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Críticas

Cineplayers

Um grito por transformação política em meio a tradições culturais.

8,5
Em uma espécie de mix de hospital com casa de repouso, soldados sobreviventes de uma guerra repousam. Repousam muito, porque estão doentes e essa doença faz com que eles adormeçam sem tempo para acordar; se acordarão. Uma dupla de acompanhantes terá o foco narrativo sobre si e o novo projeto do diretor Apichatpong Weerasethakul trata sobre elas, sua relação que se intensifica e a observação sobre um dos pacientes em particular, que em dado momento acordará. Dito isso, onde se encontra o Joe (apelido internacional que Weerasethakul ganhou e assumiu pra si) nosso conhecido de velhos carnavais, simbolista e hiper referencial a suas raízes, seu país e suas idiossincrasias astrais?

Antes de mais nada, é bom deixar claro que esse novo filme talvez seja o mais acessível do diretor tailandês. Será? Ou já estamos tão bem apresentados a sua cinematografia que seus signos se tornaram identificáveis e inteligíveis? Acho a resposta inicial mais condizente. Sua trajetória no novo longa parece mais adoçada e singela, ainda que mantenha seus mistérios. Mas tem um viés assumidamente político aqui, que poderia até vazar numa cena ou outra de seus filmes, que nunca suplantava a linha que sua filmografia move até então, a do misticismo e das crenças de seu próprio povo e do quão fascinante esses signos eram, e são. Aqui, no entanto, vemos sua lente virar profundamente para questões de ordem pública e sua sensibilidade ser transformada a partir desse contraponto.

O tal hospital onde se passa a ação do filme é circundado por uma obra constante, de grandes proporções e que transforma radicalmente a geografia tanto do local quanto da própria narrativa, absorvendo pra si uma atmosfera de quebra de ambiente, com toda a direção de arte arranhada por grandes montanhas de terra e constantes tratores. Essa "paisagem" (que sim, é observada) no mínimo inusitada ainda promove ao menos uma grande e bela cena ao filme, quando um jogo de futebol é travado em meio a essas protuberâncias do solo. Não precisa aguçar o olhar para ter a ciência do lugar onde Joe coloca o Estado nessa matemática local, quebrando o bucolismo impregnado na produção.

Além disso, um olhar mais aprofundado encontra na própria doença misteriosa do filme (tratada também de forma enigmática, com grandes lâmpadas fluorescentes a mudar de cor sobre os pacientes) nos faz perceber a catatonia onde Joe coloca o povo tailandês na atualidade, que em espasmos momentâneos volta à realidade meio grogue e sem sentido, para então voltar a letargia melancólica sem nenhuma pressa em voltar à tona. Joe parece apontar que as tais raízes que ele cultiva em sua filmografia poderiam ser a saída mais tranquila do atual estado das coisas, no que talvez outros países pudessem se espelhar.

Suas duas protagonistas são típicas personagens de Joe, mas com uma interessante troca de olhar. Enquanto a mais velha é apresentada de forma mais ocidental (inclusive fazendo dietas e com os pés fincados na certeza), a mais jovem é a guardiã da visão onírica que o autor traz a seus filmes, ligada ao típico misticismo tailandês e responsável por abrir os olhos da mais velha para uma cultura que parece perdida. Uma dicotomia nunca menos que fascinante.

Se no terreno dos símbolos e das esferas onde apresentar sua visão Joe parece engajado na missão de renovar, no que consiste os signos narrativos em si o filme parece travado no lugar que já conhecemos, independente dele ser agradável ou não. Não há necessariamente uma mola que catapulte novidades de sua trama, mas se prestarmos atenção, vamos ver que a intenção de Joe dessa vez era fazer encantar mais o pós-filme, com mensagens subliminares do que aparentemente o incomoda ao seu redor nos dias de hoje. Enquanto alerta social, Cemitério do Esplendor não só é relevante como (aí sim) representa um avanço cinematográfico.

Comentários (10)

Alexandre Guimarães | sexta-feira, 18 de Março de 2016 - 11:59

No próximo texto o carbone pode escrever assim: "esperando as falsiane virem comentar meu texto"

Felipe Ishac | sexta-feira, 18 de Março de 2016 - 12:30

carbone... você mora no meu S2

Darlan Pereira Gama | sexta-feira, 18 de Março de 2016 - 13:35

Nem parece texto do Carbone mesmo! Ficou bem bom Parabéns Carbone amor do grupo do WhatsApp 😏

Daniel Mendes | terça-feira, 22 de Março de 2016 - 23:02

Expectativa zero pra qualquer filme desse cineasta. Não é questão de zoar pq é cult, mas lendo as sinopses e as críticas não fico nem um pouco empolgado.

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