Existe um cinema clássico-narrativo que vem sendo "enfrentado" por uma cinefilia disposta a elaborar novas formas de análise imagética para crises das mesmas. Essa cinefilia é herdeira de Luiz Rosemberg Filho, ao mesmo tempo que acessa uma profusão de imagens produzidas ininterruptamente e que precisam estar desenvolvendo a elaboração de narrativas a partir das mesmas. Com o golpe instaurado no país, jovens cineastas como Leonardo Martinelli se sagram graças à ressignificação dessas imagens que todo tipo de categorização social coletiva tem produzido.
Leo já tinha ensaiado um movimento de olhar os ambientes virtuais e o nascimento de relações ditas modernas - e que só mascaram realidades antiquadas - em Lembro. Dessa vez, o realizador capturou suas próprias ideias narrativas para produzir material a partir de um outro já existente e de qualidade realçada graças ao seu trabalho de montagem e agudeza de observação. Ainda que vez por outra uma certa ingenuidade se instaure no resultado, não há como negar o ímpeto de reverberar a História através do acervo que a mesma gerou, com vibrante comunicação.
Muitos puristas não conseguem absorver que o cinema não é feito de releituras imagéticas, e que o cinema está constantemente se reinventando enquanto linguagem, na sua estrutura e na sua concepção. Leo, aqui, é mais um dos tantos cineastas que realizam cinema a partir da composição de material prévio, mas não apenas. Copacabana Madureira tem, sim, cenas criadas exclusivamente para ele (e as da "mamadeira de piroca" são especialmente elaboradas), e é da remixagem entre o que já vimos e o que ainda iremos ver que nasce essa piada política repleta de assustarora verdade.
Partindo do pressuposto de que a política vem sendo decidida bem longe do campo político, o filme rivaliza diversas vozes, coloca a igreja no centro da discussão (e não apenas a evangélica), e principalmente tenta colocar em xeque dois lados da questão, como o próprio título sugere. Em um canto, a classe média alta que difundiu fake news políticas; do outro, os alvos de bala perdida, os que saem todos os dias das comunidades sem saber se voltam. O filme não os afasta em intenção, apenas indica o quanto esses universos só se afastaram ainda mais nos últimos anos.
A tentativa de rejuvenescer uma arte mutante por si só e a profusão de provocações por segundo que captura e regurgita de volta no espectador, indo de Pabllo Vittar a "guerra de hashtags", coloca Copacabana Madureira num lugar de humor político que convida à reflexão, como toda excelente comédia sempre o fez. Com uma carreira ainda muito jovem e com títulos que ampliam sua visão cinematográfica ao mesmo tempo que sacode sua poeira, Leonardo Martinelli tem fôlego para tentar ir a lugares cada vez mais experimentais e continuar criando um desafio particular de manter em si as mesmas características que estão formando esse cineasta tão instigante.
Crítica da cobertura da 23ª Mostra de Tiradentes
"Leo". Você não é crítico.
Se você diz...
Jornalista cultural bajulador pode até ser.
Por que do "Leo"??? É o apelido do Carbone??
Hahaha.. ainda tá magoado o Kadu, enfim..