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Críticas

Cineplayers

Cumpre bem sua principal proposta: divertir.

6,0

Não é apenas no Brasil que séries de TV de sucesso e o cinema dialogam; mas, convenhamos, aqui parece acontecer com mais freqüência do que nos outros mercados do planeta. É fácil de entender o porquê: a maioria dos grandes nomes da televisão brasileira se interessam por cinema, tornando-se também responsáveis por grandes sucessos de bilheteria. Até aí tudo bem. E, da grande maioria desses sucessos, quase todos são comédias, o que também não é complicado de se explicar, já que o povo brasileiro abraça de bom grado o gênero, sempre disposto a esquecer das dificuldades do dia a dia e rir, sem compromisso, daqueles personagens que quase sempre já são familiarizados. Lógico que uma coisa ou outra muda na fórmula, mas, no geral, é isso mesmo que acontece e quem está no meio sabe disso.

Alheio a essas questões financeiras – afinal, assim como nos Estados Unidos, estes sucessos comerciais ajudam a bancar filmes menores e, geralmente, com mais visibilidade entre o público realmente consumidor do cinema como arte, absolvendo qualquer culpa de focar o lado comercial da coisa -, chega aos cinemas Cilada.com (2011), versão cinematográfica de uma sitcom de sucesso que esteve no ar entre 2005 e 2009 no canal pago Multishow, que fala sobre as enrascadas que um homem comum encara no seu cotidiano igual a qualquer pessoa, como um mau atendimento em um barzinho ou um churrasco furado com os amigos chatos de sua mulher.

Ao contrário da série de TV, esta versão em tela grande não é baseada em experiências da vida de Bruno Mazzeo, o autor: após ser flagrado traindo sua mulher, Bruno, o personagem, é surpreendido de novo quando chega ao trabalho, no dia seguinte, e descobre que sua namorada Fernanda colocou no YouTube um vídeo íntimo do casal, com o agravante de ele ter tido um desempenho ruim. Humilhado por praticamente todo mundo que vive na cidade (e que parece ter visto o vídeo), Bruno resolve ir atrás de ex-namoradas e de outras mulheres disposto a recuperar a dignidade como homem, ao mesmo tempo em que não esquece Fernanda e tenta reatar com ela, mas esbarra na sua incapacidade em dizer ‘eu te amo’ para a moça, sempre a espera.

Mas as diferenças não param por aí: menos ácido do que de costume, Bruno está muito mais vulnerável, sendo mais um coitado digno de pena do que um sarcástico alheio ao que está ao seu redor – ele literalmente quebra a cara o filme todo, metendo-se em uma série de ciladas, só piorando aquilo que queria consertar; ou seja, quem for realmente fã e esperar ver uma coisa, pode encontrar outra, o que é um problema para o filme. E, como cinema, prender toda sua estrutura narrativa à já batida ferramenta da dificuldade em dizer ‘eu te amo’ é um erro bobo que poderia facilmente ser evitado. A traição, por si só, já poderia deixar Fernanda com raiva o suficiente para ela não querer voltar para Bruno, tornando a escolha dessa trava no personagem não só boba, como desnecessária.

Porém, o que poderia indicar um caminho minado em direção ao fracasso, na verdade são só pequenos edemas perto de um trabalho que cumpre exatamente aquilo que propõe: divertir. Sem maiores pretensões, chega a brincar com o cinema cult ao colocar um personagem que filma em preto e branco e filosofa em imagens que, para o espectador comum, são vazias e sonolentas, mas de uma forma que não ofende e faz rir até quem gosta desse tipo de cinema.

Aliás, essa é a maior qualidade de Cilada.com: conseguir extrair sinceras risadas de quem está sentado na poltrona. Na sessão em que estive, o público não parava de rir. Algumas vezes, de piadas batidas que ainda funcionam, outras, de sacadas mais bem encaixadas, mas nunca aquela risada de sorriso amarelo. O palavrão é usado como ferramenta, e não de um modo exagerado e constrangedor como em Os Normais 2 (2009), também de José Alvarenga Jr. (um desses nomes fortes tanto na TV quanto no cinema, e que aqui faz um bom trabalho), dialogando também com o público jovem ao inserir a internet na trama. Ainda que não seja o melhor filme recente do diretor - posto facilmente ocupado por Divã (2009) -, Cilada.com se sustenta com a dosagem certa de personagens, com um competente elenco de apoio, sem exageros e que nunca soa artificial, palavrões bem encaixados, situações constrangedoras e, porque não, romance de fazer chorar (ainda que copie uma antiga propaganda famosa).

Só que não há como não falar dos méritos do filme sem citar Bruno Mazzeo, o autor. Dono de um carisma imensurável, ele é o centro das atenções de um elenco diversificado realmente útil (todos têm sua importância pra narrativa). Conhecendo o personagem de outras ciladas, Bruno tem o mérito de alcançar a empatia do público que, mesmo com o seu personagem sendo vergonhosamente culpado da traição, não consegue jamais torcer contra aquela figura divertida e de sorriso tímido. Isso é devido às situações que ele encontra pela frente, tanto de amigos com piadas maldosas quanto de mulheres e mais mulheres que cruzam seu caminho, cada uma com seus problemas que impedem que ele esqueça Fernanda.

Conseguindo equilibrar bem todos os aspectos que tornam uma comédia bem sucedida, não há a menor dúvida de que Cilada.com será sucesso comercial no Brasil, já que o filme é competente na sua proposta e o boca a boca certamente fará o seu papel. Não vai mudar a vida de ninguém, mas divertirá aquela sessão bem acompanhada nesse inverno rigoroso que vem atormentando o Brasil.

Comentários (1)

Osnir Sotério de Lima | sexta-feira, 20 de Janeiro de 2012 - 07:46

Ficou aquém do esperado. O filme não chega a ser ruim, mas causa uma certa decepção, sobretudo aos fãs da série. O personagem de Bruno foi muito modificado, ao invéz do cara pseudo-mau humorado que só entra em roubadas da série, temos um Bruno infiel, injusto e arrogante no filme. Além disso, muito spersonagens da série poderiam ter sido aproveitados e não foram. O que se vê é uma série excelente transformada numa comédia romantica cheia de clichês batidos. Me incomoda também a mistura de cenas de besteirol com verossímeis, o que deixa o público meio perdido quanto a proposta do longa. Contudo o riso rola em muitos momentos do filme e o saldo acaba sendo positivo. Não é nenhuma obra de arte da comédia mas alcança os principais objetivos que são entreter e fazer rir.

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