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Críticas

Cineplayers

Matthew McCounaghey e Jared Leto: os reais donos desse clube.

5,0

A primeira vez que ouvi falar de Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club, 2013) foi através de fotos de bastidores das filmagens, no melhor estilo Caras, sobre como estavam Matthew McCounaghey e Jared Leto em cena: o primeiro, cadavérico, e o segundo, travestido. Com carreira revitalizada e numa espiral de filmes e personagens excelentes, logo a palavra 'prêmios' foi associada ao texano que surgiu para o cinema há 20 anos, foi considerado uma espécie de jovem Paul Newman, explodiu mais explorando a beleza e o carisma do que o talento e embarcou num ostracismo típico de quem não tinha mais pra onde seguir. Mas a volta por cima começou há 2 anos, com o inesperado sucesso de O Poder e a Lei (The Lincoln Lawyer, 2011)... desde então, Matthew não errou mais (talvez a única bola fora tenha sido Obsessão (The Paperboy, 2012), mas como desconfiar da adaptação de um best seller onde você faria um personagem gay? - sempre sinal de bons momentos on screen).

Já Leto não tinha tido um burburinho de estreia como seu colega de cena. Explodiu como galãzinho teen na tv americana, e assim foi exportado para o cinema. O ponto de curva foi quando emendou Além da Linha Vermelha (The Thin Red Line, 1998), Clube da Luta (Fight Club, 1999), Garota, Interrompida (Girl, Interrupted, 1999), Psicopata Americano (American Psycho, 2000) e o protagonismo de Réquiem para um Sonho (Requiem for a Dream, 2000). Mas ele preferiu ser rockstar - no cinema, já não o via há 4 anos. Agora ambos são as apostas máximas para levar carecas dourados dia 2 próximo. E pasmem: o cara que era apenas o travesti do lado de McCounaghey das fotos de um ano atrás, hoje tem ainda mais chances que o líder do elenco. O filme? Ah, esse tem sérios problemas.

Montagem péssima, que tenta destruir somente as cenas cruciais de ambos, optando por não enveredar pela emoção desbragada, mas que acaba picotando grandes momentos dos dois intérpretes, principalmente de Leto. Isso tudo é prova de uma incompetência de Jean-Marc Valee, diretor e montador, pra mim desconhecidas. Conhecido pelos muito bons C.R.A.Z.Y. – Loucos Por Amor (C.R.A.Z.Y., 2005) e A Jovem Rainha Vitória (The Young Victoria, 2009), o canadense dá uma marcha a ré na qualidade e aposta nesse roteiro didático e bem enfadonho (principalmente quando somos obrigados a acompanhar a evolução da AIDS através de uma... médica?!), o filme acabou chegando nos píncaros do reconhecimento através de Matthew e Jared, que comandam um show onde eles são as únicas estrelas.

O filme parte da história real de Ron Woodruff, um grosseirão homofóbico, beberrão, mulherengo, drogado e criador de confusão. Pela quantidade de "predicados" do moço, não é estranho quando ele é diagnosticado como soropositivo no final dos anos 80. O médico grita que pelas péssimas condições em que ele se encontrava, nada além de 30 dias de vida o aguardava. Responde impropérios, e sai batendo a porta. Ao se ver na beirada do abismo, prestes a perder o jogo de xadrez com a garota da foice, o malandro sai em busca do remédio para o qual ainda teria de entrar na fila pra conseguir. É no México que ele encontra a resposta para uma sobrevida saudável, e ao começar a traficar os medicamentos para os EUA, cria o tal clube do título auxiliado por Rayon, um travesti exalando feminilidade que conheceu numa recaída braba onde baixou hospital. Os dois, ao lado da médica que não tem nenhum conhecimento sobre a indústria médico farmacêutica americana, travam uma batalha contra o governo e as autoridades. E os 30 dias de Ron viram anos...

Ancorado na força da expressão de McCounaghey e na sensibilidade extrema do olhar de Leto (que tem cenas em dupla ora divertidas, ora de cortar o coração; sempre avassaladores), Clube de Compras Dallas alcança uma força que jamais vem de seu idealizador (muito menos da apática Jennifer Garner, numa personagem simplesmente medonha), nem do roteiro tatibitate que encena anos importantes de uma batalha que precisa ser conhecida sobre mais uma período onde os EUA se mostraram os vilões da história.

No fim das contas, os três Oscars que deve levar (além dos meninos, ainda a maquiagem) devem maquiar a cara ruim do resultado final do produto. Mas devido à importância e relevância das vozes ouvidas por essa fatia triste do princípio do combate a uma doença devastadora, e graças a uma dupla cujo talento fala mais alto que a edição pode sujar, Dallas e sua simplicidade (no que isso tem de positivo e negativo) tendem a permanecer na memória como uma experiência positiva. Mesmo que não seja de todo.

Comentários (24)

Leonardo Melo | sexta-feira, 28 de Fevereiro de 2014 - 20:08

Achei a nota injusta... O filme é bom. McCounaghey está incrível. O filme tem um ritmo bom e funciona (para mim) como denúncia. Vale (e muito) o ingresso.

Sidnei Rodrigues Noronha | domingo, 04 de Maio de 2014 - 23:47

O filme demonstra com muita eficiência todo o descasoda política de saúde estadunidense e a sanha das indústrias farmacêuticas em relação ao HIV e toda a disputa mercadológica de patente que vitimou muitos doentes. A temática é muita séria e ousada. No elenco McCounaghey abandona o estereótipo de galã e sobra em cena e Leto está visceral na intepretação.

Yuri Mariano | quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2015 - 15:08

Achei a nota injusta. Diferente de tantos outros filmes, este não apela para o excesso de melodrama.

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