Simpatia é quase amor na comédia romântica mais inusitada da temporada.
Devem existir poucas coisa piores no mundo que "filme com mensagem". Representante cinematográfico dos livros de autoajuda, nenhum dos dois gêneros me agradam como espectador. Cada vez mais, situações e histórias mastigadas só se afastam de mim, e não tenho mais paciência pro paternalismo com que o cinema quer tratar grande parte do público, que aceita de bom grado sua função passivamente. Filmes que não me desafiem e que me deem tudo mastigado, e ainda tenham sua realização quase de forma burocrática, estão sendo riscados da minha lista de interesses cada vez mais. Mas assim como o hit A Culpa é das Estrelas (The Fault in our Stars, 2014), esse longa argentino ganha a gente pela simplicidade e pelo coração, mas principalmente pelo casal protagonista.
Calma, não tem ninguém como câncer terminal em Coração de Leão - O Amor Não Tem Tamanho (Corazón de León, 2013). Pelo contrário, o filme é uma comédia romântica muito bem azeitada e divertida, tocando nos seus pontos de conflito sempre com muita delicadeza e cuidado. Lógico que isso se sustenta em algumas cenas e em outras não tanto, principalmente no terceiro ato, quando precisamos conhecer os conflitos internos de seu protagonista, desde o início apresentado de forma alto astral e leve, mas que obviamente não gostaria ser um anão.
Sim, o protagonista da produção é um homem bem baixo. Ao presenciar uma calorosa discussão telefônica na rua, Leon apanha o celular que Ivana varejou pela rua. Mais tarde, ao ligar pra ela na intenção de devolver, Leon é o cavalheiro sedutor que naturalmente é, empolgando a jovem advogada recém separada (mas ainda ligada ao ex). Mas é obvio que Ivana leva um baita susto ao constatar que o galante homem que conversou com ela na noite anterior bate na sua cintura. Só que Leon se garante... e dono de lábia e charme irresistíveis, não demora para Ivana se envolver, perturbando não só a si mesma como a todo o universo que a rodeia, e que pode contribuir para que esse romance não vá pra frente.
O filme trata de preconceito e de um romance impedido por questões sociais, mas pega o tema sob um ponto de vista praticamente inédito e destrincha suas questões com graça e simpatia sempre, mesmo quando o conflito chega às vias de fato, quando o charme do protagonista invade cada cantinho do filme. O diretor Marcos Carnevale já emplacou um hit no Brasil (Elsa e Fred [Elsa y Fred, 2005]), e pelo visto não será difícil de conseguir de novo. Se depender de Guillermo Francella e Julieta Diaz, o jogo está ganho; o casal tem química forte e irresistível mesmo, e a torcida pelo final feliz não dura 20 minutos pra começar. Além disso são talentosos, e ela lindíssima.
O detalhe curioso foi o filme ter sido feito todo com base em efeitos especiais, já que Francella é um conhecido ator argentino alto. Apesar da estupenda qualidade dos efeitos, fica a dúvida dos motivos que levaram a produção a não chamar um anão de verdade pra protagonizar o filme, no que talvez seja um caso de amarga ironia para com o personagem e a tal mensagem que o filme que passar. No fim das contas, é nas costas de Francella e Diaz que reside as qualidades do longa, e a situação envolvendo a mensagem do filme de aceitação das diferenças é bem mais palatável quando temos reais talentos em cena para que tudo pareça orgânico e "real".
Irei assistir com um sorrisão no rosto! 😁