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Críticas

Cineplayers

Christophe Honoré fez um filme para entreter com Paris como cenário. O resultado, irresistível.

7,5

É curioso como Canções de Amor ilumina parte da obra de seu autor, Christophe Honoré, dramaturgo e um dos mais proeminentes cineastas da novíssima geração francesa. Ele, em seus dois trabalhos mais conhecidos, imprimiu certo frescor às suas narrativas, mas a indefinição estilística e afetação na condução derrubaram tanto Ma Mère (ainda inédito no Brasil) quanto Em Paris

Esta sua revisitação ao musical clássico não só se apresenta como uma grande homenagem ao gênero, como também revela um apurado senso de humor que pode ter passado despercebido nos filmes citados anteriormente. Não que a vulgaridade de Ma Mère ou o enfado de Em Paris possam ser perdoados, mas agora se torna óbvio que há nesses trabalhos uma observação satírica quase imperceptível da própria história do cinema francês do que se poderia supor.

Uma outra observação importante é que esse resgate do cinema enquanto gênero parece estar se tornando mais freqüente na França, ainda que bem distante da forma canhestra praticada nos Estados Unidos. François Ozon pode ter fracassado na sua revisitação ao melodrama típico com Angel e ao próprio musical (e aos filmes de mistério) em 8 Mulheres, mas o filme de Honoré é uma bem-sucedida crônica musical da Paris contemporânea.

Uma crônica que abusa de reflexões de almanaque para criar um recorte na vida de seu personagem principal, Ismaël (encarnado com a natural simpatia de Louis Garrel), um revisor que mantém um relacionamento estável com Julie (Ludivine Sagnier). Este jovem casal, na tentativa de obter novas perspectivas sexuais, abre espaço em sua cama para Alice (a adorável Clotilde Hesme), formando um triângulo amoroso consentido, ainda que não muito bem resolvido. 

O roteiro então usa um daqueles famosos pontos-de-virada (não revelarei para que a surpresa não se perca) para trazer a Ismaël outros dois personagens que o acompanharão até o desfecho: a frágil Jeanne (Chiara Mastroianni), irmã de Julie; e o bretão Erwann (Grégoire Leprince-Ringuet), que lhe trará novas perspectivas sentimentais.

Honoré parece em momento algum se levar a sério. Seu filme brinca com a tradição da escola francesa da verborragia (atente para o diálogo entre Julie e a mãe), da liberdade sexual e do próprio gênero musical que o conduz – curiosamente, o cineasta já tinha flertado com o musical em Em Paris, numa pequena cena ao telefone.

São as canções, inclusive, que dão o tom suave a um filme que, à priori, discursa basicamente sobre a dor e o recomeço. Bobinhas, sedutoras e cantadas pelos próprios atores, elas não cumprem o papel de fazer correr a narrativa, como típico, mas para adentrar na psicologia não muito profunda dos personagens.

É que não há interesse de Honoré de ser investigativo, de se tornar parâmetro. Diferentemente dos seus trabalhos anteriores, a pretensão fica de lado e há apenas o entreter por entreter, deixando no espectador um sorriso quando ao apagar das luzes. E, tendo Paris como cenário, não há como resistir.

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