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Críticas

Cineplayers

Um filme onde nada funciona e há muitas incoerências. Cinema caipira da pior qualidade.

3,0

Guel Arraes se deu muito bem quando resolveu adaptar a peça de autoria de Ariano Suassuna, O Auto da Compadecida, para a televisão em forma de minissérie. Se deu melhor ainda quando decidiu remontar a série em formato de longa-metragem, com estrondoso sucesso nos cinemas e excelente retorno da crítica. Era o que ele precisava para obter a liberdade e a facilidade de tocar o projeto que quisesse. Decidiu manter a mesma linha que o consagrou e realizou o ineficiente Lisbela e o Prisioneiro, que acabou se tornando hit de qualquer jeito, mais pela maciça campanha de marketing do que pelo filme propriamente dito.  Mas com o sucesso deste, estava consolidada uma linha de produção de filmes de apelo popular baseados em prosas da literatura brasileira, uma fórmula praticamente impossível de ser batida.

Mas aconteceu. O Coronel e o Lobisomem, terceira e nova investida de Arraes neste tipo de cinema caipira acabou se revelando um tremendo fracasso, além de um filme medíocre. E é fácil descobrir o porquê: com a desistência de Arraes em dirigir o filme, que preferiu ficar na produção, assumiu Maurício Farias, novato nesta mídia, que acabou se saindo muito mal comandando o longa. Farias, com a larga experiência de mais de vinte anos comandando produções para a televisão, acabou se perdendo completamente. O que pode acabar reacendendo a questão da aproximação entre tevê e cinema, que vêm sendo debatida no Brasil nos últimos anos.

Mas não creio que o filme tenha fôlego até para isso. Até porque Farias ainda insere um estilo teatral que também não funciona, e que prejudica principalmente o protagonista da trama, Diogo Vilela, que é um ator que sempre precisa ser comandado com pulso firme. Vilela não pára de gritar, de esmurrar o tempo todo. Completamente irritante, porque quando não está gritando, está narrando o filme, tornando sua voz praticamente onipresente durante o filme todo. É outro aspecto que não entendo: para que a insistente e redundante narração, que só serve para descrever o que está se passando na tela e para arruinar ainda mais o ritmo do filme?

É uma pena que o rico texto de José Cândido de Carvalho, autor do livro lançado em 1964, tenha se perdido dessa forma.  Culpa também do péssimo roteiro escrito pelo próprio Guel Arraes em colaboração com João Falcão (que está para lançar seu primeiro filme como diretor, A Máquina) e Jorge Furtado, talvez o melhor roteirista nacional da atualidade. Os três não conseguiram fugir da narrativa em flashbacks, para só então no clímax do filme fazer a junção com o que está se passando no tempo da ação atual. Esse tipo de estrutura já foi por demais utilizada.

Ponciano de Azeredo Furtado (Vilela) é um coronel de patente que recebe de herança do avô uma rica fazenda onde cresceu junto a seu irmão de criação, Pernambuco Nogueira (Selton Mello, em atuação apagada). Já crescidos, tornam-se rivais pois ambos se interessam pela bela Esmeraldina (Ana Paula Arósio), prima do Coronel Ponciano. Quando surge indícios de que um lobisomem está atacando pelas redondezas, as suspeitas recaem sobre Pernambuco Nogueira, que é expulso da propriedade por Ponciano. Anos depois, Nogueira retorna ao lar e maquiavelicamente acaba tomando todos os bens do Coronel, que vai então à justiça para reaver o que perdeu, afirmando que Pernambuco não poderia estar com tais bens já que não é humano, é lobisomem!

O impressionante é que nada funciona no filme. As atuações são exageradas como se todos estivessem em um palco de teatro, a trilha sonora é totalmente inadequada, os efeitos especiais do lobisomem são falsos (com direito a fotografia escura e tudo, mostrando que o cinema nacional tem muito que aprender ainda nessa área), a montagem se perde em excessos (toda a história do galo, por mais engraçada que seja, é um desperdício de tempo e totalmente mal encaixada na história – cadê o tal galo depois que o episódio acontece? A afeição do Coronel pelo galináceo acaba depois?) e o som direto falha muitas vezes e fica quase impossível entender alguns diálogos. Falando em diálogos, não consegui entender também o sotaque imposto aos personagens, já que a história se passa nos arredores da cidade de Campos dos Goytacazes (que não é citada). Eu sou morador da cidade e não vi qualquer verossimilhança com a forma como os personagens falam com a forma como os moradores da cidade se expressam. Ridículo.

Só me resta elogiar Pedro Paulo Rangel, discreto e eficiente como o empregado humilde de Coronel. Rangel, com toda a sua bagagem, não salva o filme, mas parece ser o único ali que sabe o que está fazendo.

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