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Corrida Mortal

(Death Race, 2008)
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Críticas

Cineplayers

Tão divertido quando estúpido, novo filme de ação de Paul W.S. Anderson é releitura de obra dos anos 1970.

5,0

Não é uma regra, mas de forma geral pode-se dizer que os verdadeiros cinéfilos odeiam refilmagens. Com raras exceções (Os Infiltrados), refilmagens são provas de absoluta falta de criatividade e identidade própria por parte de seus produtores. Hollywood chegou no fundo do poço há pelo menos 10 anos. Hoje em dia, vem refilmando trabalhos que foram lançados somente um ano antes, como é o caso do terror [REC]/Quarentena. Há também as releituras: são filmes que pegam apenas a idéia do original, e a partir daí os produtores partem para tentar algo diferente/paralelo, modernizando, aprofundando, recriando. Tentaram nos convencer que Tim Burton fez isso com A Fantástica Fábrica de Chocolate. Balela! O filme é uma refilmagem descarada e muito inferior ao seu original.

Então chegamos a Corrida Mortal. Este é o caso de uma releitura. Feita a partir de Corrida Mortal – Ano 2000, filme de 1975. Aqui, esqueceram a sátira e partiram para a violência descerebrada, emburrecendo totalmente o roteiro em busca do espectador médio moderno, que odeia pensar e adora ver violência e explosões. Ah, sem dúvida, é isso que ele obtém assistindo a esta releitura. Não há dualidade, profundidade nem preocupação com bons diálogos em seu roteiro, no máximo um fiapo de história para colocar personagens sem desenvolvimento algum no meio da ação. Isso vale inclusive para nosso protagonista, Jensen Ames, feito aqui pelo sempre interessante (para o gênero) Jason Statham. Sua motivação é – vejam só! – se vingar por conta de uma injustiça que sofreu.

Há subtextos sobre corrupção, desemprego, injustiça social... um mar de potenciais boas discussões, lavado sem dó pelos dedos de Paul W.S. Anderson, diretor famoso pela sua competência limitada e ordinariedade (está tão longe de ser um Scorsese quando de um Uwe Boll) em filmes de ação. Ele mantém o nível de sua carreira de razoável sucesso de público ao transportar para as telas cenas de ação movimentadíssimas e divertidas. Mas não se engane: a diversão é apenas momentânea – ela se desvai tão logo os créditos começam a subir na tela. Todos os personagens são caricaturas de bandidos, e há até mesmo uma ala feminina que só está lá para mostrar os decotes e as calças apertadas em suas nádegas. Nada mal se você é um adolescente à procura desse tipo de material.

Então continuar falando no roteiro é desperdício do seu e do meu tempo. O aspecto técnico, como não pode ser supresa, se sobressai. O cenário levemente  apocalíptico (afinal, o filme se passa em 2012 apenas) é um tanto quanto fora da realidade. Interessante é o texto de introdução à história, que fala de uma crise econômica que devastou o emprego e trouxe a barbárie à nossa sociedade. Tirando os exageros dramáticos, também não é um caso de adivinhação: o filme foi produzido no primeiro semestre de 2008, quando rumores acerca de uma crise econômica já eram ponto de discussão na mídia. E como foi dito acima: não espere que isso seja desenvolvido de forma alguma dentro da história: a crise global é esquecida logo após os créditos iniciais terem sido despejados para fora da tela.

Corrida Mortal não é um desastre completo pois Paul W.S. Anderson é razoável em dirigir filmes de ação, e considerando apenas a questão do entretenimento, o filme ganha pontos preciosos, ainda que seja apenas mais um entre dezenas de lançamentos anuais de Hollywood com qualidades semelhantes. Filmes como esse continuarão existindo por um bom tempo. Ainda bem, pois o dinheiro arrecadado pelos estúdios com trabalhos desse tipo farão os executivos darem vazão a obras mais ousadas, intimistas, originais e autorais. Há espaço para todo tipo de público, apenas não peça para considerar trabalhos estúpidos como este aqui como bons. São filmes feitos para trocar dinheiro por diversão passageira (como uma prostituta) e para serem massacrados pelos críticos. Que assim seja!

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