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Críticas

Cineplayers

Filme-discurso nada original, mas válido como reflexão.

7,0
Por motivos que nem eu mesmo consigo ainda explicar, assistir a A Bruta Flor do Querer me remeteu a uma certa percepção que tive quando assisti Cães de Aluguel, de Quentin Tarantino: nos 7 primeiros minutos, temos diversos rostos masculinos conversando e debatendo sobre o cotidiano banal, e em simples linhas de diálogos, é estabelecida ali uma certa camaradagem que, para quem já viu o filme, viria a ser destruída ao decorrer do filme. Falo disso pelo fato do filme de Dida Andrade e Andradina Azevedo passar esse mesmo sentimento, o de que é uma produção feita entre amigos, por meio de trancos e barrancos, algo ratificado quando ambos os diretores, também protagonistas da história, se “desnudem” diante da tela e assumem seu desabafo/reflexão sobre o que é o fazer e exibir cinema.

A história é basicamente sobre Diego (Dida), um recém-formado na faculdade de cinema entra num processo de desilusão quando tenta rodar seu primeiro filme, mas se vê diante de inúmeras dificuldades para isso, contentando-se com bicos como filmador de casamentos. Paralelo a isso, Dida se encanta por uma moça que trabalha em um sebo, despertando-lhe desejos carnais que também irão lhe acompanhar ao longo da narrativa. Nudez e exposição dos membros dos atores entram nesse pacote.

Sem lá muita sutileza, a própria estética, proposital ou não, denuncia o grito de Dida e Andradina sobre o que é e para que é seu filme. O estilo de filmagem é seco, a câmera se mantém constantemente próxima de seus personagens, a edição possui ares caseiros, o trabalho sonoro parece precário. É o típico cinema “vagabundo” que se orgulha e ostenta sua vibe, digamos, underground. Com isso, A Bruta Flor do Querer adquire ares de filme cool, estilizado, pop, quase uma ode ao cinema libertário, o que lhe confere uma certa densidade política até então inesperada.

Indo além, A Bruta Flor do Querer busca uma universalidade ao não se ater no discurso artístico, mas também humano, uma vez que o diálogos logo despertam reflexões sobre o que há de básico numa existência completa: amor, trabalho, a vida como um todo. Neste momento, temos um roteiro que peca ao esbarrar numa superficialidade ao sair de seu campo seguro (a metalinguagem), resvalando em frases se não bregas, certamente sem muito foco. Mas vale a tentativa.

Mas enquanto cinema de recursos limitados, A Bruta Flor do Querer é uma experiência valiosa, embora nunca original, mas que consegue falar sem “abrir a boca”, permitindo que a imersão discursiva surja entre a composição de suas imagens. Um belo exemplo de cinema falando de cinema.

Comentários (4)

Alexandre Carlos Aguiar | quinta-feira, 12 de Maio de 2016 - 13:30

É o típico filme que se tivesse sido escrito por um afegão e filmado por um iraniano, estaria disputando prêmios. Mas, reza a lenda que coisa verde-amarela é descartável.

Pedro H. S. Lubschinski | quinta-feira, 12 de Maio de 2016 - 13:45

"Interessante a lógica deste filme."

mas a lógica artistica ou a lógica cientifcia, especifica aí pa nóis, truta

Caio Henrique | quarta-feira, 18 de Maio de 2016 - 15:19

Achei válida a constatação do Pedro. Que lógica seria essa? Evidencie para nós Sr. Darswik

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