Um filme que não aposta na besteira dramática de Hollywood para chocar.
É cada vez mais raro no cinema atual ver um filme como o italiano A Chave de Casa: um assunto difícil tratado sem os apelos melodramáticos de sempre e sem as famosas e inevitáveis adaptações ao grande público. Isso significa que não há final feliz, não há solução definitiva para os problemas, a angústia predomina. Enfim, um filme para pensar, e não os choramingas regados a violinos e mensagens edificantes que Hollywood insiste em perpetuar.
A cena inicial dá o tom do filme. Ao ver um homem acompanhando um menino deficiente físico no hospital para tratamento, a personagem de Charlotte Rampling diz: “Que estranho ver um pai por aqui; geralmente esse serviço porco quem faz é a mãe”.
Charlotte brilha intensamente no filme como a mãe de uma deficiente que cuida de sua filha há 20 anos. Ela avisa: não haverá compensações por essa dedicação. Ninguém dará crédito, nem mesmo o filho especial.
As chaves de casa conta a história de um pai que abandona o filho por ter matado a mãe no parto. O tratamento a que está submetido, num hospital da Alemanha, não surte efeito justamente porque o pai não está presente. Os dois se encontram forçosamente. Não será fácil.
Só é um excelente filme porque o diretor, Gianni Amelio, atuou no diapasão da sobriedade. A aproximação do pai e do filho, revelando as deficiências não somente físicas dos dois, é emocionante, mas não a ponto de fazer chorar. Nem mesmo no terço final, quando a distância abissal entre eles mostra-se insuperável, não há tampouco redenção.
Se resta alguma certeza após ver o filme é a de que aceitar um futuro nem brilhante nem alegre para os filhos e para si mesmo parece não fazer parte do ser humano. Por isso, talvez, algumas cenas são tão dolorosas, e a culpa que consome o pai atrapalha ainda mais.
Os créditos finais sobem ao som de Virginia Rodrigues, a cantora brasileira, interpretando a belíssima “Deus do fogo e da justiça”.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário