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Chicago

(Chicago, 2002)
7,7
Média
579 votos
?
Sua nota

Críticas

Cineplayers

Um musical delicioso, com trilha encantadora e clima muito agradável.

8,0

É difícil não sair de uma sessão de Chicago totalmente extasiado pelo filme, é como tomar uma injeção de ânimo. Horas depois, eu ainda sentia a animação que o filme me proporcionou. É tanta energia, beleza e música de boa qualidade, que no final das contas fica difícil não gostar da produção do diretor estreante Rob Marshall. Meses antes do lançamento do filme nos Estados Unidos, Marshall foi perguntado o que aconteceria com os musicais em Hollywood depois de Chicago ser lançado. Ele, sem nenhuma modéstia, disse que, se Chicago fracassasse, os musicais não teriam futuro algum; caso contrário, é só esperar por uma enchente de novos filmes no gênero. Hoje já se sabe que Chicago é um sucesso de crítica e público, só falta aguardar agora a tal enchente. Espero que ela venha mesmo, quem sabe não voltemos a viver, mesmo que em menor intensidade, os anos de ouro dos musicais no cinema...

Em um musical, creio que os elementos mais esperados pelo público são os lógicos: os próprios números musicais. A produção de Chicago não poderia ter sido mais feliz, então. Quase todos os números são excepcionais. Da parte musical até a parte artística, o filme proporciona vislumbre, beleza e divertimento aos olhos mais exigentes. Na sessão em que estive, dava para sentir o chão do cinema tremendo várias vezes: era o público acompanhando as músicas com os pés. O diretor Rob Marshall e sua equipe toda conseguiram um resultado felicíssimo ao representar os números, desde a escolha das melodias, passando pelas letras, até chegar no elenco.

Depois do filme, você pode refletir e decidir pelo seu número musical preferido. Os meus são particularmente três. O show inicial, que é todo de Catherine Zeta-Jones, apresentando letra e ritmo incrivelmente bons; o show final (nos musicais é comum reservarem o melhor para o final do filme), com a dupla Zeta-Jones e Renée Zellweger, um show de coreografia e cenário; e finalmente, o meu preferido, com o personagem de Richard Gere manipulando a personagem de Zellweger em seu colo como uma marionete. É difícil ficar indiferente à música contagiante e, é claro, à fofura de Roxie (Renée).

O filme também serve como uma homenagem explícita a alguns clássicos do gênero. A influência de O Show Deve Continuar e Cabaret, ambos filmes do diretor Bob Fosse, é evidente, tanto que a música inicial pode ser considerada uma referência óbvia ao trabalho do diretor. O número de apresentação do personagem de Richard Gere – o advogado sem escrúpulos – é uma exata antítese do número de Marilyn Monroe em Os Homens Preferem as Loiras (e depois copiado por Madonna no clipe de Material Girl): em Chicago, Billy (Gere) não pensa em fortuna (pelo menos na música); enquanto no filme de Monroe, dizia ela que “os diamantes são os melhores amigos das garotas”; em Chicago, Gere está cercado de mulheres durante o musical, enquanto Marilyn está cercada de inúmeros homens na principal cena de Os Homens...; finalmente, a coreografia e o cenários são parecidíssimos, uma homenagem evidente.

Há ainda muitos outros números interessantíssimos. Aliás, o filme conta com um número enorme de show musicais (muito mais que em Moulin Rouge, por exemplo). No gênero, um dos maiores problemas enfrentados pelo diretor é como encaixar as músicas e danças dentro da história do filme. Em Chicago, todos eles estão na imaginação e interpretação do que se passa ao redor da personagem de Roxie. Praticamente tudo é motivo para virar número musical: desde a personalidade de uma carcereira de prisão, até a imagem que Roxie tem de seu marido, considerado por ela, em certo momento, um “nada”. Todas as passagens da história do filme em si para os números são muito bem realizadas.

Deixando agora a parte dos musicais um pouco de lado, pode-se dizer que, em termos de história, Chicago é um filme apenas regular. O foco principal da história é a personagem de Roxie, presa por ter matado o amante. Na prisão, convive com seu maior ídolo, a arrogante Velma (Zeta-Jones, que também é acusada de homicídio), mas logo vê o verdadeiro temperamento dela e as duas tornam-se adversárias. Enquanto isso, o advogado Billy – o mais famoso de Chicago, que nunca perdeu um caso sequer – é contratado para livrar Roxie do enforcamento. Billy possui métodos que exploram a imagem de suas clientes ao máximo, fazendo delas pop-stars diante do público, que logo esquece que estão vendo uma assassina. Roxie também almeja o estrelato, e usa o gancho dos métodos de Billy para se promover a uma cantora e dançarina de sucesso, tal como Velma.

A história é suficiente para possibilitar aos roteiristas a criação dos grandes números musicais presentes, mas se analisarmos ela independentemente desses números, descobrimos uma estrutura bem frágil, dependente de soluções fracas e sem nenhuma profundidade. Não é exatamente o fim do mundo. Moulin Rouge, por exemplo, é a velha história de um amor proibido, que bem contada não deixa de ser interessante e divertida. Mas a estrutura do roteiro de Chicago é pior. Só para citar um exemplo, a escalada ao estrelato de Roxie é mostrada de forma totalmente superficial, acontecendo de uma hora para a outra, sem motivos plausíveis. Mesmo um advogado de circo como Billy teria mais dificuldades na vida real. Ainda assim, a história de Chicago é competente o suficiente para fazer com que fiquemos interessados no filme durante os show musicais.

Em termos de interpretações, Chicago está muito bem. Praticamente todo o elenco principal, com exceção de Richard Gere, recebeu indicações ao Oscar (entre inúmeros outros prêmios, aí incluindo também Gere, que foi indicado ao Globo de Ouro, por exemplo). Talvez seja um exagero. Renée e Zeta-Jones estão muito bem em seus papéis; porém a cantora de rap Queen Latifah (a carcereira) demonstra apenas um trabalho burocrático (o que é entendível, visto que não é atriz de verdade – pelo menos não era), mas com toda a popularidade que ela está tendo neste momento nos Estados Unidos, a indicação à melhor atriz coadjuvante também é entendível.

O filme conta com uma boa dose de humor. Toda a cena do julgamento é divertida e bastante engraçada. Além disso, o filme consegue exibir um humor de alto nível sem apelar, sempre, o que considero sempre um ponto positivo, em qualquer gênero. Todas as músicas ficaram muito bem dubladas pelos atores, mesmo Richard Gere convence como cantor. Logicamente, Queen Latifah leva vantagem por ser cantora na vida real, e realmente sua música é a que apresenta a melhor voz.

A parte técnica do filme está show! Os números só conseguem passar tanta energia e vivacidade por causa da excepcional direção de arte, da fotografia que, embora um pouco demasiada escura, combina perfeitamente com a época em que Chicago se passa (nos anos 20), e figurino e maquiagens de nível elevadíssimo (Latifah loira é engraçadíssima). O filme também exala sensualidade, principalmente por causa da beleza incrível (e dos trajes) de suas duas protagonistas, além das ótimas coreografias (que minha avó chamaria de “abusadas”).

Chicago é um filme que merece boa parte da atenção que está tendo. Merece também boa parte de suas 13 indicações ao Oscar e boa parte dos prêmios que recebeu. Se vai se tornar um clássico, só a passagem dos anos dirá, o filme tem qualidades para conseguir realizar esta façanha, mas também tem defeitos para não conseguir. Certeza é que você vai, ao final do filme, ter seu espírito revigorado. E também que pudemos acompanhar a chegada de outro bom diretor à Hollywood, Rob Marshall. Ficou apenas a dúvida de quem é mais desejável, Roxie ou Velma...

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