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Críticas

Cineplayers

Revisitação ao filme de vampiro decepciona pela quantidade de problemas estruturais.

4,5

Quando Murnau adaptou Drácula, de Bram Stoker, para as telas de cinema pela primeira vez no longínquo ano de 1922, talvez não soubesse que estava iniciando uma das maiores mitologias da tela grande. Mitologia essa que andava meio esquecida desde que Francis Ford Coppola revisitou o livro na década de 1990 – não levando em consideração as cinesséries Anjos da Noite e Blade, meras derivações da temática vampiresca.

Eis que um fenômeno literário infanto-juvenil chamado Crepúsculo resgatou das trevas os “seres que se alimentam de sangue”. A série de quatro livros (até agora) de Stephenie Meyer conquistou adolescentes do mundo todo, em fenômeno parecido – ainda que de menor proporção – ao de Harry Potter, e logo foi transformado em película, com a continuação já agendada para estrear ano que vem.

Crepúsculo diz respeito a Isabella ‘Bella’ Swan (Kristen Stewart), jovem que vai morar com o pai policial na chuvosa Forks, após a mãe casar-se novamente. Ao chegar na nova cidade e na nova escola, é incrivelmente bem-recebida pelos colegas – isso mesmo, sem os clichês habituais –, e logo percebe uma curiosidade especial dos estudantes pelos Cullen, um grupo de alunos pálidos e socialmente excluídos, filhos adotivos do médico local, que têm o estranho hábito de se relacionarem entre si. Bella sente-se atraída por um destes sujeitos estranhos, Edward (Robert Pattinson), que também parece ter afeição pela moça, ainda que aja de forma a evitá-la.

É então que se forma o arco dramático da história, uma coisa shakespeariana entre uma reles mortal e seu predador ‘natural’. Mas não espere maior profundidade e situações-limite. O filme, roteirizado pela quase novata em cinema Melissa Rosenberg (Ela Dança, eu Danço), é banal em tudo a que se propõe – e aqui propõe muito pouco: um romancezinho bobo, e inacreditavelmente bem recebido por todos (sim, novamente uma fuga dos clichês), que só é abalado quando surge um trio de vampiros distintos que querem – estes sim – beber o sangue da donzela, numa tentativa tola de se criar algum tipo de ação e atrair mais adolescentes ao cinema.

Esqueça aqui o que você conhece a respeito dos vampiros. Por mais que sejam pálidos (em uma maquiagem excessiva) e imortais – além de beberem sangue, claro -, eles aqui andam durante o dia, não dormem em caixões, não têm medo de crucifixos e adoram jogar quadribol, quer dizer, beisebol.

Além de descartar tudo aquilo que há de mais sagrado para os fãs de Stoker, o filme ainda carece de um maior cuidado visual, algo impensável para suas ambições tão grandes. Excetuando seu bonito prólogo, o resto é um trabalho burocrático da diretora Catherine Hardwicke, ex-desenhista de produção que virou realizadora de títulos medíocres como Aos Treze e Jesus – A História do Nascimento e que, para alívio dos fãs dos livros, não irá comandar a seqüência, Lua Nova, que ficará a cargo de Chris Weitz (de Um Grande Garoto). Outro problema grave são as cenas em que exigem efeitos de computação gráfica, mal realizados e risíveis em certos momentos.

Entretanto, por mais ululantes que sejam os seus problemas, Crepúsculo levou e irá levar aos cinemas uma horda de fãs do livro e outros tantos querendo entrar no hype. Que assim seja.

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