Saltar para o conteúdo

Clube dos Cinco, O

(Breakfast Club, The, 1985)
7,8
Média
613 votos
?
Sua nota

Críticas

Cineplayers

Mais do que um filme adolescente, é um ensaio sobre as implicações da época mais complicada e intensa da vida.

9,0

Um dos fatores mais incômodos dos filmes adolescentes é a certeza de que os estereótipos estarão sempre lá, marcando presença com afinco, comprometendo assim toda a originalidade da obra. Por outro lado, não se pode culpar roteiristas e diretores quando esse problema é questionado, já que a juventude é uma fase marcada por certas tradições, costumes e estilos, independente de sua época. Fica difícil então para um cineasta livrar-se dos clichês e ainda assim manter uma atmosfera de realismo dentro dos enredos de seus trabalhos. Por causa disso, John Hughes, uma referência no assunto, nunca se envergonhou de usar e abusar desses estereótipos em seus filmes, pois sabia que, no fundo, não passavam de verdades inegáveis. O que fez o cinema dele diferente da grande maioria de seus colegas foi a sabedoria e esperteza em usar os clichês da maneira correta, em prol de algo muito maior. Dentre toda sua filmografia, O Clube dos Cinco (The Breakfast Club, 1985) é o que mais exemplifica essa habilidade com maior precisão.

O Clube dos Cinco é um filme que tem já em sua sinopse uma proposta muito clara e bem definida: retratar e adentrar em todo o universo adolescente através de cinco personagens clássicos; o popular, a patricinha, a esquisita, o nerd e o rebelde. De fato, começa aqui o uso descarado dos mais óbvios clichês do sub-gênero, embora a condução que cada um ganha seja exatamente a oposta do que todos poderíamos imaginar. É nesse momento que entendemos a grande sacada do roteiro – a quebra de tais estereótipos. Hughes não é limitado ao ponto de apenas mostrar o convencional e o dedutível; ele rompe essas obviedades ao nos apresentar cinco personagens dotados de uma inesperada profundidade, que dão voz a todos aqueles que um dia já passaram por todos os perrengues que envolvem estar na condição de adolescente.

Como de costume, Hughes elege os adultos como os vilões de sua história, aqueles que deixaram o coração morrer com o passar dos anos (como é explicado por um dos cinco protagonistas em dado momento da trama) e que agora invejam nos mais jovens toda aquela ambição cega típica da idade, a determinação inocente de sonhar e querer mais do que a vida pode oferecer. Dentro do ambiente escolar, o ápice dessa caracterização vilanesca se encontra na imagem do diretor. Os cinco estudantes-vítimas desse carrasco devem ficar de castigo, cada qual por um particular motivo, em pleno sábado na detenção do colégio e devem escrever uma redação de mil palavras que sejam usadas para defini-los. Esta aí a grande crueldade da punição, já que a última coisa que um adolescente seria capaz de fazer é um texto auto-definitivo. Juntos no mesmo ambiente, esses cinco tipos opostos entrarão em conflito e mostrarão aos poucos tudo o que envolve estar nessa fase tão linda, porém tão complicada de suas jornadas. 

A princípio, os temas que vão recorrendo na conversa entre os tais alunos giram em torno das trivialidades do cotidiano de um jovem americano de classe média como festas, namoros, escola, notas e afins. Até então o que vemos é Hughes nos apresentando os clichês de maneira cordial, até cômica, e definindo assim uma influência particular de cada um sobre o espectador – ele nos induz a julgar cada um ali com base nos estereótipos tão arraigados em nossas mentes. Mas depois, tudo vai ganhando uma abordagem um tanto mais dramática, aos poucos intensa e, finalmente, devastadora. De repente estamos diante de um círculo de pessoas se abrindo sem pudor, em uma exposição incisiva sobre suas respectivas ansiedades e desejos. Quebra-se nesse instante tudo o que pensávamos de cada um até então e sobra apenas um espelho onde é impossível não se enxergar. Independente de cada formação, de cada personalidade, de cada sexo, todos ali sofrem das mesmas dificuldades e sonham com as mesmas ilusões. O clube agora é integrado por alguém a mais: o próprio espectador – e todos são um só.

Ao contrário do que possa parecer, O Clube dos Cinco não se propõe a definir a juventude, a classificar esse momento da vida; pelo contrário, ele apenas se coloca na posição de expô-la, sem manipular nem impor idéias a nós. Afinal, não há como definir tudo o que se passa na mente de um adolescente, até porque nem eles próprios o poderiam fazer. Mas o certo é que se encontra nessa fase de início da vida adulta a formação do caráter, a maneira de entender o real funcionamento das coisas; um momento para se viver de certas ilusões e para se desprender de tantas outras. É uma encruzilhada difícil e definitiva, que moldará para sempre o que seremos dali em diante. Hughes, ciente disso como ninguém mais poderia, nos apresenta um filme para ser sentido, não necessariamente desvendado.

Para que não ficasse nostálgico demais, nem sentimental demais, a abordagem de temas tão delicados, Hughes acrescentou à fórmula muito humor e, principalmente, muita referência oitentista. Se por um lado essa escolha ocasiona momentos de pura cafonice, por outro acaba dando um certo charme e carinho ao seu trabalho. O resultado final é uma obra-prima tipicamente dos anos 1980, bem dosada em cima de temas que jamais perderam sua relevância, independente de sua época.

Para alguns, O Clube dos Cinco é um filme pequeno, sem nada demais, até mesmo esquecível. Isso é uma pena, pois se trata de uma viagem verdadeira pelos momentos mais complicados pelos quais todos passamos e que tendemos a tentar esquecer com a chegada da vida adulta. Querendo ou não, é uma época inesquecível, seja pelas suas aventuras e descobertas, seja pelos seus traumas e incidentes. Tentar esquecer seria perda de tempo – e tempo é algo do qual não devemos nos dar ao luxo de perder.

Comentários (26)

Alexandre Guimarães | segunda-feira, 16 de Fevereiro de 2015 - 16:25

Melhor filme teen oitentista ao lado de Curtindo a Vida Adoidado.

Lucas Souza | sábado, 21 de Fevereiro de 2015 - 07:10

Koball é um pentelho... E olha que quando entrei no site adorava suas críticas...

Cristian Oliveira Bruno | sábado, 21 de Fevereiro de 2015 - 19:41

Pô Lucas, ainda sou fã do Koball e confesso que só virei freqüentador do site por causa dos textos rígidos, criteriosos e sarcásticos do cara, e ainda assim gosto do filme!

Faça login para comentar.