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Críticas

Cineplayers

Visualmente rico, primeira parte de trilogia peca em conseguir estabelecer personagens realmente interessantes.

6,0

Adaptação para o cinema da primeira parte de uma trilogia literária lançada originalmente em 1995, A Bússola de Ouro inicia uma nova série de fantasia e aventura com ares épicos, aproveitando o momento propício para o gênero iniciado no começo do século XXI e, claro, pelo fato de os efeitos especiais atuais permitirem levar qualquer tipo de criação para as telas do cinema. Basta ter dinheiro, e A Bússola de Ouro custou um bocado. Como não está fazendo o sucesso esperado (longe disso), o futuro da trilogia nos cinemas ainda é incerto, mas esse primeiro capítulo tem méritos bastante positivos em estabelecer personagens e apresentar um mundo que, sem dúvida, é riquíssimo e atraente.

O enredo, nada original, é mais uma vez sobre o bem contra o mal, a liberdade contra a opressão. Uma bússola de ouro com poderes especiais é o centro das atenções, uma arma contra o governo totalitarista, e somente uma jovem garota tem o poder de interpretá-la. Contra ela, vários povos; a favor dela, outros tantos. Somos apresentados a vários países e raças, e a um bocado de informação. Não há, pelo menos nesse primeiro capítulo, personagens dúbios, ou seja, são todos claramente do bem ou do mal, embora haja um tratamento especial e misterioso para a personagem de Nicole Kidman, Coulter, que no final releva informações que nortearão os dois próximos capítulos se estes vierem a ser produzidos.

Apesar da limitação natural da história, ela tem seu charme, mesmo que peque em criar uma identificação maior entre personagens e público. Infelizmente, talvez a chance de se criar uma legião de fãs não foi muito bem aproveitada. Contando com menos de duas horas de projeção, muitos acontecimentos de A Bússola de Ouro passam rápido demais e no final das contas nada realmente relevante parece ter acontecido. A promessa de batalhas épicas e aventuras maiores fica, portanto, para o futuro. Mas não se engane, há algumas cenas interessantíssimas, embora praticamente vazias de emoção, como a luta entre dois ursos polares pelo reino de sua raça.

A direção de Chris Weitz, que ficou com o cargo após uma pequena novela que vinha se arrastando há alguns anos, é bastante adequada, embora totalmente impessoal. Apesar de ter contado com o aval de Philip Pullman, o escritor do livro, não há como negar que seu nome não é forte em Hollywood, então o filme é uma obra mais dos produtores da New Line do que sua própria (ao contrário de Peter Jackson com O Senhor dos Anéis, que pôde estabelecer, de certa forma, seu próprio estilo naquela trilogia). O maior desafio de Weitz foi manter o interesse no tempo decorrido entre as cenas de ação, pois são elas que estabelecem uma relação verdadeira entre personagens e público. Se o público se importar, ele vai querer assistir toda a trilogia e, principalmente, falará do filme para seus amigos e parentes, gerando maiores número$ para a produção. Obviamente, o trabalho não foi exatamente bem executado, visto que o sucesso comercial é falho e, realmente, o ritmo e o roteiro deixam a desejar em cenas que deveriam ser importantes. Toda a cena a bordo do navio que levava os personagens para o Norte, por exemplo, ficou bastante desinteressante.

O elenco de A Bússola de Ouro é lotado de nomes fortes. Nicole Kidman e Daniel Craig lideram a publicidade do filme, embora Craig, na prática, esteja em segundo plano. Atores como Christopher Lee ficaram totalmente sumidos, e aparecem com, literalmente, pouco mais de meia dúzia de falas. A menina Dakota Richards, que interpreta a personagem principal, o centro da aventura, não é de todo má, e cresce durante a trama. Apesar do roteiro ser apressado em transformá-la em líder (de onde veio tanta astúcia?), a atuação da novata atriz é boa o suficiente para fazer com que ela não seja a culpada por qualquer crítica negativa ao filme. Se vai ser uma grande atriz, só o tempo dirá.

Claro, chegou a hora de falar um pouco sobre os efeitos especiais. Em um filme que custou quase US$ 200 milhões, fica complicado passar o tópico em branco. O desafio da produção foi criar um mundo diferente do nosso (na realidade, não muito diferente) sem trazer distrações. Os efeitos têm que ajudar a história, não atrapalhá-la, como aconteceu com o primeiro Crônicas de Nárnia, onde o uso incorreto e exagerado deles destruiu qualquer tentativa de se criar um mundo interessante. A cereja do bolo, nesse caso, são os ursos polares, que ficaram ótimos visualmente e em termos de movimentação também. Já o excesso de bichinhos computadorizados atrapalhou um pouco. Creio que a produção deveria ter tido menos preguiça e utilizar mais animais verdadeiros, o que seria mais interessante e traria menos distrações.

A Bússola de Ouro foi produzido para ser um clássico, mas ficou alguns passos aquém desse objetivo. Conseguiu nos apresentar um mundo rico, mas infelizmente ele ficou desprovido de personagens realmente interessantes. Há sim muitas possibilidades boas se os próximos capítulos da trilogia forem produzidos, mas individualmente é um filme vazio com poucos motivos para ser revisitado. Pode ser recomendado na falta de programas melhores para as crianças e adolescentes (é um trabalho muito melhor, instrutivo e vigoroso que Harry Potter, por exemplo), mas isso é pouco diante de promessas tão amplas.

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