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Críticas

Cineplayers

Uma atuação robusta de Rebecca Hall em um filme que poderia ter ido além.

7,0
A abertura de Christine flerta com os limites da ficção - o espectador, ciente de que o filme trata sobre um acontecimento real, poderia supor que as imagens de tons azuis cheias de ruídos poderiam ser de algum clipe verdadeiro da jornalista norte-americana Christine Chubbuck. Ela, contudo, não chegou a entrevistar o presidente dos Estados Unidos. O filme descreve os tormentos individuais de Christine numa luta invencível contra a mediocridade de sua posição profissional e a tragédia de sua vida particular.

Não há uma outra maneira de se aproximar do filme se não por Rebecca Hall. A atriz compõe sua personagem a partir de detalhes pequenos, mas extremamente substanciais, como reações motoras velozes que indicam instabilidade psicológica e uma postura envergada, sugerindo que Christine carrega em suas costas o peso de todo um mundo. Sem subterfúgios literais, apenas com o poder de expressão do seu próprio corpo, Hall consegue realizar em questão de minutos o que algumas atrizes que tiveram mais reconhecimento nessa época de premiações apenas sonharam em conseguir.

Christine é uma personagem complicada, situada em alguma espécie de vácuo existencial no feminismo second-wave. Na contenda entre o campo pessoal e profissional, ela perde a mão do equilíbrio nessas duas forças e se lança em direção a um vazio, habitado por  todas as pessoas incapazes de se adequarem a normas sociais pré-estabelecidas. Uma personagem humana, com atributos de oposição. Entre o destemor e a sensibilidade, entre a fraqueza e a convicção, Christine desaparece diante dos nossos olhos, numa tragédia assombrosa, mesmo que anunciada.

Antonio Campos fez questão de investir na história de Chubbuck com a ambição de falar sobre a mulher, ou sobre algumas mulheres, generalizando essa condição de suspensão que vivia a personagem. Fora isso, seu trabalho na direção é plano, sem grandes tensões narrativas ou variações de tons dramáticos. Em mais de uma ocasião, vemos personagens estendendo a mão para Christine, apenas para serem rechaçados, e vice-versa. Repetições de eventos narrativos virtualmente iguais que tornam a experiência do filme um pouco entediante, apesar dos esforços de Hall.

Existem outras investidas interessantes que o filme faz. As cenas em que Christine estuda sobre as armas e a possibilidade de adquirir uma, por exemplo, são bastante interessantes. Parecem em certos momentos um documentário, com clara intenção expositiva, mas permeada pela presença física de Christine que se aproxima e reage com aquele lugar com interessante dúbio - o arsenal de revólveres e metralhadoras é ao mesmo tempo para ela um jardim de delícias e uma floresta hedionda, assustador e maravilhoso em iguais proporções.

Momentos de grande sugestão dramática como esse são infelizmente raros durante o filme, que é com frequência monótono, embora a angústia latente da protagonista seja o bastante para torná-lo minimamente interessante. Antonio Campos poderia ter se esquivado de uma narrativa pragmática e progressiva, que embora coesa numa perspectiva clássica, tira muita potência que poderia existir dessa história real trágica e significativa.

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