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Críticas

Cineplayers

Crime entre iguais.

7,0

Interessado em trabalhos com foco criminal, Alain Corneau em Os Profissionais do Crime (Le Deuxième Souffle, 2007) construiu um longa que soa como um thriller psicológico a partir da lógica da marcha de seus protagonistas e de uma sucessão de eventos e relações, onde um jogo de interesses e sedução numa poderosa multinacional desarranja vínculos entre cúmplices. São como cobras se devorando num terreno em que a mais forte se sobrepõe.  Acontece com um anseio obscuro e exuberante, por assim dizer, os flertes entre a dupla central, quando acompanhamos seus olhares e palavras que funcionam como execução. Nesse âmbito, seguiremos o desenrolar de uma história estimulante pelo que propõe e que cresce curiosamente à medida que se aproxima de seu ato final, enrustido num afeto por conveniência, sucedendo o Crime de Amor (Crime D'amour, 2010).

Não se trata de um duelo entre leões e cordeiros, mas de espécies semelhantes que se devoram, uma antropofagia simbólica em nome do sucesso numa empresa dominada por uma mulher de poucos escrúpulos, Christine (Kristin Scott Thomas, em outra grande performance). É uma persona de fibra e poderosa, sustentando tradicionais clichês de personagem, porém fortalecida e diferenciada pelo talento natural de Scott Thomas. Ela faz dos outros à sua volta títeres, encaminhando passos e modelando ações segundo pretensões particulares, utilizando de facetas aleatórias por um objetivo onde seu nome se eleva. A lealdade é algo aparentemente extinto ali, ideia reforçada em seu ato final, discutível pela possibilidade de sugestão, contrariando o lugar comum com resoluções mastigadas encontradas em típicas produções comerciais que atulham prateleiras.

No meio do tiroteio destaca-se Isabelle Guérin, assistente pessoal de Christine e que vem fazendo sucesso na empresa, cada vez mais respeitada, embora nunca fique com os créditos finais. Isabelle é vivida pela bela Ludivine Sagnier, estrela de François Ozon em bons filmes como “Swimming Pool - À Beira da Piscina” e “Gotas d'água em Pedras Escaldantes”. Demonstrando seriedade e ingenuidade através de sua composição, olhares, roupas e maneira de arrumar o cabelo, percebe seu crescimento estacado graças a limitações imperativas e decide agir tal como sua chefe, convertendo-se num tipo de loira fatal, ao estilo hitchcockiano, experienciando imediatamente o deleite do êxito. Tal fato a torna uma ameaça, içando tensões que resultarão em delito. 

Sagnier e Kristin Scott Thomas travam um duelo bastante interessante através de suas personagens que sofrem mutações ao longo da narrativa pelas exigências da profissão e como defesa para a humilhação, rendendo investidas agressivas. Aprende-se com o erro, as pessoas mudam diante o que lhes interessam e se forçam, às vezes involuntariamente, a se tornarem adequações do mercado. Alienações de consumo. Não há tempo para o espectador se identificar com qualquer personagem, o diretor nem busca isso, apenas joga noções sociais na tela sobre situações habituais cruciais. O tempero é a perspectiva dos atos dos personagens, onde a inocência sobre suas condutas é ilusória.  

O diretor e roteirista Alain Corneau, que morreu logo após o lançamento do filme, concebe uma narrativa eficiente permitindo que o público se interesse pela sucessão de acontecimentos da trama, sendo que elabora um misterioso plano envolvendo Isabelle. Cabe ao público desvendar o que acontece e antecipar as ofensivas postas no bom enredo, sempre traçado por instigações. Imprevisões se acumulam, remodelando o caráter desviado, algo constantemente posto a prova. O trajeto é óbvio, o território é distinto. Mescla-se virtuosas explicações potencializando o inteligível roteiro de soluções fáceis, levando o suspense a se transfigurar num bom longa de investigação, sempre latente, revelando-se aos poucos, transformando-se igualmente seus personagens.

Comentários (3)

Bruno Kühl | sexta-feira, 04 de Janeiro de 2013 - 12:37

Boa crítica!
Não sei se vejo esse antes ou depois de "Passion", não sei qual vai prejudicar qual...

Marcos andré Pereira | sexta-feira, 04 de Janeiro de 2013 - 14:00

otima critica!
esse filme é até legal mas acho que a relação entre as duas ficou um pouco fraca e o suspense não é de manter os olhos muito na tela
talvez o de palma consiga um resultado melhor

Victor Ramos | sábado, 05 de Janeiro de 2013 - 17:45

Cadê a lista dos filmes citados no texto, hein?

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