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Críticas

Cineplayers

Um filme que mostra que o cinema regional continua proporcionando bons momentos no Brasil.

7,0

Você acredita em Lobisomem? Pois se tem nome existe! E você acredita em cinema nacional de excelente qualidade? Pois te digo que se acompanhares os lançamentos do grande circuito atestarás com teus próprios olhos que é verídico esse fato.

O lançamento nacionalíssimo de “O Coronel e o Lobisomem” vem comprovando a paixão de Guel Arraes pela sua terrinha nordestina. Baseado no Romance homônimo de José Candido Carvalho, teve na roteirização para a telona as assinaturas de Guel, João Falcão e Jorge Furtado. Mas engana-se quem pensa que ele apenas relê sua ficha técnica de filmes nordestinos e cai no repetitivo. Pelo contrário, a impressão que nos dá é de que aquela região tem em seu passado e presente, em seus costumes e tradições uma fonte inesgotável de boas, digo, ótimas estórias a serem transpostas para uma versão na sétima arte.

Se fizerem questão de analisar as produções anteriores a que me refiro (“O Auto da Compadecida” e “Lisbela e o Prisioneiro”), verão que o único em comum é, além da região semi-árida, o talento de Arraes e sua produção através da película. A direção do longa não é dele, e sim de Mauricio Farias que na Rede Globo assina o bem sucedido “A Grande Família”. Guel está no roteiro, e na produção junto com Paula Lavine. Esta última já nos remete quase que de forma automática à trilha sonora pois fica a cargo de Caetano Veloso convidando ninguém menos que Milton Nascimento para um dueto lindíssimo.

Dito o que estava por trás das câmeras, vamos para a frente delas. O Coronel de patente e fazendeiro por herança Ponciano de Azeredo Furtado (Diogo Vilela) está falido e as terras de sua Fazenda Sobradinho estão indo a leilão. O comprador é Pernambuco Nogueira (Selton Mello) seu irmão de criação, que de acordo com o Coronel, é um terrível lobisomem. A história de desenvolve numa espécie de tribunal onde Ponciano tenta convencer a todos que não deve nada aquele homem pelo simples fato dele não ser da espécie dos homens. Ele vai desenrolando o novelo da história de sua vida para mostrar desde os introdutórios ate os conclusórios que Pernambuco é sim um Lobisomem, da raça do Caninos e que já aprontou muito com ele nessa vida.

Interessante essa visão de tribunal. Não preciso lembrar o quão batido estão os tribunais americanos. Inclusive foi por isso que “Chicago” teve as cenas do seu tribunal tão elogiadas - porque fez diferente! Enfim, mas o tribunal em questão não é em musical como em “Chicago” e tão pouco é holywoodiano, e esse é o ponto forte. É um tribunal à brasileira, numa versão pra lá de “cabra da peste”! O que só faz reafirmar a idéia de novidade.

Selton Mello é um excelente ator, acredito que ninguém mais duvide disso e o compare aos seus primeiros papéis. Agora Diogo Vilela está surpreendente. Em todas as fases vividas pelo personagem, novo, velho, com barba ou sem, maltrapilho ou bem vestido, ele dá um show à parte. A idade vai passando e Diogo vai crescendo junto com o personagem, envelhecendo não só no que diz respeito à maquiagem, mas em caracterização gestual, a fala fica mais cansada, os gestos mais rústicos e roceiros vão se acentuando gradualmente. Em paralelo a isso, Selton Mello vai fazendo o inverso, vestindo-se melhor, falando mais adequadamente, tirando aquele peso de ser o empregado da casa das costas e levantando a coluna, alinhando-se junto com o enriquecimento do personagem. Gradualmente perde o sotaque caipira e começa a pôr em prática as palavras rebuscadas que aprendeu com os estudos que o avô de Ponciano lhe proporcionou.

Comentários sobre Ana Paula Arósio serão sucintos: ela é linda! Mas ainda não convence de verdade. Interpreta a prima da família Azeredo Furtado, altamente interesseira e vendida, é a peça que faltava para um triângulo amoroso se formar. A presença de Pedro Paulo e Tonico Pereira só fazem abrilhantar o elenco. O primeiro é o braço direito de da família e dá o ar mais cômico do filme. O segundo é o banqueiro camarada que tenta abrir os olhos de Ponciano algumas vezes sobre seus gastos.

As estrelas não páram por aí. O filme conta ainda com Othon Bastos, Andréa Beltrão, Francisco Milani, Lucio Mauro Filho entre tantos, que vêm para agitar um pouco mais as risadas do público. Há quem diga que não foram necessários tantos personagens e suas incisões na trama. Discordo. Lembro que o Coronel está contando a história de toda a sua vida, e por mais pacata que fosse (o que não é o caso) não poderia se resumir a um quase-irmão, uma prima e um empregado da família. Tudo é muito bem contado, com diálogos brilhantes, requintadíssimos em palavras regionais e um mundo de neologismos divertidíssimos.

Não espere rasgar-se de rir, mas garanto que mesmo depois do jantarzinho que vem depois do cinema o filme ainda vai estar na sua cabeça em deliciosas teorias, detalhes e é claro, risadas inteligentes.

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