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Críticas

Cineplayers

Um filme idiota e sem sentido, mas capaz de prender a atenção até o final.

6,0

Após uma série de papéis menores em filmes e seriados, Shia LaBeaouf foi alçado à condição de novo astro com o apenas divertido Paranóia. Dirigida por D.J. Caruso, a produção claramente inspirada em Janela Indiscreta foi um inesperado sucesso, tornando o ator um dos jovens mais requisitados pelos estúdios. No entanto, mesmo promissor, LaBeaouf ainda não conseguiu se firmar como intérprete de talento, optando por produções sem cérebro, nas quais nada mais faz além de correr e parecer assustado, como Transformers e este Controle Absouto.

Baseado em uma idéia de Steven Spielberg, o filme escrito a oito mãos começa quando Jerry Shaw, funcionário de uma copiadora, descobre que seu irmão está morto. Após o funeral, Jerry chega em casa e descobre seu apartamento tomado de caixas com armamentos, o que coloca o FBI em sua cola. Sua única saída é seguir as indicações de uma misteriosa mulher que o liga dizendo como escapar das enrascadas. No caminho, Jerry encontra Rachel Hollohan, uma mulher que também recebe as ligações e precisa obedecê-las para salvar o filho.

Controle Absoluto não é um filme ruim. Ele é idiota, sem dúvida. Ele não faz o menor sentido, claro. Mas a obra consegue prender a atenção da platéia durante as quase duas horas, em um ritmo intenso e levantando algumas interessantes questões. O roteiro acumula um absurdo atrás do outro, com situações inverossímeis mascaradas sob a direção enérgica de Caruso – uma sacanagem com o espectador, mas uma sacanagem que, ao final, acaba dando certo.

Este é o grande mérito do cineasta. Caruso jamais acredita ter em mãos um grande roteiro com personagens memoráveis. Na realidade, a história não passa de desculpa para as cenas de ação, colocando os personagens em meio a explosões e situações que não fazem sentido. No entanto, o diretor demonstra, assim como fez em Paranóia, possuir controle sobre a produção, acelerando o ritmo e não deixando o espectador pensar – o que, neste caso, não é demérito. As cenas de ação são intensas, ainda que boa parte delas fique um tanto confusa graças à edição epiléptica.

Assim, acompanha-se Controle Absoluto com facilidade, graças também à misteriosa situação na qual os personagens se encontram. Durante boa parte da projeção, a dúvida sobre o que é e de onde vem a voz mantém o interesse. Infelizmente, o filme começa a se perder exatamente no momento em se descobre a origem da voz. A partir de então, o roteiro perde a lógica que conseguia manter, levantando uma série de perguntas sem respostas sobre o que havia acontecido.

A questão principal é essa. Até a revelação, o mistério funciona. O problema é que a explicação, ao contrário de explicar, apenas confunde. Afinal, não havia necessidade alguma de fazer os dois personagens passarem por tudo aquilo para o plano ser levado adiante. Por que não pegar alguém da própria cidade, se o Hex já havia sido roubado? Aliás, como o Hex foi roubado? Que outras formas de chantagem foram usadas para convencer as demais pessoas? Estas são apenas algumas questões que ficam sem respostas pelo roteiro.

No entanto, se os absurdos, como eles roubarem um carro-forte e Jerry invadir o Pentágono, são absorvidos graças à direção de Caruso, as interpretações de Shia Labeouf e Michelle Monaghan também desempenham papel fundamental nessa aceitação. Ainda que o material não ofereça algo para que possam criar grandes personagens, o talento e a boa presença dos atores em cena colaboram para fazer a história andar, uma vez que eles convencem ao parecerem tão perdidos quanto o espectador em relação ao que está acontecendo.

Ao mesmo tempo, o roteiro furado ainda possui algumas boas idéias, principalmente em relação às soluções rápidas que surgem para resolver os problemas dos protagonistas. Em certo momento, a voz que os comanda dá um jeito de liberar o sprinkler de uma empresa, fazendo com que centenas de pessoas saiam às ruas e facilitando a fuga do casal. Enquanto isso, a trama ainda possui um contexto mais crítico em relação à sociedade atual, mais especificamente à falta de liberdade dos cidadãos em razão das políticas defensivas de seus governos – neste caso, o dedo é apontado diretamente aos EUA pós 11 de setembro.

Este, aliás, é o único traço de ousadia narrativa presente em Controle Absoluto. De resto, é uma superprodução burra, com um roteiro capenga que coloca dois astros do momento nos papéis principais para atrair público. Durante a projeção, o filme entretém e até diverte. O problema é quando as luzes do cinema se acendem e o espectador começa a perceber que Controle Absoluto não passa de mais uma imbecilidade do cinemão americano. Aí, porém, já é tarde demais.

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