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Críticas

Cineplayers

No limiar da perda.

6,5
Louisa Clark (Emilia Clarke), ou Lou, é uma garota jovem, carismática, dona de uma alegria e otimismo radiantes e de um guarda-roupa mais que criativo e ripongo.  Depois de perder o emprego como garçonete, ela acaba se vendo obrigada a aceitar um trabalho como cuidadora de um jovem rico e tetraplégico, William Traynor (Sam Claflin). O azedume, amargura e sarcasmo constantes de Traynor batem de frente com as atitudes sempre persistentes e positivas de Lou, e desse contraste nasce um sentimento forte entre os dois. 

A premissa água com açúcar de Como Eu Era Antes de Você (Me Before You, 2016) parece indicar um filme chororô sentimentaloide aos moldes de um Love Story - Uma História de Amor (Love Story, 1970), sendo também baseado no best seller homônimo de Jojo Moyes, que fez um sucesso tremendo entre o público feminino recentemente. No entanto, a despeito de todo o apelo natural dos romances tristes, o resultado da adaptação para o cinema se mostra bastante digno. O roteiro, também assinado por Moyes, é esperto em driblar caminhos previsíveis e soluções fáceis ou bobinhas, embora tenhamos na direção alguém sem um pingo de criatividade no aproveitamento de espaços e na construção de uma atmosfera que realmente nos convença do sentimento que nasce espontaneamente da relação entre Lou e Traynor. Por outro lado, o casal principal de atores é competente o suficiente para nos cativar na cadeira até o fim da sessão.   

Apesar do formato convencional, o filme tem de tudo para se tornar o Diário de uma Paixão (The Notebook, 2004) dessa década, sabendo usar toda sua carga dramática na tarefa de sensibilizar e conquistar a simpatia do espectador, que desde o começo prevê um romance sofrido, condenado pelas circunstâncias. Mas o que torna o filme um tanto superior a tantas baboseiras do cinema americano voltadas para o público feminino é o enfoque na condição individual de Treynor e Lou. Ao invés de forçar situações melosas e apelações em torno do sofrimento do rapaz, o roteiro caminha para uma análise dos dois personagens centrais separadamente. O título, na verdade, é uma via de mão dupla que denuncia o “eu antes de você” tanto dele como dela, de modo que acompanhamos aos poucos Lou deixando para trás seu comodismo e medo de sonhar mais ao mesmo tempo em que Treynor supera seu rancor e revolta, reaprendendo a viver mesmo dentro de suas limitações. 

No fim, mais do que uma história de amor, Como Eu Era Antes de Você é sobre as pessoas que por vezes cruzam nosso caminho e que nos oferecem novas perspectivas, sobre os reveses da vida que muitas vezes nos castigam, mas também nos encaminham para direções inesperadas e mesmo positivas. A questão não é se Treynor manterá sua decisão de ir em frente com o procedimento de eutanásia ou se Lou conseguirá convencê-lo do contrário agora que se vê apaixonada por ele, mas sim a reviravolta que um causa na vida do outro e como as perspectivas de ambos mudam diante da convivência com alguém tão diferente. Para ele, a vida é torturante, fadada ao sofrimento e à perda constante da dignidade própria; para ela, tudo é muito lindo, muito bom, mas talvez muito grande para explorar e se arriscar. A condição dele fará com que ela aprenda um pouco sobre a realidade nem sempre feliz do mundo lá fora, enquanto o otimismo dela ensinará a ele ser feliz com o que se tem e com o que se é. Madura, a conclusão é de que os relacionamentos nos ajudam a evoluir e amadurecer, mesmo que nem sempre os finais sejam dos mais felizes. 

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