Ingredientes diversos criam um resultado impactante e bastante agradável.
Peter Greenaway e seu modo de fazer cinema estão inseridos no seguinte bordão por muitos críticos: “Ame-o ou deixe-o”. Fazendo de seus filmes pinturas em movimento, o diretor ganhou certa antipatia de mídias especializadas após declarar que uma boa história pede um livro, e não um filme, e por acreditar que a verdadeira arte cinematográfica deva ser representada apenas através de recursos áudio-visuais.
Mesmo com esse pensamento, Greenaway fez de “O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante” uma obra repleta de simbolismos, plausivelmente anexados à miscelânea de assuntos levantados através de uma ótica polêmica, porém muito concisa. Tendo um título melhor do que qualquer sinopse, o filme exige do expectador mais do que diversos outros títulos pedem, por contar com muitas passagens que acabam subentendidas. O diretor cria um emaranhado de situações quase subliminares, brilhantemente orquestradas, que acabam se revelando para quem assiste ao filme somente na segunda ou terceira vez.
Dentre as tramas elaboradas por Greenaway, há uma crítica ferrenha ao conflito existente entre o mundo da cultura e o mundo do dinheiro, paradoxo fenomenal ao eterno embate da indústria cinematográfica de arte contra as produções mainstream. Esse duelo é representado através do grande (literalmente) personagem de Michael Gambon, Albert Spica, que demonstra imensa ignorância subjugando outros personagens por seus interesses culturais e intelectuais, algo que o próprio não consegue desenvolver.
Com a elaboração de uma obra exemplar, oposta ao cinema com interesses meramente comerciais, Peter Greenaway utiliza elementos cênicos que uma vez anexados às suas habilidades artísticas (Greenaway é, primeiramente, pintor) e ideologias transcendentais, é criada uma identidade única. São luzes estratégicas (exploradas pelo fenomenal trabalho de fotografia de Sacha Vierny) que transmitem muito do que é omitido pela falta de diálogos, travellings intermináveis que acrescentam certo ar teatral a trama, onde câmeras passeiam por todo o cenário e abusam dos mesmos, e também com o magistral figurino mutante do estilista francês Jean-Paul Gautier, que os complementa. Não se pode deixar de citar, é claro, a cenografia da película, que com cores significativas desempenha um papel implícito no desenvolvimento da trama.
Sexo, comida, violência, purificação, vingança, canibalismo. Temas que distintamente geraram outras tantas grandes obras, mas que unidos nunca conseguiriam um resultado tão impactante quanto o gerado por “O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante”.
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