pais.

Aliás, listar os momentos inesquecíveis de Curtindo a Vida Adoidado é um desafio para qualquer um que queira escrever um texto curto. Desde a atuação canhestra de Bueller para enganar os pais no início até a última cena, com o personagem avisando o espectador que o filme acabou, o filme é uma seqüência de partes que hoje encontram-se arraigadas no imaginário cultural. Quem não lembra da Ferrari sendo destruída ou de frases como: “A vida passa rápido demais. Se você não parar e olhar para ela de vez em quando, pode acabar perdendo”?

Mas a maior qualidade de Curtindo a Vida Adoidado é, sem dúvida, seu protagonista. Um dos pontos principais para o sucesso de um filme é a capacidade da platéia se identificar com o protagonista. E não existe pessoa que não se identifique com Ferris Bueller. Todo mundo quer ser Ferris Bueller. Não importa se é homem ou mulher, jovem ou adulto. Fazer o que Ferris faz no filme é o sonho de todos: livrar-se de todas as preocupações e apenas curtir a vida, aproveitar o que ela tem de melhor. Em outras palavras, é o “ligue o foda-se e seja feliz”. Quem nunca se imaginou no lugar do protagonista, cantando Twist and Shout no meio da cidade para uma platéia enlouquecida?

Por tudo isso, Matthew Broderick sempre será Ferris Bueller. Este é um ator que ficou marcado eternamente em um papel e é difícil desassociá-lo do personagem. Divertindo-se ao extremo, Broderick fez de Bueller uma figura contagiante, um adolescente seguro de si mesmo e que coloca a vida como prioridade (“Como esperam que eu vá à escola num dia como esse?”, pergunta o personagem). Com muito charme e carisma, o ator carrega o filme com desenvoltura, inclusive tirando de letra as cenas nas quais seu personagem fala diretamente para a câmera (recurso eternizado por Woody Allen em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa e utilizado centenas de vezes nas décadas posteriores).

Da mesma forma, o resto do elenco também tornou-se a face única destes personagens. É difícil imaginar outros atores nos papéis. Sempre que vejo Alan Ruck, por exemplo, penso nele como o amigo de Ferris. O mesmo acontece com Jennifer Grey, que interpreta a irmã, e Jeffrey Jones, que encarna o diretor Rooney de maneira caricatural e divertidíssima. Jones apenas não rouba a cena porque Ferris é um personagem emblemático, mas o obstinado algoz do garoto é capaz de figurar em qualquer lista de grandes vilões do Cinema.

Claro que o roteiro de Curtindo a Vida Adoidado é simplista ao extremo e superficial em suas abordagens. O conflito do personagem de Cameron, por exemplo, jamais é tratado de forma mais profunda, com a mudança de atitude acontecendo de uma hora para outra.

Mas o filme não tem a menor intenção de assumir uma complexidade shakespeareana em relação aos personagens. Se o fizesse, perderia seu charme ainda intocável e sua posição como bíblia da juventude. Contando também com uma trilha sonora inesquecível, John Hughes construiu uma obra eterna, capaz de falar com qualquer pessoa que, alguma vez, já pensou em rebelar-se contra o sistema e curtir a vida. Como a grande imensa maioria das pessoas encontra-se nessa definição, Curtindo a Vida Adoidado continuará sendo assistido. E Ferris continuará sendo lembrado.

Comentários (3)

Ana Luiza Aragão | domingo, 12 de Fevereiro de 2012 - 12:35

A melhor cena é a do Ferris cantando ''Twist And Shout'' no desfile no meio da rua!Essa cena é legal! xD

Caio Gouveia | quinta-feira, 16 de Agosto de 2012 - 08:04

Se a sessão da tarde FOSSE algum filme, seria esse. é impossível assistir sem nostalgia. é impossível não querer, por apenas um dia, ser Ferris Buller.

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