Uma hilariante homenagem ao polêmico Paulo Francis.
O Brasil possui uma riquíssima filmografia de documentários. Anualmente, os lançamentos do gênero comprovam a diversidade e a qualidade do cinema documental do País. O ano mal começou e já chega às salas de cinema mais um grande exemplar: Caro Francis, que aborda a carreira do controverso jornalista Paulo Francis. Durante sua jornada de sucesso, trabalhou para os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, campeões de circulação, e também para veículos de televisão como a GNT e a Globo, na qual possuía um quadro bastante semelhante ao de Arnaldo Jabor no Jornal da Globo de hoje.
O filme é muito mais uma homenagem à carreira de Francis do que um estudo sobre sua personalidade, capaz de despertar ao mesmo tempo amor e ódio em seus leitores e espectadores. Desde início, apresenta-se um jornalista enfático, com opiniões fortes e sem nenhum tipo de filtro na hora de dizer o que pensa sobre os assuntos. Assim, acompanha-se a contradição que este tipo de comportamento causa, podendo levar um esquerdista fervoroso como ele a se tornar um dos grandes defensores do capitalismo, abandonando crenças passadas para defender também com amplo conhecimento opiniões diametralmente opostas às anteriores.
Ao expor as contradições de Francis, sem nunca julgá-lo por isso, o filme acerta em cheio por saber homenageá-lo em função de sua importância ao jornalismo brasileiro ao mesmo tempo em que deixa espaço para que o espectador possa julgá-lo como um profissional de muitos erros, por vezes até antiético. Mas, independente da opinião acerca de sua pessoa e trabalho, Francis era uma figura admirável, que enriquecia o debate jornalístico com suas opiniões radicais, pois, apesar disso, sabia defender eficazmente suas ideias, por mais erradas que elas pudessem se mostrar.
Ao retratar o hilariante Francis, o documentário não poderia deixar de possuir essa mesma característica. E, assim, o riso sem pudores é uma constante durante a exibição, ainda mais pela esperta edição. Na época em que Fernando Henrique Cardoso é eleito presidente da República, por exemplo, Francis aparece no programa Manhattan Connection, da GNT, tecendo elogios intermináveis ao ex-presidente para, no ano seguinte, descer a lenha contra a falta de medidas de um governo, para ele, apático.
Diversos jornalistas depõem sobre o trabalho de Paulo Francis. Amigos, como Diogo Minardi, explicam o pensamento do jornalista que, em diversas vezes, beirava o absurdo da interpretação sobre os fatos, algo muito semelhante ao que próprio Minardi faz hoje em dia, mas sem a elegância e a graça que Francis sabia dar a seus comentários, fossem eles coerentes ou absurdos. Desafetos como Caio Túlio Costa, ombudsman da Folha na época em que Francis era colunista do jornal, também explicam como era a relação com um jornalista muitas vezes mais preocupado em ser o assunto, do que informar seus leitores sobre algum tema.
Construindo com humor a persona jornalística de Paulo Francis, o documentário adota um tom mais sério, já próximo de seu final, ao contar o falecimento de Francis. Seu médico à época é ouvido para defender-se da acusação de negligência em relação aos sintomas apresentados pelo jornalista. O documentário busca compreender como o tratamento médico e o polêmico caso em que Francis acusou os diretores da Petrobras de corrupção puderam, juntos, leva-lo à morte.
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