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Críticas

Cineplayers

A versão americana da obra-prima de Wim Wenders.

7,0

Talvez numa tentativa de se aproximar do sublime “Asas do Desejo” de 1987, a refilmagem, intitulada “Cidade dos Anjos”, pretende ser um filme recheado de propostas sensoriais, assemelhando-se a uma caixa de sensações. As imagens em P&B intercaladas com as da queda de Seth, os sons presentes no filme, a trilha sonora, alguns planos detalhe, cada elemento proposto tem a intenção de causar sensações no espectador, indo muito além do sentimental, que é a proposta do texto romântico do filme. Porém, graças ao modelo rigidamente acadêmico e americano de se dirigir um filme, privilegiando a narrativa e não deixando espaço para a arte aflorar entre um frame e outro, o filme perde muito do encanto que transborda de seu original. É menos brilhante e especial, mas ainda capaz de emocionar e contar uma estória romântica de forma menos sofisticada, porém eficiente. 

O filme é sobre Seth (Nicolas Cage), o anjo que se apaixona por Maggie, uma jovem e dedicada médica interpretada por Meg Ryan. Como uma criatura divina, Seth desconhece sensações como fome, dor ou medo. Ele e seus iguais passam seus dias vestidos de preto, freqüentando bibliotecas e se encontrando para assistir o crepúsculo na praia. Através da influência que têm sobre as pessoas, eles silenciosamente são capazes de protegê-las e levar serenidade ao coração delas, as impedindo de ferir umas as outras e cometer outros atos malignos. Apaixonado, Seth decide se jogar do alto em direção ao chão, como forma de mergulhar rumo à mortalidade e assim poder ser tocado por Maggie, sentir o calor do sol, a espuma salgada do oceano, dentre outras coisas que nos parecem banais. Nicolas Cage - mesmo com sua expressão limitada - carrega em sua interpretação o talento, a aparência serena e a dignidade necessárias a composição do personagem. 

Wim Wenders, diretor do original, também é um dos responsáveis pelo roteiro de Cidade dos Anjos. Sobre ele, me recordo de tê-lo visto afirmar em uma entrevista que é viciado em seus óculos, já que sem eles tem a sensação de ver mais do que precisa. Sem a limitação da armação ele veria o mundo como todos os outros, mas com o aparato ocular, a imagem que vê é quadrada e de bordas limitadas, como um frame. Ainda hoje, essas palavras soam para mim como uma magnífica declaração de amor à sétima arte. 

A escolha de trechos de Hemingway é outro fator que confirma a proposta sensorial do filme, visto que o autor descreve o sabor do vinho e de ostras, como se o fizesse à alguém que nunca antes havia experimentado a textura ou o sabor desses alimentos. Assim como Seth, que nunca tinha sentido um toque ou o cheiro dos cachos angelicais dos cabelos de Maggie. 

A trilha sonora, especialmente no que se refere à música Iris, da banda Goo Goo Dolls, possui uma correspondência brilhante com o filme, a ponto de parecer que a obra sonora não é apenas uma derivada, mas parte do conteúdo inicial da obra fílmica. 

O ápice da emoção é obviamente no final do filme, quando depois de abandonar todo o seu mundo de plenitude e beleza, Seth cai do alto de uma estrutura em direção à sua humanidade. Ele vai ao encontro de Maggie, molhado, machucado e só. Porém, com um sorriso nos lábios. Eles selam seu amor com intimidade e são felizes, até que a fatalidade da vida terrena acaba por colidir com eles. 

Em Cidade dos Anjos assim como na vida, eu diria que os momentos ainda que românticos e intensos, são acompanhados de acontecimentos imprevisíveis e efeitos irreversíveis. O que nos remete a nossa própria efemeridade, aos nossos amores e nossa noção de eternidade. Pensar nisso é tangenciar o sublime, o infinito. É este estado de serenidade exaltada que o filme nos transmite que nos ligam ao amor, à eternidade e ao divino, e faz com que eu me pergunte se estas três palavras não significam, no fim, uma só coisa.

Comentários (1)

Francisco Bandeira | domingo, 29 de Dezembro de 2013 - 01:36

Só eu acho esse filme a coisa mais linda? Não tão lírico ou poético como \"Asas do Desejo\", mas de um romantismo sensacional! A música do Goo Goo Dolls na cena é um achado!

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