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Críticas

Cineplayers

Terror de arquétipos pobres.

3,0
Falar sobre o boom causado por A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project, 1999) e em como o filme revolucionou tanto o gênero de horror quanto o chamado “marketing do boca-a-boca" já é chover no molhado. O estilo de filmagem batizado de found footage já está aí saturado e exausto devido a tantas reciclagens, apenas para provar a teoria, assim como essa própria ideia de publicidade que, atualmente, já não funciona do mesmo jeito. O triste é constatar que, na mesma proporção de sua inovação, A Bruxa de Blair parece ter envelhecido ao longo dos anos, hoje pouco sobrando de sua ambientação macabra em uma floresta que aterrorizou e nauseou o público o final dos anos 90.

Seguido por uma continuação que tanto o público quanto esta nova investida na lenda da bruxa resolveram ignorar, Bruxa de Blair (Blair Witch, 2016) puxou sua curiosidade do público não apenas por seu envolvimento direto com a obra original incitada no título, mas pelo anúncio súbito do diretor Adam Wingard de que a bruxa viria novamente aterrorizar os cinemas após tantos anos sem que seu nome fosse tocado. Mas a expectativa ganha uma resposta frustrante: rendendo-se a arquétipos banais do gênero e sem qualquer personalidade enquanto uma obra feita para aterrorizar, Bruxa de Blair é um retorno nada convincente da lenda inteligentemente suplantada no imaginário do terror.

Sem muito esforço para dar vida a um enredo convincente como ponto de partida, o filme parte da busca de James (James Allen McCune) pelo paradeiro de sua irmã Heather, desaparecida há anos na floresta na floresta de Black Hills. Após encontrar uma filmagem publicada que, ao que tudo indica, são registros dos momentos vividos por sua irmã na floresta, James parte na companhia de amigos floresta adentro para descobrir o que houve com Heather.

A premissa lhe pareceu bastante similar ao Bruxa de Blair original e a tantos outros filmes de horror lançados desde então? Se isso acontece, é pela pouca disposição de Wingard em não se render a estereótipos corriqueiros no gênero, desde a concepção dos personagens (reparem como sempre é preciso haver uma rixa desnecessária e que parece ter surgido de lugar nenhum) até o trabalho de ambientação e captura dos momentos, no qual o diretor abraça a vergonhosa adoção de subir o volume até o máximo em cada momento feito para o público pular da cadeira (e grande parte desses são pulos que partem de sustos vagabundos) e insiste em manter sua câmera balançando pra cá e pra lá num ritmo incessante e descontrolado, como se a náusea, ou a tentativa de despertá-la, fosse o principal motivo para justificar a experiência como um passatempo supostamente assustador.

Se há alguma “inovação” desta vez, é no uso de novas tecnologias que permitem novas interações com a captura de imagens, isso desde câmeras individuais para cada personagem e até um drone que nos permite ter uma dimensão maior da vastidão da floresta. Mas Wingard também parece pouco interessado em explorar esta digitalização nas filmagens (o drone rapidamente se torna um elemento inútil), desperdiçando a oportunidade de variar nas tomadas de maior correria. Sabem a clássica sequência do original onde Heather corre ensandecida pela floresta escura? O formato é reprisado à exaustão aqui.

Levando a jornada a um desfecho absolutamente previsível, perdido no seu quê explícito e que sugere uma teoria que, se confirmada, derrubaria de vez a lógica interna da saga, é difícil falar sobre A Bruxa de Blair sem ser tão óbvio quanto o próprio filme. Há sim, espaços e brechas para que a lenda ainda renda novas explorações no cinema, e se render, que fuja de elementos tão retardados e ultrapassados quanto os vistos aqui.

Em meio a um ano em que o gênero terror se encontra num momento feliz, Bruxa de Blair será rapidamente e merecidamente esquecido ao acender das luzes.

Comentários (5)

Lucas Nunes | domingo, 18 de Setembro de 2016 - 00:44

O Tio concorda com tudo com que o Arthur disse.

Luiz F. Vila Nova | domingo, 18 de Setembro de 2016 - 08:51

Assisti o primeiro já sabendo não tratar-se de uma história real, adorei. Uma verdadeira viagem ao inferno, gradual, seca e visceral, onde a bruxa representa o demônio pessoal de cada um. Obra-prima. Já deste remake/reboot/sequência espero no máximo um bom entretenimento.

●•● Yves Lacoste ●•● | segunda-feira, 19 de Setembro de 2016 - 16:47

"...É tipo um cu sem chuca: começa bem delicinha, mas depois acabam passando o cheque..."

Rafael W. Oliveira

Luiz F. Vila Nova | segunda-feira, 26 de Setembro de 2016 - 16:58

O filme é quase uma auto-paródia do original, com sustos artificiais e excesso de "jumps scares". Só não é um desastre, porque na meia-hora final apresenta um nível de tensão satisfatório, com cenas bacanas e visualmente interessantes.

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