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Críticas

Cineplayers

Ambicioso sci-fi japonês inspirado em um anime dos 70, Casshern é um herói relutante que emerge em mundo devastado pela guerra.

7,0

Não se deixe enganar pelo trailer pois Casshern, baseado em uma série anime dos anos 70, é mais um drama do que filme de ação.

Filme de estréia do diretor de videoclipes Kiriya, Casshern é uma ambiciosa transposição da linguagem anime/mangá para cinema live-action e, exatamente pela inexperiência do diretor, apresenta diversos problemas. Ainda assim, o filme é um dos melhores exemplares de fantasia e ficção que eu vejo em algum tempo.

A trama é por demais detalhista, o que é ao mesmo tempo um pró e um contra, ficamos sabendo na introdução narrada que o mundo onde o filme se situa passou por uma devastadora guerra entre a Europa e a Ásia, o caos ambiental resultante espalhou epidemias e as forças vitoriosas ainda tinham que lutar para conter diversos focos de rebelião. Logo no início, somos apresentados a um cientista, Azuma, que anuncia uma revolucionária tecnologia chamada Neo-Cell, a partir do qual se poderia recriar qualquer órgão ou parte do corpo humano, ajudando assim a conter o problema de saúde da nação. Sua proposta é vista com ceticismo pela comunidade científica mas interessa muito aos militares e Azuma, que é um pacifista, aceita com relutância. O destino ainda lhe prega mais uma peça ao ver seu próprio filho Tetsuya se alistar para lutar contra os rebeldes.

Isso é apenas o ponto de partida da história que ainda vai tomar rumos muito inesperados e por vezes desconcertantes, Casshern é um filme de Super Heróis em essência mas a forma com que foi feito o coloca numa posição destacada dos similares americanos, principalmente pelo tom teatral escolhido. Kiriya é um grande fã de tragédias Shakespeareanas e pega emprestado alguns elementos, especialmente Hamlet com os espíritos que visitam os vivos. Embora suas cenas de ação sejam poucas (e muito boas) o filme revolve principalmente em torno dos conflitos entre Tetsuya/Casshern e as pessoas com que ele se relaciona.

O que mais me incomodou foi a mão pesada com que Kiriya lidou com alguns elementos como o melodrama, as mensagens ecológicas e pacifistas, principalmente na segunda metade o filme fica por demais panfletário. Tanto na narrativa como na direção de câmera ele se mostra preso a diversos cacoetes de videoclipe, como a edição frenética que é desnecessária em algumas cenas. Outra coisa que deixa muitas pessoas irritadas é que as explicações não são dadas de bandeja e alguns elementos mostrados no início do filme só vão ser esclarecidos nas últimas cenas ou nem isso, exigindo atenção redobrada. Não que seja um defeito do filme mas para quem não está acostumado a cinema asiático é sempre um elemento incômodo.

Dito isso, ele acerta no visual criando uma das experiências sensoriais mais gratificantes dos últimos anos. Filmado totalmente em estúdio com cenários 3D, Casshern é grandioso mesmo com um apertado orçamento. Misturando arquitetura européia com mecanismos que parecem tirados de um pesadelo de Julio Verne, o design é ricamente detalhado e expressionista, assim como a fotografia que pinta cada cena em cores diferentes, dos tons quentes e carregados da cidade, o preto e branco da zona de combate e ao profundo azul pontuado de vermelho do Laboratório de Azuma, cada fotograma é estudado e o resultado enche os olhos. Os ângulos de câmera e as cenas de ação são puro mangá, com direito até aos personagens correndo em frente ao fundo com blur, um barato.

Se você está confuso não se preocupe, o filme causa isso nas pessoas. Apesar de ter problemas, Casshern foi um debut impressionante para o diretor Kiriya e mostra que outros países estão começando a ameaçar a hegemonia americana dos blockbusters de efeitos especiais.

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