A roupagem pode ser diferente em cada filme, mas em essência, a Dreamworks já criou sua marca registrada, que começou cambaleante em trabalhos menores, como Formiguinhaz (Antz, 1998), até alcançar o reconhecimento do Oscar com Shrek (idem, 2001), para depois cair precocemente na praga das continuações e da falta de inventividade, um defeito imperdoável no campo das animações. Em suma, sua história de moral foi sempre a mesma em cada uma dessas produções, e isso poderia ser até tragável se não fosse a tal lição de moral tão cansativa e surrada. A Pixar, por exemplo, também trabalha com as mesmas lições de moral de sempre, mas o faz de forma tão sutil, que poucas vezes isso chega a incomodar. No caso da Dreamworks, a trama é sempre a de um personagem principal desajustado saindo de sua zona de conforto para enfrentar um novo mundo e novas pessoas desconhecidas.
Shrek teve de sair de sua vida reclusa no pântano para enfrentar um mundo de contos de fadas que insistia em desprezá-lo; Oscar, o peixinho impopular de O Espanta Tubarões (Shark Tale, 2004), sai para conhecer um novo universo de popularidade e fama depois de ser confundido com um matador profissional; os animais domesticados de um zoológico de Nova York, em Madagascar (idem, 2005), devem enfrentar a vida selvagem depois de serem mandados acidentalmente para seu habitat natural na África; Os bichinhos que decidem fugir para o outro lado da cerca e conhecer o mundo dos humanos em Os Sem Floresta (Over the Hedge, 2006); o panda preguiçoso que vira mestre em artes marciais em Kung Fu Panda (idem, 2008); ou o menino fracote que tenta unir o mundo dos vickings com o dos dragões de forma pacífica, em Como Treinar o Seu Dragão (How to Trian Your Dragon, 2010) – e, agora, a família da idade das pedras que começa a enfrentar a fragmentação da Pangeia em Os Croods (The Croods, 2013).
O choque de conhecer um novo mundo, uma nova realidade, e sair de sua zona de conforto, sempre foi um dilema com o qual os personagens da Dreamworks tiveram de lidar. Nesse meio há também a questão de todos serem, na maioria das vezes, pouco propícios para o processo de adaptação, o que gera incontáveis momentos cômicos em meio a muitas tentativas de tentar entender aquilo que lhes é considerado como novo. No caso de Os Croods, todos esses dilemas são envoltos no núcleo familiar, com os mesmos conflitos de sempre em animações, do pai severo batendo de frente com as ideias modernas da geração mais nova dos seus filhos. Na verdade, lembra muito a linha de Valente (Brave, 2012) e A Era do Gelo 4 (Ice Age: Continental Drift, 2012), em especial nesse ponto da relação do pai com a filha.
O problema nessa trama está justamente na forma como ela expõe a falta de criatividade da maioria dos estúdios de animação atualmente, incapazes de criar uma história que não termine no clímax de uma família/amigos se abraçando e dizendo o quanto sente muito e se ama, apesar das diferenças. Não deixa de ser bem intencionada, e talvez até emocionante para os mais sensíveis, mas não justifica que paguemos um ingresso para assistir a mesma história de sempre, mudando apenas a roupagem. Também é cansativo ver nos personagens da família Croods, nada mais do que uma variação do próprio Shrek, um bando de brucutus desajeitados que no fundo guardam um grande coração mole.
Os Croods aposta nessa mensagem de saber ceder quando há o choque de ideias. O pai que gosta de manter a família toda socada numa caverna e as incentiva a sempre temer tudo e nunca arriscar fazer nada de novo, se choca com os ideais da filha que acredita que o mundo lá fora é cheio de novas oportunidades. Quando o mundo começa a desmoronar e eles perdem sua caverna protetora, desmorona junto o conceito de família que todos ali mantém, já que o pai e suas regras ultrapassadas já não são capazes de dar conta dessa nova realidade. As novas ideias, o saber enfrentar novos desafios, mas sem deixar para trás os valores quem mantém uma família unida, são alguns dos temas que passeiam pelo decorrer do filme. Sim, é o que se espera de um filme-família, mas não custa nada para nós espectadores também exigir um pouquinho dos estúdios de animação. Se a Dreamworks tanto prega essa ideia de se arriscar em algo novo, ela poderia fazer o mesmo e sair de sua zona de conforto, que já perdeu a graça faz tempo.
Os Croods aposta nessa mensagem de saber ceder quando há o choque de ideias. O pai que gosta de manter a família toda socada numa caverna e as incentiva a sempre temer tudo e nunca arriscar fazer nada de novo, se choca com os ideais da filha que acredita que o mundo lá fora é cheio de novas oportunidades.
Não vi o filme, mas...sound like "Brave" to me!😁
é mesmo Paulo, esqueci de citar Valente no meu texto, tinha em mente colocar qdo citei A Era do Gelo 4, mas na hora de escrever acho q acabei esquecendo hehe. Mas já adicionei ao texto a citação ;)
É o mesmo besteirol dos desenhos da Pixar, ambientado em um mundo pré-histórico cheio de liberdades criativas. Bonito pra caramba (MESMO, fica pau a pau com Universidades Monstros nas cores), mas totalmente reciclado e óbvio.
Gostei. Foi uma grata surpresa. Divertido, engraçado e tecnicamente exuberante. Não é genial, mas cumpre o seu papel.